Preso em operação, marido de Perlla lucrou mais de R$ 2 milhões em um ano

Carros de luxo do grupo criminoso passaram por avaliação para serem leiloados, entre eles um Porsche

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Operação La Casa de Papel, da PF, apurou pirâmide com o uso de criptomoedas. (Fotos: DPF/Divulgação)

Patrick Abrahão Santos Silva, marido da cantora Perlla, preso durante a deflagração da Operação La Casa de Papel, em outubro de 2022, pela Polícia Federal, teria lucrado mais de R$ 2 milhões com uma empresa aberta no Rio Grande do Sul, no período de 1 ano.

Patrick e mais cinco – Ivonélio Abrahão da Silva, Diego Ribeiro Chaves, Fabiano Lorite de Lima, Cláudio Barbosa, Diorge Roberto de Araújo Chaves – viraram réus por organização criminosa, lavagem de dinheiro, operação ilegal de instituição financeira, gestão fraudulenta e crime contra o patrimônio da União e ambiental, no final de janeiro deste ano.

Segundo a denúncia do MPF (Ministério Público Federal) aceita pelo juiz da 3ª Vara Criminal Federal de Campo Grande no dia 25 de janeiro deste ano, Patrick lucrou R$ 2,494 milhões entre 2019 e 2020. O grupo que Patrick fazia parte aplicou um golpe de mais de R$ 4 bilhões.

O pai de Patrick, que é pastor e dono da Igreja Ministério Internacional Restaurando as Nações, movimentou mais de R$ 5 milhões entre fevereiro e março de 2021.

De acordo com a denúncia, a empresa de Patrick, Rede PP Consultoria foi criada para repassar os lucros aos investidores que eram atraídos por ele. O golpe aplicado pelo grupo criminoso prometia lucros de 500%. “No período de maio de 2019 a outubro de 2022, de forma sistemática e reiterada, dissimulou e ocultou a origem de valores oriundos da operação ilegal e fraudulenta de instituição financeira”, diz a denúncia.

Ainda segundo o MPF, “A empresa usada por Patrick Abrahão era utilizada como meio para atrair novos investidores, que passam a fazer parte da ‘equipe Rede PP’”. De acordo com a denúncia de 2017, a empresa que tinha R$ 69.043 saltou para R$ 5,2 milhões.

Nessa quinta-feira (9), foi nomeado leiloeiro para avaliação de carros de luxo apreendidos durante a operação; BMW, modelo 325 I, I/BMW X6 XDrive; I/Audi A5; Porshe Cayenne V6, Porsche Boxster e Range Rover.

Grupo virou réu

A denúncia contra o grupo foi aceita pelo juiz Bruno Cezar da Cunha Teixeira, da 3ª Vara Federal. Foi publicado despacho no Diário Oficial da Justiça Nacional, no dia 31 de janeiro deste ano, onde é relatada a existência de provas concretas da organização criminosa. 

Ainda segundo o despacho, a organização seria muito bem estruturada, onde cada integrante ocupava um ‘cargo’. Patrick é apontado como o principal captador de investidores para o grupo. Já Diego Ribeiro atuaria como presidente da Trust Investing, sendo o responsável pelos novos contratos. 

Fabiano é apontado como o diretor de marketing da empresa com a divulgação, Cláudio seria o diretor de tecnologia da Trust Investing. Diorge Roberto atuaria como o diretor financeiro da empresa e responsável pelo controle dos recursos captados dos investidores, segundo descreveu o juiz na sentença.

Na descrição do juiz, Patrick usava as suas redes sociais para ‘ensinar’ os seguidores a enriquecer investindo na Trust Investing. Ivonélio, pai de Patrick, além de diretor nacional da empresa, figuraria também como proprietário da igreja Ministério Internacional Restaurando as Nações, que era usada para atrair novos investidores. 

Ainda segundo a denúncia, as contas bancárias da igreja também eram empregadas em favor do esquema criminoso em tese.

“Constata-se, assim, que os fatos narrados são compreensíveis e estão suficientemente aclarados e individualizados (a necessidade de plena individualização ocorre ao cabo da instrução processual penal), assim como as imputações, o que assegura o pleno exercício do direito de defesa, dado que a peça cumpre com suficiência com os requisitos do art. 41 do CPP”, ressaltou.

Por fim, o juiz despachou: “Assim, com base no art. 396 do Código de Processo Penal, recebo a denúncia, pois verifico, neste instante de cognição sumária, que a acusação está lastreada em razoável suporte probatório, dando conta da existência das infrações penais descritas e dos indícios de autoria a elas correspondentes, caracterizando, com isso, a justa causa para a ação penal”.

La Casa de Papel apurou pirâmide financeira

O esquema, conforme a PF, envolvia o uso massivo de redes sociais, marketing, reuniões, instituições de líderes arregimentados e até o uso de uma instituição religiosa pertencente a um dos investigados.

A estrutura ajudava na captação de recursos para o que seria um golpe, embalado em pacotes de investimentos ou aportes financeiros. Estes iam de US$ 15 a até US$ 100 mil, em troca de ganhos diários em percentuais altíssimos (chegando a 20% ao mês e 300% por ano).

“Traders” seriam os responsáveis por multiplicar o capital investido e instigar quem já participava do esquema a chamar novos investidores. Isso mediante ganhos percentuais sobre os valores aplicados pelos futuros parceiros – em um sistema chamado de “binário”, mas que, na prática, funciona como uma pirâmide.

Com o tempo, foram incorporados ao esquema investimentos vindos de minas, do mercado de vinhos, viagens e usinas de energia solar e reciclagem, entre outros. Em paralelo, ostentavam para os seguidores nas redes sociais seu “sucesso pessoal”, por meio de viagens internacionais.

O grupo, então, lançou duas criptomoedas próprias no fim de 2021, sem que elas tivessem algum lastro financeiro. Segundo a PF, os suspeitos manipularam o mercado para valorizar uma delas automaticamente, chegando a 5.500% em 15 horas e 38.000% dias depois.

Essas moedas virtuais foram usadas também para pagar investidores. Contudo, depois da alta meteórica, elas perderam todo o valor de mercado, levando à queda quase completa da liquidez.

A La Casa de Papel foi às ruas em 19 de outubro de 2022. Foram expedidos 6 mandados de prisão preventiva contra os líderes da organização criminosa e 41 de busca e apreensão no Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, Goiás, Maranhão e Santa Catarina.

Foram bloqueados valores em contas bancárias, imóveis de alto padrão, gado e ovelhas, veículos de luxo, ouro, joias, artigos de luxo, lanchas e criptoativos, bem como uma mina de esmeraldas.

Na operação, ganhou notoriedade a prisão do empresário e cantor Patrick Abrahão. Casado com a cantora Perlla, ele foi detido em um condomínio de luxo no Rio de Janeiro.

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