Pandemia provocou migração de crimes e golpes virtuais quadruplicam em Mato Grosso do Sul

Delegado explica que bandidos deixam roubos e furtos para aplicar golpes na internet

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Transferência foi feita por meio de PIX (Ilustrativa)

Crime praticado por golpistas, no qual enganam vítimas para obter algum tipo de vantagem, na maioria dos casos em dinheiro, o estelionato tem crescido cada vez mais no mundo. Em Mato Grosso do Sul, esse número quadruplicou nos últimos 9 anos. Em 2022, foram registrados cerca de 35 boletins de ocorrência por mês. Nos 12 primeiros dias de 2023 já foram 255 casos registrados, o que corresponde a 21 casos por dia.

O número de vítimas é ainda maior. Em 2022, foram 13.627 vítimas, enquanto em 2021 foram 12.393 e em 2020 quase a metade, sendo 7.694.

O crescimento desse crime se dá a vários pontos, segundo o delegado de Polícia Civil, Ricardo Meirelles, entre eles, o desenvolvimento tecnológico, que se tornou ainda mais acessível e a pandemia que deu um ‘up’ para que a população optasse por fazer de tudo através da internet, seja mexer com contas, bancos, e-comerce entre outros. “Para os criminosos é algo rentável, que dá maior lucro e eles correm menos riscos, se mantendo no anonimato da internet, por isso migram do furto e roubo”, explicou o delegado.

“Dá para contar nos dedos as pessoas que baixam aplicativo de antivírus no celular, faz uma verificação em duas etapas nas redes sociais, anotam senhas em locais seguros, ou que tenham algum tipo de proteção. É muita informação sem proteção. A internet é mais cômodo, mas em que se proteger assim como faz pessoalmente, quando sai de casa a noite, quando sai do carro e fecha as portas e janelas. Na internet tem que fazer pesquisa de proteção de dados e informação”, informa Meirelles.

Dentro do crime de estelionato, há ainda a qualificação de fraude eletrônica, quando é cometido por meio do aparelho celular ou computador, através de ligação telefônica ou pelas redes sociais. Para o estelionato, a pena é de 1 a 5 anos de prisão. Já para fraude eletrônica, a pena varia de 4 a 8 anos de prisão.

Apesar da Dedfaz (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Defraudações, Falsificações, Falimentares e Fazendários) investigar esse tipo de crime, eles não se restringem a ela. As outras 7 delegacias espalhadas pela cidade registram e investigam os casos conforme a localidade de moradia da vítima.

Casos de estelionato registrados em 9 anos, conforme dados do Sigo, mostram aumento em 2022 (Sejusp/MS)
Número de vítimas do crime de estelionato em três anos, segundo dados do Sigo (Fonte: Sejusp/MS)

Vítimas

Ao contrário de antigamente, quando as pessoas de mais idade eram as principais vítimas desse tipo de crime, com o avanço da tecnologia e migração dos criminosos, atualmente pessoas de todas as idades têm se tornado vítimas, basta ter acesso à internet.

“A pessoa que tem acesso à internet é vítima em potencial. Todos nós somos humanos passíveis de cometer erros, mas temos que desconfiar de tudo”, explica.

Ao Jornal Midiamax uma mulher, de 55 anos, que preferiu não se identificar, foi vítima de golpistas recentemente. Bastante abalada, a vítima calcula como pagará o prejuízo que teve de R$ 7,7 mil. No caso dela, o golpe aconteceu pessoalmente.

“Me sinto envergonhada. Na hora a gente cai na história sincera deles que nem lembra dos golpes que falam para a gente não cair na televisão”, lamentou.

Na boa intenção de ajudar, a mulher caiu em um golpe do bilhete premiado. Dois homens fingiram que não se conheciam e apresentaram um bilhete supostamente premiado da Caixa Econômica Federal no valor de R$ 10 milhões. O dono do bilhete era um senhor que disse que não sabia ler e não tinha documentos e pediu ajuda do ‘comparsa’ e da vítima para que pudesse retirar o prêmio.

Um dos autores fez um empréstimo no nome da vítima com a sua consciência, mas ficou com o dinheiro na garantia de que o bilhete ficasse com a mulher. O golpe foi descoberto após a mulher ir até uma farmácia comprar remédio para um dos autores que passava mal e ao retornar, ambos haviam fugido com o dinheiro da vítima e o tal bilhete premiado.

“Eu não sei como vou pagar esse empréstimo. Eu ganho mil reais por mês e ainda gasto com remédios. Entrei em desespero e ainda estou desesperada. Chorei tanto. Fui no banco, expliquei a situação e me aconselharam a fazer o boletim de ocorrência”, explicou a mulher. “Eu não sei como fui cair nessa. Mas eles te envolvem em uma história e vão te cercando, que você acaba aceitando tudo”, contou.

(Ilustrativa)

Golpes

Criminosos migram todo tempo de golpes, tudo para conseguir vantagens em cima de outros. Atualmente há vários tipos de estelionato, entre eles os mais comuns como o golpe do falso Pix, onde o estelionatário ‘compra’ algo da vítima e realiza o pagamento via Pix, mas apresenta um comprovante falso.

Há ainda golpe do falso relacionamento, do perfil falso do WhatsApp, do cartão clonado, do falso link, assim como da renegociação de dívidas, falso boleto, falso leilão, comércio eletrônico e extorção.

Entre eles, um que tem sido bastante comum, segundo o delegado Meirelles, consiste na pessoa que tem um perfil com bastante seguidores, perder o acesso ao perfil. O golpista começa a divulgar itens e móveis à venda. Os seguidores acabam “comprando”, fazem o pagamento, mas não recebem o produto.

Outro bastante comum é do intermediador de compra e venda. Como é o caso de um homem que foi vítima na quarta-feira (11) em Campo Grande. Conforme o boletim de ocorrência, havia o anúncio em um site de um veículo Honda HRV no valor de R$ 80 mil. O suposto garagista entrou em contado com o vendedor dizendo que tinha um cliente interessado. Ambos combinaram de ver o veículo e foi acordada a venda.

A dupla foi até um cartório na região central. O golpista enviou um comprovante falso de R$ 79 mil para o vendedor e pediu para que o comprador o pagasse o valor de R$ 55 mil que havia acordado na negociação com o autor.

A descoberta do golpe ocorreu após o vendedor constatar que não recebeu nenhum valor nem do comprador, nem do intermediador e por este motivo não entregou o recibo do veículo. Aguardou ainda por três horas, mas o valor não foi depositado. Na delegacia, apresentou ainda prints da negociação com o golpista e o falso comprovante.

Baixar aplicativo de antivírus e fazer a verificação em duas etapas ajuda na prevenção de golpes (Divulgação)

Prevenção e investigação

Conforme Meirelles, crimes como este não são tão fáceis de investigar e solucionar, já que ocorrem por meio da internet e muitas vezes o criminoso não é da cidade, estado ou país. Não há dados de quantos deles são solucionados, mas uma boa expectativa.

“A polícia percebeu esse aumento e tem investido na investigação desse crime. Há setores em todos os 7 distritos policiais da Capital com cartórios e especialistas no combate a esses crimes e temos tido um bom índice de solução”, disse.

Ele ainda concluiu com alertas e dicas para evitar cair nesses golpes e a principal delas é desconfiar de tudo.

“Tudo que oferece algum ganho exorbitante e tempo curto é desconfiável. Esses ‘bons negócios’ sempre é bom ficar esperto. Checar a informação primeiro. Desconfiar do elemento [valor + tempo], o golpista oferece valor atrativo e quer resolver tudo na hora, com pressa. Peça um tempo, resolva no outro dia, enquanto isso cheque a informação, pesquise. Se a pessoa desistir quando pedir um tempo, a chance de ser estelionatário é grande”, alerta.

Entre outras dicas está a verificação das redes sociais em duas etapas, no Instagram, Facebook e WhatsApp. Senhas de aplicativos e bancos devem ser guardadas sempre em outro local seguro e se possível que sejam senhas mais complexas. Além disso, é indicado baixar antivírus no computador e aparelho celular.

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