Na região mais tranquila da cidade, Nova Lima continua com fama de perigoso
Moradores confirmam dados da polícia e garantem que região do Segredo é a menos violenta de Campo Grande
Ana Oshiro –
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Localizada no norte de Campo Grande, a região do Segredo é apontada como uma das mais tranquilas da Capital, de acordo com a Polícia Militar. Apesar dos moradores confirmarem a informação, o Bairro Nova Lima ainda chama atenção no quesito insegurança.
O Jornal Midiamax publica nesta semana uma série de reportagens sobre a segurança pública nas 7 regiões urbanas de Campo Grande. Neste domingo (12), você confere os detalhes da região do Segredo, a última da série.
Morando desde os anos 90 no Nova Lima, o comerciante Valdecir Milagres, de 54 anos, afirma que o local não é tranquilo, mas se andar na linha, não mexer com coisa errada e não dar bobeira, nada acontece.
“Tranquilo não é não, mas se você é de família e se não ficar na rua fora de hora, é bom viver aqui sim. Tem muita bandidagem de noite, é perigoso e meio violento.”, disse ele, complementando que o maior problema são os furtos e usuários de drogas.
“Já furtaram minha casa com a gente dentro, esqueci o portão meio aberto uns minutos e levaram umas coisas da garagem, mas depois disso eu não fico dando bobeira mais, a sua segurança é você que faz”, comentou Valdecir.
Com um comércio de plantas recém-aberto na Avenida Jerônimo de Albuquerque, uma das principais do Nova Lima, ele nunca teve problema de furtos ou roubo na loja. “Gosto da região, a gente tem tudo que precisa, o bairro atende bem a gente. É só não dar bobeira, não ficar andando fora de hora”, finalizou o comerciante, afirmando que não tem vontade de se mudar.
Autônoma de 36 anos, que preferiu não ser identificada, diz que o bairro não é seguro e falta policiamento. “Tem um posto da PM ali, mas fica mais fechado do que aberto. Os alunos da escola Lino Villachá fumam maconha na esquina, na frentes dos policiais, e eles não fazem nada”, reclama.
De acordo com ela, que mora no Nova Lima há 9 anos, roubos e furtos são os crimes mais cometidos, principalmente nas casas que ficam vazias durante o dia. “Algumas pessoas pagam um guarda pra fazer ronda e garantir a segurança”, disse.
Comerciante de 18 anos, dona de uma pastelaria, contou ao Jornal Midiamax que diariamente ouve clientes comentando de crimes na região, mas que com ela nunca aconteceu nenhum tipo de problema. “Pessoal reclama bastante, principalmente quem mora mais pra dentro do bairro”, explica.
Além do Nova Lima
A região Segredo abrange ainda outros seis grandes bairros, sendo Mata do Segredo, Coronel Antonino, Nasser, José Abrão, Monte Castelo e Seminário. Segundo o último censo do IBGE, 108.962 habitantes vivem na região.
Desses seis, a reportagem visitou a metade e todos os entrevistados afirmaram que a tranquilidade reina na região. “Não existe crime aqui, difícil ter algum. Pode andar tranquilo, de dia, de noite, por isso eu moro aqui tem mais de 50 anos”, conta uma dona de casa, de 73 anos, que mora no Seminário.
“As crianças brincam na rua, o carro ali ó, aberto, com chave dentro enquanto a gente tá aqui conversando. Até um tempo atrás minha casa não tinha muro e mesmo assim nunca entraram, é a vila mais tranquila da cidade”, completou a idosa.
Segundo ela, o bairro é tão seguro que uma vizinha viajou de férias há um mês e ninguém entrou na residência para tentar furtar. “E o muro dela é baixo, sem cerca elétrica e sem câmera”, finalizou.
No meio da tarde o que se vê no bairro é tranquilidade, com as pessoas sentadas em frente às casas conversando e tomando tereré. Entre elas está uma aposentada de 87 anos e a filha, de 64, que também elogiam a região.
“Sempre passa viatura, é tranquilo demais, graças a Deus. Uma única vez, anos atrás, roubaram a TV aqui de casa, eu tava dormindo na rede, na varanda, e nem vi entrando. Não mexeram em mais nada, pegaram a tv e só. Mas tem muito tempo e foi só vez”, comentaram.
Ainda no Seminário, na Comunidade Tia Eva também não há reclamações de crimes, e quando alguém suspeito aparece, todos ficam alertas. “Quando tem alguma coisa é gente de fora que vem fazer bagunça”, afirma a senhora de 59 anos que mora há 30 na Rua Eva Maria de Jesus.
A filha dela, Grazi, de 26 anos, complementa ainda que um cuida do outro na comunidade. “Somos todos parentes praticamente, todo mundo se conhece e cuida da casa um do outro. Se alguém estranho aparece, a gente já avisa no grupo e todo mundo fica de olho”, disse Grazi.
Polícia na vizinhança
No Coophasul, bairro onde fica localizada a 11ª CIPM (Companhia Independente da Polícia Militar), responsável pela região Segredo, os moradores são só elogios e afirmam que o local é extremamente seguro.
“Moro aqui tem 40 anos, hoje tenho 60 e amo viver aqui. Não tem preocupação com crime, posso caminhar e ir visitar meus vizinhos pra conversar tranquilamente. É uma calmaria só”, contou a aposentada que se identificou como Sônia, a caminho de uma visita à amiga.
“Às vezes a gente ouve falar de um furto ou outro, mas nunca é um crime preocupante. O que atrapalha, de vez em quando, é barulho de gente fazendo festa, bagunça, mas é mais no final de semana”, explica um comerciante de 47 anos.
Para quem mora no José Abrão crimes também são raridade, segundo a vendedora Aparecida. “É difícil ter alguma coisa aqui, viu, mas quando tem é furto, que o pessoal costuma nem registrar porque geralmente acontece bem cedo, aí tem que ir lá na delegacia do centro e não compensa”, conta.
Thiago, de 27 anos, mudou recentemente pro bairro, mas contou que além do trabalho perto, a segurança na região foi um dos motivos para morar no José Abrão. “Tem pouco mais de três meses que tô morando aqui com minha esposa, viemos do Aero Rancho porque mudei de emprego e estamos gostamos muito, é bem tranquilo mesmo”, disse o mecânico.
“A região Segredo é uma das regiões mais seguras da Capital. José Abrão, Coophasul e Seminários são os bairros mais tranquilos mesmo. A quantidade de população é o que define a quantidade de ocorrência, então onde tem mais gente, tem mais crime, por isso o Nova Lima realmente é o que tem mais demanda policial hoje”, explica a Tenente-Coronel Natally Rocha dos Reis Sá Braga, comandante da 11ª CIPM.
Incentivo ao crime e descrédito policial
Trabalhando na Polícia Militar desde 2006, a tenente-coronel acredita que a maior dificuldade atual para a segurança pública, no geral, é o incentivo ao crime que existe no Brasil e o descrédito policial.
Segundo ela, as pessoas não acreditam mais que um crime de furto ou roubo, por exemplo, vai ter solução, então nem noticiam à polícia. “Às vezes a gente chega pra reunião com a comunidade e meus índices mostram que tá tudo bem, mas os moradores reclamam de furtos na região. Se não tiver registro policial, não tem como a gente aumentar a ronda naquela área, porque nós nos baseamos em dados”, explica.
“A gente faz tudo e um pouco mais pra atender a população, mas somos só uma ponta do sistema. Hoje a maior dificuldade é esse incentivo ao crime que a gente tem no Brasil. Hoje o crime, no Brasil, compensa. Porque quando alguém comete um crime dificilmente vai ficar preso”, desabafa a comandante.
Natally explica que uma pessoa presa pela Polícia Militar tem diversas chances de ganhar liberdade em pouco tempo, já que na delegacia pode ser solta se o delegado entender que não foi em flagrante. Outras alternativas são o pagamento de fiança e a audiência de custódia.
“Hoje a audiência é feita exclusivamente para defender os direitos dos criminosos. Se a pessoa for presa pode entrar com vários recursos, por exemplo, e logo vai sair do regime fechado para o semiaberto. O crime é extremamente articulado e o sistema atual faz com que o criminoso tenha certeza que o crime compensa.”, detalha a comandante.
De acordo com Natally, muitos criminosos são pessoas recorrentes no crime, seja furto ou tráfico, quase sempre são pessoas conhecidas dos policiais. “Já tivemos muitos casos do criminoso não ficar preso nem o tempo de folga do policial, a gente prende e logo vemos eles praticando crime de novo.”, desabafou a tenente-coronel.
Índices
Conforme os dados da Polícia Militar, as principais ocorrências na região Segredo são de perturbação do sossego, geralmente associadas com bebidas alcoólicas, violência doméstica, vias de fato e furtos.
“Perturbação do sossego ganha fácil, são reclamações em casas, bares, conveniências, festas. Ajudaria se esse tipo de demanda diminuísse pra gente atender outros tipos de ocorrência com mais atenção. Se uma viatura está atendendo uma perturbação do sossego não tem como largar o atendimento no meio pra ir em outra ocorrência mais grave, por exemplo”, explicou a comandante.
Para o delegado titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil, Rodrigo Yassaka, os boletins registrados com mais frequência são os de fraudes eletrônicas e golpes, na sequência furtos e roubos, principalmente cometidos por usuário de drogas.
“A droga é o plano de fundo pra maioria dos crimes que acontece. O cenário que acontece na região central é o mesmo que acontece aqui e nas outras. Os furtos, principalmente, a grande maioria é praticada por pessoas que precisam sustentar o vício”, disse Yassaka.
Na planilha abaixo é possível conferir alguns dados divulgados pela Polícia Militar sobre o trabalho na região nos dois últimos anos, 2021 e 2022.
Conselhos e denúncias
Pouco usado pela população, a Polícia Militar conta um Disque Denúncia através do número 181. A ferramenta permite que o cidadão ajude a esclarecer e evitar crimes pela cidade. O 181 funciona ininterruptamente 24 horas por dia.
“Ainda é pouco utilizado, mas é de extrema importância pro nosso trabalho. Todo tipo de denúncia pode ser feita lá, o anonimato é garantido. Se você não tem todas as informações de um crime, não tem problema, só de passar uma informação básica já podemos monitorar e resolver um problema antes que ele fique maior”, disse a tenente-coronel Natally.
Ela ainda reforça que a Polícia Militar sempre realiza reuniões com os conselhos comunitários de segurança de cada bairro e pede que mais pessoas façam parte dessas reuniões. “A ideia é que todos possam contribuir, participem das reuniões, nós já temos um contato muito próximo com a comunidade, mas quanto mais gente participar, mais poderemos combater o crime de forma efetiva”, finalizou.
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