Pular para o conteúdo
Polícia

Ice, GHB e poppers desafiam o combate ao tráfico, que ainda se sustenta com maconha e cocaína

Drogas sintéticas dominam a noite de Campo Grande e exigem trabalho constante da polícia
Anna Gomes -
Maconha ainda é a mais apreendida em Campo Grande (Foto: Marcos Ermínio, Midiamax)

Combater um vício não é uma tarefa fácil. Uma pessoa que é viciada em drogas tem dependência física e psicológica que causa danos à saúde e pode afastar um dependente químico de seu convívio social. Em , a maconha e cocaína ainda dominam as apreensões, mas as drogas sintéticas vêm tomando espaço e desafiam o trabalho de repressão da polícia.

Para tentar barrar a facilidade no acesso aos entorpecentes, a (Delegacia Especializada de Repressão ao Narcotráfico) realiza um trabalho constante tentando impedir o tráfico em Campo Grande. Segundo o delegado titular Hoffman D’Avila Candido, os entorpecentes mais consumidos e sucessivamente mais apreendidos em Campo Grande são a maconha e a cocaína.

As drogas sintéticas, que o Jornal Midiamax mostrou na primeira reportagem da série sobre o ciclo do vício da droga, circulam cada vez mais nas baladas da Capital. O entorpecente é produzido em laboratórios clandestinos a partir de uma ou várias substâncias químicas.

O delegado explica que em 2022 o número de apreensões de maconha triplicou em relação ao mesmo período de 2021 em Campo Grande. E a cocaína também multiplicou as apreensões. Só nos primeiros 20 dias do mês de janeiro deste ano, também houve mais cocaína apreendida que todo o ano passado em Campo Grande.

“O que é mais comum em Campo Grande é a maconha. O número de apreensões dessa droga triplicou. A cocaína também teve aumento significativo nas apreensões e prisões de traficantes. Também estamos realizando apreensões das drogas sintéticas, mesmo em número menor, elas estão circulando pela Capital”, disse.

Drogas sintéticas apreendidas em Campo Grande em 2020 (Foto: Midiamax, Arquivo)

LSD, GHB e poppers: as drogas sintéticas

Siglas, nomes em inglês ou apelidos dominam o vocabulário quando o assunto são as drogas sintéticas. Entre as identificadas em Campo Grande estão LSD, GHB, , anabolizantes, ice, quetamina, inalantes, efedrina, poppers.

Diferente da maconha e cocaína, que é distribuída por traficantes e geralmente em grandes quantidades, os entorpecentes sintéticos que dominam cada vez mais as baladas se destacam pelo processo de distribuição diferente, que desafia a polícia.

O titular da Denar explica que os traficantes especializados na droga sintética buscam evitar aglomeração em residências e bocas de fumo e, por isso, criam canais de comunicação para facilitar a venda.

“Esse fato atrapalha um pouco o trabalho realizado pela polícia, pois demanda de uma investigação de inteligência de campo para juntar elementos necessários para realizar uma busca e uma prisão. Não é um ponto comum que conseguimos fazer um trabalho de campana ou que recebemos denúncias”, destacou.

Titular da Denar, delegado Hoffman D’Ávila (Foto: Midiamax, Arquivo)

Pasta-base, a droga que definha o usuário

Maconha, cocaína, sintéticas… além de todas essas drogas, a pasta-base é um dos entorpecentes que ainda desafia o poder público porque circula em locais de alta vulnerabilidade social e literalmente definha o dependente.

A pasta-base é feita com restos do refino da cocaína e durante seu preparo os traficantes chegam a usar até solução de bateria de carro para fazer “render” a droga no menor custo possível.

O delegado Hoffman também faz um alerta para a droga que é uma das mais viciantes e perigosas.

“A pasta-base é um derivado da cocaína e demora segundos para a pessoa sentir efeito. Ela tem uma mistura de muita química e é viciante. O usuário vai definhando, não come, não dorme e fica igual um andarilho. É uma droga bem complicada, pois as pessoas roubam a própria família para sustentar o vício”, alertou.

Drogas em números

Em 2021, a Denar apreendeu 8 toneladas de maconha. No ano seguinte, o número quase triplicou e chegou a mais de 22 mil toneladas. Só nos primeiros dias de janeiro de 2023, a Capital já soma 500 kg.

A segunda droga mais apreendida, a cocaína, também teve aumento. Em 2021, foram 488 kg apreendidos. Em 2022, o número caiu para 300 kg. O mês de janeiro de 2023 totaliza um número maior que todo o ano passado. Até o dia 20, a Denar apreendeu 370 kg do entorpecente.

Nos anos anteriores, a Denar apreendeu grande quantidade de micropontos de LSD. O número de comprimidos de ecstasy apreendidos apresentou queda. Em 2021, foram 488, sendo 193 no ano passado.

maconha
Apreensões de maconha e cocaína são as mais frequentes em Campo Grande (Foto: Marcos Ermínio/Midiamax)

Trabalho preventivo faz a diferença

Quando uma pessoa sofre com um vício, é comum que ela consuma a substância com uma frequência exagerada, podendo ser todos os dias ou até mesmo mais de uma vez por dia. Quando o efeito da droga passa, o corpo sente a falta da substância e surge uma série de efeitos colaterais que fazem com que a pessoa volte a consumir a droga. É a chamada abstinência.

Contudo, se a pessoa conseguir se manter afastada da substância por tempo o suficiente, a abstinência tende a passar. Isso significa que o organismo não está mais sentindo a falta da droga. Ainda assim, a pessoa pode sentir uma vontade quase incontrolável de usar o entorpecente. Essa vontade é popularmente conhecida como “fissura”. Quando isso acontece, estamos falando de uma dependência psicológica.

Enquanto a abstinência é facilmente tratada pela abstenção da droga, a dependência psicológica é mais difícil de lidar. É preciso tratamento adequado com uma equipe multidisciplinar, incluindo profissionais da saúde mental como psicólogos e psiquiatras.

Eduardo Gomes é psiquiatra e coordenador da saúde metal da (Secretaria Municipal de Saúde). Ele diz que é necessário não fazer uma diferenciação entre drogas lícitas e ilícitas. Realizar um trabalho preventivo faz toda a diferença na sociedade.

“É uma diferenciação política e até moral que as pessoas fazem. O álcool, por exemplo, tem uma questão social e é algo naturalizado na sociedade. Criam a ideia que sem álcool não tem festa, mas a gente percebe que além de ser uma porta para outros entorpecentes, ele também ajuda no aumento de acidentes e homicídios. Se conversar com quem usa cocaína, a pessoa vai responder que sente mais vontade de usar o entorpecente após o uso do álcool”.

Carlos Eduardo é coordenador de saúde mental da Sesau (Foto: Ascom Santa Casa, Arquivo)

Propícias ao vício

Concordando com o posicionamento do delegado, o psiquiatra também aponta a pasta-base como uma droga que é necessária maior atenção, já que é extremamente viciante. Ele também destaca que existem pessoas mais propícias ao vício.

“Geralmente as pessoas começaram usando cocaína, mas por ser uma droga cara, elas começam a usar a pasta-base, fator que causa um quadro de dependência muito grande. Existem pessoas mais predispostas ao vício. É como se o funcionamento cerebral fosse mais sensível”.

Além do álcool, Eduardo também faz um alerta para o cigarro, o qual tem um alto potencial de dependência. Os cigarros eletrônicos fizeram o número de dependentes voltar a subir nos últimos anos.

“No Brasil nas décadas de 70 e 80 existia um grande número de fumantes. Depois começaram medidas obrigatórias nas embalagens relatando sobre os riscos e tivemos uma queda no uso. Agora com os cigarros eletrônicos já estamos percebendo um aumento significativo no vício. É muito prejudicial, pois pode não só deixar o indivíduo com dependência, mas também problemas pulmonares e outras enfermidades”, explicou.

O psiquiatra ainda faz um alerta para os jovens para que não entrem no ‘mundo das drogas’, pois, inicialmente, o uso de entorpecentes provoca bem-estar e felicidade, o que faz com que a pessoa sinta vontade de usá-lo novamente. Entretanto, o consumo repetitivo e a longo prazo dessas substâncias pode causar efeitos bastante nocivos à saúde e vida do usuário como um todo.

Em relação à saúde, neurônios que garantem um bom funcionamento da atividade cerebral podem sofrer lesões irreversíveis, diminuindo a capacidade de pensar e raciocinar. Além disso, outros transtornos mentais podem surgir como depressão, Síndrome do Pânico e esquizofrenia.

Confira no decorrer desta semana a série de reportagens do Jornal Midiamax sobre o ciclo das drogas em Campo Grande, do uso recreativo nas festas até o fundo do poço onde vivem aqueles que não conseguem se livrar do vício e perdem tudo.

Compartilhe

Notícias mais buscadas agora

Saiba mais
Greve UFMS

UFMS oferta cem vagas para cursinho pré-vestibular

Aluguel de ambulâncias poderá custar até R$ 1 milhão para Bodoquena

Mariane Heller: saiba quem é a nova namorada nutricionista de Duda Nagle

Grupo tenta invadir terreno particular no Centenário pela segunda vez em menos de um mês

Notícias mais lidas agora

Com inspeção vencida, 57 ônibus do Consórcio Guaicurus podem ser retirados das ruas de Campo Grande

Adolescentes entre 12 e 15 anos lideram conflitos escolares em Campo Grande

VÍDEO: Guardas espancam e arrastam jovem que estava amarrado em abordagem

Justiça reclassifica como homicídio doloso caso de marceneiro morto por PM em SP

Últimas Notícias

Famosos

Irmã de Zé Felipe dá opinião sincerona sobre término com Virgínia: ‘Não fiquei triste’

Irmã de Zé Felipe, Jéssica Beatriz Costa botou a boca no trombone e deu sua opinião sobre o término do cantor com Virgínia Fonseca

Cotidiano

Vai sair? Confira os trechos interditados em Campo Grande

Neste fim de semana diversos trechos estarão com interdições para obras, eventos e festas julinas

Polícia

VÍDEO: Câmera de segurança flagrou tentativa de assassinato em conveniência no Jardim Parati

Vítima foi esfaqueada em várias partes do corpo e encaminhada para uma UPA; suspeito ainda não foi localizado

Política

Taxação americana, eleição ‘express’ e cortes de gastos por obras marcam semana política

O Midiamax resume os principais acontecimentos e como eles repercutiram nas esferas do Poder