Em presídio, salgadeira que esquartejou marido diz que sofria abusos e tortura psicológica

Defesa pediu para que ela preste novo depoimento na delegacia e tentará uso de tornozeleira eletrônica

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Foto: Divulgação / PCMS

A defesa da idosa, de 61 anos, acusada de esquartejar o marido Antônio Ricardo Cantarin, de 64, e jogar partes do corpo em uma rodovia, na cidade de Selvíria, a 399 quilômetros de Campo Grande, entrou com pedido para que ela prestasse um novo depoimento na delegacia, na última quarta-feira (31). Alegando contradições na versão inicial, a idosa afirmou ao advogado, de dentro do presídio, que sofria abusos sexuais e tortura psicológica há um ano e sete meses, tempo em que estiveram casados.

Segundo o advogado de defesa Júlio Sanches, em entrevista ao Jornal Midiamax, a versão de que a idosa teria cometido o crime por estar cansada de cuidar de Antônio não é a verdadeira. Durante visita feita à cliente, nesta sexta-feira (2), a autora relatou o que acontecia entre o casal.

“Ela era ameaçada e abusada sexualmente pelo marido, que a forçava a ter relação sexual, e também afirmou que sofria tortura psicológica. Ele dizia que, caso ela negasse, iria matar ela e a filha”, disse o advogado.

Quando questionado se a idosa não procurou a polícia para registra boletim de ocorrência contra o marido, o advogado explica que ela teria medo das ameaças feitas. “Ela não registrou porque, como a maioria das vítimas de violência, em decorrência do casamento, não tem coragem de registrar justamente por serem ameaçadas”, afirma Júlio.

A idosa ainda explicou durante a visita que, após matar Antônio, ela não teria forças para carregar o corpo sozinha e, por isso, teria contratado duas pessoas para colocar a mala no carro dela. “Ela pediu para colocarem no banco de trás, porque daí precisaria só empurrar. No porta malas ela não conseguiria tirar”.

Em relação a ter armazenado os membros no freezer em que usava na preparação de salgados, o advogado explica que a idosa alegou ter colocado em compartimentos separados dos alimentos. “O tronco ela disse que não conseguiria congelar e por isso se desfez primeiro”, explica.

A idosa segue em um presídio do interior de MS, passando por tratamento médico. “Ela já fazia tratamento psiquiátrico antes dos fatos e continua tomando remédio controlado”, diz a defesa, que deve pedir para revogação da prisão preventiva e aplicação de medidas cautelares, como uso de tornozeleira eletrônica.

Corpo colocado em mala

Antônio morreu depois de tomar veneno de rato dado pela esposa, que acabou presa após a descoberta do crime. Além de matar, a mulher também esquartejou o corpo do marido e guardou partes em um freezer, que também era usado para guardar salgados e outros itens que ela vendia.

A mulher teve a prisão preventiva decretada do domingo (28), após passar por audiência de custódia. Segundo o delegado Felipe Rocha, a idosa disse ter dado veneno de rato para o marido por volta das 10 horas da manhã do dia 22 deste mês, sendo que Antônio morreu por volta das 18 horas.

O idoso passou mal na cama do quarto por um período de pelo menos 8 horas. Em depoimento, a salgadeira disse que depois de dar o veneno para o marido, ia de 10 em 10 minutos ao quarto para ver se Antônio tinha morrido.

Após perceber que o marido estava morto, já que ele ficou com olhos vitrificados, ela colocou um lençol em cima do corpo e foi dormir em outro quarto da casa. Só no dia seguinte, preocupada com o que iria fazer com o corpo de Antônio, ela resolveu esquartejar a vítima. 

Acusações de estupro

Antônio já respondeu pelo crime de estupro de vulnerável contra uma criança de 11 anos em agosto de 2020. A mãe da vítima, que é conhecida da família de Antônio, informou que, no dia do crime, acontecia um almoço em família na casa dela e Antônio estava entre os convidados. Ela teria estranhado o fato da filha estar nervosa na presença do idoso.

Após as visitas irem embora, a mulher foi conversar com a filha para saber o motivo dela estar nervosa. Assim, a menina, que na época tinha 11 anos, relatou que Antônio teria mostrado seus órgãos genitais e passado as mãos nas partes íntimas dela.

A vítima ainda disse que Antônio “ficava pedindo para ela pegar em seu órgão genital”, e que os abusos ocorriam há cerca de dois anos.

Segundo a mulher, Antônio teria retornado após o almoço na casa dela, já no período da noite, portando uma faca e insistindo para conversar com ela. A mulher afirmou que Antônio sabia que o marido dela não estaria em casa, já que trabalha a noite.

A mãe da criança acredita que Antônio teria voltado no imóvel “com o intuito de fazer alguma maldade”, pois ela teria dito a ele que iria procurar a delegacia para contar o ocorrido com a filha, além de contar para o marido quando ele retornasse do serviço, pela manhã. O caso foi registrado como ameaça e estupro de vulnerável.

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