Em 5 anos, mais de 10 mil motocicletas foram furtadas em Mato Grosso do Sul
Ainda segundo dados da Sejusp, mais da metade das motocicletas subtraídas por furto ou roubo foram recuperadas, cerca de 55,85%
Mirian Machado –
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“Facilidade em reintroduzir no mercado”, esse é o principal ‘motivo’ para os crimes de furtos e roubos de motocicletas em Mato Grosso do Sul, segundo a polícia. Os principais alvos são veículos de modelos populares, justamente pela facilidade ainda maior de venda. Em cinco anos, foram 11.919 roubos e furtos de motocicletas no Estado, 10.795 só de furtos. Pouco mais da metade é recuperada, cerca de 55,85%, conforme dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública).
O maior número de furto de motocicleta aconteceu em 2018 quando foram subtraídos 2.476 veículos. Em 2019, o número teve uma leve reduzida, caindo para 2.226. Já no ano seguinte, ano de pandemia 1.922 motos foram furtadas. Em 2021, foram 1.839, porém em 2022 os números voltaram a subir, sendo 2.332 motocicletas furtadas.
Conforme a polícia, os criminosos geralmente não agem sozinhos nesse crime. São organizações, associações criminosas que vão desde a pessoa que identifica o local, vê a motocicleta em uma situação de facilidade para o cometimento do crime e subtrai o veículo. A moto é levada para um local, entregue a um receptador que coloca o veículo à venda em sites e na maioria das vezes nas redes sociais.
“Geralmente são vendidas como BOB, que são aqueles veículos comercializados abaixo do valor de mercado. As pessoas pecam em não checar a procedência. Não basta consultar a placa. Os criminosos colocam a venda uma motocicleta que não tem registro de furto ou roubo. Muitas vezes vendem o veículo antes mesmo do proprietário se dar conta do furto”, explicou o delegado titular da Defurv (Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos), Ricardo Meirelles.
O delegado ainda disse que os criminosos procuram mais pelos modelos populares, pois são os mais vendidos e com isso facilita para o receptador a introdução do veículo no mercado novamente para o consumidor.
O crime acontece principalmente nesse modus operandi de revender o produto e muitas vezes está associado ao tráfico e uso de drogas, pois um usuário pode realizar o furto, entregar o veículo em uma boca de fumo e de lá o veículo é vendido nas redes sociais.
Casos recentes
A história do furto da motocicleta da Flávia Zaffonatto rendeu prejuízo para ela e para a pessoa que comprou o veículo. A moto, uma Factor 150, foi furtada no centro de Campo Grande no dia 31 de maio, foi vendida no dia 2 de junho e recuperada dia 6 de junho.
A recuperação aconteceu após a pessoa que comprou a moto desconfiar do caso. Após a compra, a pessoa pagou metade do veículo e a outra metade ia pagar quando fosse ao cartório fazer a transferência, porém o ‘vendedor’ não apareceu. “Aí eles desconfiaram, foram na polícia, olharam a placa, a polícia falou que estava tudo ok. Aí eles pegaram o contato da pessoa que estava relacionada a placa e o proprietário era de Bandeirantes. Eles foram lá na cidade e o dono falou que a placa era dele mesmo, mas a motocicleta dele estava à venda em uma garagem em Campo Grande, mas que ainda não tinha sido vendida, aí descobriram que tinha alguma coisa errada”, explicou.
Após a desconfiança, foi feita uma pesquisa nas redes sociais sobre motocicletas furtadas e encontraram a publicação da Flávia viram que a moto era muito parecida, depois entraram em contato com ela.
O anúncio da venda feito pelos criminosos tinha a foto de outra motocicleta. “Por isso eu nunca achava a moto nos anúncios de venda da internet”, contou.
Ela lamenta o tamanho do prejuízo. “Eu preciso dela para trabalhar. Fiquei uma semana sem ela, no desespero de não encontrar. Ela ainda está apreendida na Defurv porque vou pegar ela daqui a 60 dias, porque foi adulterada então vai passar por perícia. Depois vão entrar em contato comigo para pegar o laudo, depois vou ter que passar no Detran pagar o emplacamento dela. O prejuízo é enorme, mas ela foi encontrada. Acho que o casal que comprou ela teve um prejuízo de uns R$ 5 mil”, detalhou.
A Michelly Oliveira, não teve a mesma “sorte”. Ela teve a motocicleta, uma bis de cor azul, placa HRK 5262, furtada no dia 31 de maio e até o momento não teve notícias. Ao Jornal Midiamax, ela contou que o filho era quem mais utilizava o veículo para trabalhar e ir à faculdade.
Naquele dia, a motocicleta estava estacionada próximo ao Horto Florestal em Campo Grande quando foi levada por um homem. As imagens de câmeras de segurança mostram que por volta das 11h58 o autor passa em uma motocicleta e estaciona ao lado do veículo da vítima e analisa a situação. No minuto seguinte, vai embora virando a esquina. Dois minutos depois o homem volta a pé, coloca o capacete, monta na motocicleta e sai.
Na última quarta-feira (14) um bandido furtou uma motocicleta Fazer 250, de cor preta, placa HTB 3862, na Rua Rio Grande do Sul em plena luz do dia e com a rua movimentada.
Eram 9h47 quando o homem aparece nas imagens. Ele anda pela calçada e para atrás da motocicleta, observa o movimento, em seguida monta no veículo e sai empurrando com os pés. Uma viatura da Agetran e outra da Polícia passavam pela via, mesmo assim, a presença não inibiu a ação do bandido.
O proprietário contou que chegou para trabalhar por volta das 6h, mas só percebeu o furto às 10h30.
Combate ao crime
“A própria sociedade é vítima desses crimes e infelizmente muitas vezes acaba colaborando para essa criminalidade ao adquirir um veículo sem checar a procedência”, explica Meirelles.
A pessoa interessada em um veículo deve checar a documentação, a procedência, antes de adquirir esse veículo. Não comprar de terceiros é uma forma de impedir esse tipo de crime.
Vale lembrar que a pessoa que comprou o veículo também responde, mas pelo crime de receptação, sendo ela culposa ou dolosa (sem ou com intenção). Responde também se o veículo estiver com sinais adulterados como placa trocada, alteração no motor de identificação ou alteração no chassi, mesmo que não tenha sido ela quem fez, só pelo fato de conduzir um veículo nessas situações.
Veículos recuperados
Segundo dados da Sejusp, de 2018 a 2022 foram recuperadas 6.657 motocicletas produto de furtos e roubos, o número corresponde a 55,85% do total de veículos subtraídos nesse tempo.
Conforme os dados, 2018 teve o maior número nesses cinco anos de recuperação de motocicletas no Estado, um total de 1.614. Foram 1.421 em 2019, 1.224 em 2020, 1.061 em 2021 e 1337 em 2022.
Já este ano, de janeiro a maio, foram 391 motocicletas devolvidas aos donos em Mato Grosso do Sul.
Segundo explicou o delegado da Defurv, houve um aumento na recuperação de veículos. “Temos um grande fluxo de entrada de veículos recuperados, que rapidamente, nós identificamos as vítimas e fazemos a devolução desses ciclomotores, desses automóveis em geral. A Defurv tem se empenhado nessa questão de recuperação e de veículos e devolução a vítima”, concluiu.
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