O expediente vespertino na Depca (Delegacia Especializada de Proteção à e ao Adolescente) nesta quinta-feira (12) foi movimentado. Com oitiva de testemunhas, a imprensa “acampou” no prédio, após reportagem do Jornal Midiamax relatar denúncia de casos de maus-tratos e de estupro de vulnerável por parte de uma professora em escola infantil de Campo Grande.

Nesta tarde, um dos depoimentos colhidos foi de uma empresária de 42 anos que esteve na Depca acompanhada do marido e da filha de 3 anos. Ela relatou que a filha descreveu situações compatíveis com abuso sexual por parte da . Na mesma ocasião, outras mães também relataram abusos e maus-tratos da mulher contra as crianças.

Em relato emocionado, a mulher contou que a filha reproduziu em casa ato libidinoso, que o Jornal Midiamax opta por não detalhar, a fim de preservar a vítima. A , então, questionou sobre quem teria feito aquilo com a criança e, inclusive, perguntou se teria sido alguém do convívio, da família.

No entanto, a resposta da criança teria sido que a professora teria repetido os gestos com ela. A menina ainda teria relatado outros tipos de abuso. Abalada, a mãe levou a menina na psicóloga em que ela fazia terapia, de onde recebeu indicação de uma terapeuta infantil. A criança também foi levada na ginecologista.

Teria sido no último domingo (8) — Dia das Mães — que a empresária encontrou uma amiga na escola. A filha estuda com a menina de 3 anos e a mulher comentou sobre o ocorrido, já que no sábado a criança teria novamente reproduzido o ato. A amiga da empresária, então, relatou que o mesmo estava acontecendo com a filha dela.

Em conversa com a criança, a mãe descobriu que a professora estaria praticando os atos no recreio. Já a filha da amiga da empresária teria relatado que a filha já não queria mais tirar as roupas para tomar banho e que sentia incômodo no órgão genital. Até o momento, 5 boletins de ocorrência foram registrados na Depca e o caso está em investigação.

Emocionada, a mãe relatou que foi a primeira a procurar a delegacia. “Não quero fazer mal para ninguém, mas não queria que tivessem feito mal pra minha filha. Queria que fosse mentira, que não fosse verdade, mas está acontecendo na minha família. Não pedi pra que isso acontecesse com a gente”, declarou.

Ela ainda contou que está se sentindo mal. “Parece que a culpa é minha, porque fui a primeira a vir aqui. Não sei o que fazer”, disse sobre a repercussão do caso.

Crianças são ouvidas na delegacia

Delegacia
Caso é investigado pela Depca (Foto: Leonardo de França)

Alunos da escola infantil, localizada em bairro nobre de Campo Grande, são ouvidos na Depca desde que o grupo de mães denunciou o caso. As vítimas têm idades entre 3 e 4 anos. A delegada titular da Depca, Fernanda Mendes, relatou ao Midiamax que as crianças são ouvidas em depoimento especial, com acompanhamento de psicóloga. “É um caso sensível”, pontuou.

Além dos depoimentos das possíveis vítimas, também foram recolhidas imagens das câmeras de segurança da escola particular, dos últimos 15 dias. As filmagens são analisadas e podem ter registrado algum dos fatos denunciados pelo grupo de mães.

Para a equipe de reportagem, a delegada ainda afirmou que não dará outras declarações sobre o caso, que está no início das investigações. Ainda na manhã desta quinta, a diretora do colégio prestou esclarecimentos na delegacia, acompanhada do advogado.

Mães denunciaram professora

Uma das mães, que não será identificada, contou ao Jornal Midiamax que a filha teria sido abusada pela professora. Ela relatou que a mulher teria levado crianças para o banheiro, onde ocorreriam os estupros. A denúncia era de que a professora teria passado as mãos nas partes íntimas das crianças.

O fato, por si só, já causava estranhamento nos pais, porque segundo eles quem deveria levar as crianças ao único local sem câmeras ao vivo era a professora auxiliar.

Relatos de estupro

Conforme denúncia, os abusos teriam começado em 2021, sendo que um menino teria sido estuprado pela professora. Os pais notaram o comportamento estranho do filho e o levaram até uma psicóloga, que disse que a criança seria vítima de abuso sexual. Então, os pais procuraram a escola e teriam tido como resposta que a professora era inocente e que trabalhava há anos no local. “Nos chamaram de loucos”, relatou uma das mães.

Todas registraram boletins de ocorrência que vão de maus-tratos a estupro contra a professora. O caso é investigado e, só quando foi acionada pela polícia, a escola teria afastado a profissional, apesar dos relatos dos pais desde o ano passado sobre o comportamento dela em sala, observado pelas câmeras.

“Só hoje (quinta) consegui me levantar da cama”, disse uma das mães que relatou ter descoberto com os outros pais que sua filha também era abusada pela professora na escola. “Estão tentando abafar o caso”, disse a mãe da menina. Ela contou que a filha estava frequentando a escola há sete meses, e que no começo estava tudo normal.

Mas, depois de um tempo, a menina começou a não querer ir para a escola. Ainda segundo a mãe, por motivos de saúde da filha, a criança deixou de ir um tempo para a escola, cerca de 1 mês, mas quando retornou, a filha voltou a demonstrar que não queria ir para a escola. A menina por gestos teria demonstrado que era abusada pela professora.

Ainda de acordo com uma das mães, as crianças chegaram a ser ouvidas pela psicóloga da escola, que negou qualquer tipo de abuso. Porém, na delegacia, quando ouvidas em depoimento especial, o estupro teria sido confirmado, segundo relato dos pais.

Em um dos registros por maus-tratos contra uma criança de 4 anos, há o relato de que a professora puxava os cabelos da vítima e a segurava pelos braços na sala de aula, fazendo-a sentar na cadeira à força. Ela ainda xingava a menina. A mãe contou que viu pelas imagens de câmeras na sala a agressão da professora ao vivo contra seu filho, que não queria ir mais para a escola.

Escola diz ter afastado a professora

Em contato com a escola, a diretora da unidade falou que a professora foi afastada no mesmo dia em que os pais procuraram a direção falando sobre o caso e que o que se tem é uma suspeita de assédio e não há uma prova concreta sobre crimes como estupro de vulnerável e maus-tratos.

Ainda segundo a direção da escola, todo o HD com as imagens das salas de aula e do pátio da escola foram entregues na delegacia. Sobre o fato da professora levar as crianças ao banheiro — momento em que os abusos aconteciam — em vez da auxiliar foi negado pela diretora da escola.

Ela ainda reforçou que a escola neste momento está trabalhando em cima da neutralidade, para a preservação das crianças e da professora. Os nomes da escola, da professora e das mães não serão divulgados, de modo a preservar a identidade das crianças, conforme preconiza o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).