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Polícia

‘Não nos calarão’, diz prefeita sobre ameaças do crime organizado na fronteira de MS

Carolina de Acevedo revela ao Midiamax detalhes da rotina e ameaças que família vem sofrendo
Marcos Morandi -
Mahida Carolina Yunis de Acevedo, recebeu a reportagem do Midiamax (Fotos: Marcos Morandi)

Com palavras firmes e olhar sereno, a prefeita interina de Pedro Juan Caballero, Mahiba Carolina Yunis de Acevedo, 45 anos, disse nesta sexta-feira (27) que não se sente “nenhum pouco confortável” sentada na cadeira que foi do cunhado José Carlos Acevedo por 15 anos e que por algum momento pensou em desistir. “Conseguiram matar ele, mas não nos calarão”, afirmou Carolina ao receber a reportagem do Jornal Midiamax em seu gabinete.

“Vamos continuar a missão de José em respeito à sua memória, da minha filha e de todas as pessoas que foram vítimas da violência em nossa cidade. É uma missão dolorosa, mas extremamente necessária. Digo isso sem nenhum sentimento de vingança”, comenta a intendente, com a voz embargada e os olhos marejados.

Estreante na política, a mulher do governador do Departamento de Amambay se espelhava no cunhado, que foi um dos mentores da sua entrada na política. Os dois foram eleitos respectivamente para prefeito e vereadora, no mesmo dia em que ela sepultava a filha Haylée Yunis Acevedo, de 21 anos, que estava entre as vítimas de uma chacina ocorrida no dia 9 de outubro.

Segundo Carolina, ambos tinham projetos bem definidos e trabalhavam conjuntamente. No entendimento da vereadora e prefeita interina, havia muito diálogo sobre projetos administrativos para cidade. Ela também revela que havia uma pressão muito forte da família para que  José “tivesse uns dias de descanso” já que estava há 15 anos sem tirar férias.

“Aperto no coração”

“Ele sempre foi um líder para os irmãos e também era para mim e para minha família. Saber que ele não estará mais entre nós deixa um vazio muito difícil de ser preenchido. Tudo isso me machuca muito e dá um aperto no meu coração de mulher, de que já tinha perdido a filha de forma violenta. Na verdade, a dor que sinto é indescritível. Só quem viveu essa situação sabe o que ela significa”.

A respeito do sacrifício exigido no comando de uma cidade assombrada pelo medo e pelas disputas de organizações criminosas, Carolina diz que ainda há muita coisa para ser feita e que o temor desaparece por alguns momentos, principalmente quando se dá conta da responsabilidade que tem com a população que a elegeu.

Apesar de não descartar o medo que sente diante das ameaças constantes, de se sentir alvo dos criminosos e por ser a segunda mulher a comandar a cidade, Carolina Acevedo diz que não se arrepende. “José nos deixa um legado de trabalho pela comunidade e por isso temos que continuar”, diz a prefeita interina.

Natural de Santani, Departamento de São Pedro, Carolina, administradora e professora, é casada há 25 anos com o empresário Ronald Acevedo, que também cumpre seu primeiro mandato como governador. Da união nasceram três filhas, Haylée, de 21 anos, (assassinada há 7 meses), Marian, também de 21, e Fátima, uma adolescente de 14 anos.

Soldado da Força-Tarefa Conjunta faz vigilância no gabinete da prefeita interina

Gabinete fechado

Questionada a respeito de onde encontra forças para continuar enfrentando os desafios que se apresentam, ela desvia o olhar para a sua direita em reverência ao quadro de Nossa Senhora do Perpétuo, fixado na parede da sala de reuniões.

O local funciona como um gabinete improvisado, já que como um sinal de luto e respeito, ela ainda não ocupou a sala usada pelo cunhado assassinado. “É tudo muito recente e a lembrança dele ainda é muito forte entre nossa família e os servidores da prefeitura. Por enquanto a porta vai permanecer fechada”.

“Essa força para continuar seguindo vem de Deus, da minha família e dela, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, a padroeira da nossa cidade. Essas são as minhas fontes de inspiração para passar pelo que estou passando. Eu rezo para ela todos os dias com toda a minha fé e peço que ela interceda por todos nós”, conta Carolina.

A intendente conta à reportagem do Midiamax que tem esperança que a paz um dia irá reinar na fronteira e que “ um dia possa brilhar pela luz de Deus e de sua gente, que tanto carece de conforto”. Confiante na Justiça divina, Carolina diz que sua crença na Justiça dos homens precisa melhorar. “É tudo muito lento nesse sentido. Mas temos que confiar nela também porque senão ficaremos muito desorientados”.

Apesar da rotina administrativa ter sido retomada no prédio onde funciona a prefeitura de Pedro Juan Caballero, com um fluxo considerável de pessoas que por um motivo o outro buscam atendimento, a vigilância permanece. Em todos os cantos por onde se olha há um soldado da Polícia Nacional ou da FTC (Força Tarefa-Conjunta), além de guarda-costas particulares.

Por ser presidente da Municipal de Vereadores (Junta Municipal), Carolina assumiu o cargo de prefeita interina de Pedro Juan Caballero na última segunda-feira (23), um dia após o sepultamento do cunhado. Ela deve administrar a cidade até o final de setembro, quando deve acontecer uma nova eleição. Seu marido, Ronald Acevedo, do PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico), deve renunciar ao cargo de governador do Departamento de Amambay e concorrer à vaga deixada pelo irmão José Carlos Acevedo.

Eleição para o cargo de prefeito de Pedro Juan Caballero deve acontecer até final de setembro

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