Irmão de PM que comandava quadrilha, investigador recebeu mais de R$ 101 mil em propinas, diz Gaeco
Policial recebeu mais de 84 créditos sem identificação na sua conta bancária
Thatiana Melo –
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Relatório do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) aponta que o policial civil Márcio André Molina Azevedo, preso durante a deflagração da operação Codicia, na última segunda-feira (25) teria recebido mais de 84 créditos em sua conta bancária, e sem identificação. Molina e os outros colegas acabaram afastados nesta quinta-feira (28), em portaria publicada no Diário Oficial.
Molina é irmão do policial militar Silvio Cesar Molina, afastado da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul). Márcio André Molina Azevedo responde junto ao irmão a processos por improbidade administrativa e tortura. No relatório é apontado que Molina fazia parte dos esquemas do recebimento de propinas com os colegas Jonatas Pontes Gusmão e Valdinei Peromale. O investigador recebeu cerca de seis créditos no valor de R$ 1.940 usando a conta bancária da tia de sua esposa.
Já na sua conta, o policial recebeu cerca de 84 créditos sem identificação, no valor de R$ 101.380 mil. Os policiais haviam montado um esquema com locadoras para a restituição dos carros roubados recuperados na fronteira. Os ‘bônus’, como eram chamadas as propinas, começam com valor de R$ 600.
Tiveram as prisões preventivas decretadas Jonatas Pontes Gusmão, Valdenei Peromalle, Márcio André Molina Azevedo, Adriana Jarcem da Silva, Mauro Ranzi, Rogério Insfran Ocampos, João Batista Olmedo e Ricardo Alexandre Olmedo.
‘Bônus de locadoras’
Valdinei havia armado um esquema junto com o escrivão Jonatas Pontes, que também era do controle de apreensão na mesma delegacia. O investigador aposentado chegou a entrar em contato com um procurador de locadoras de automóveis para dizer que as restituições de carros eram feitas a partir de recebimento de ‘bônus’ a ser ofertado aos policiais.
Em um primeiro momento, o procurador das locadoras afirmou que não era costume fazer este tipo de negociata, mas depois acabou aceitando fazer o pagamento aos policiais que ajudassem nas restituições de veículos das empresas.
Em dois meses, de 20 de junho de 2018 a 27 de agosto de 2018, os policiais receberam o valor de R$ 47.665. Entre os meses de julho de 2017 a agosto de 2018, os investigados também receberam R$ 17.650 de uma empresa de assessoria, nas restituições de veículos recuperados.
Nas interceptações telefônicas feitas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), foi percebido que os policiais usavam códigos para tratar sobre os ‘bônus’ recebidos pelas empresas. Após os recebimentos, Valdinei — sempre no dia posterior — fazia a distribuição do dinheiro para os participantes do esquema, que também incluía Adriana Jarcem da Silva, que trabalhava na 1ª Delegacia de Polícia Civil.
Interceptação telefônica
Interceptação telefônica durante a investigação do Gaeco contra policiais acabou na descoberta de que o delegado estaria envolvido com os outros colegas na busca de obtenção pecuniária de forma ilícita.
Segundo o relatório do Gaeco, em uma das conversas entre dois policiais presos na operação, um deles fala que Patrick Linares havia dito que não queria mais saber de se envolver em bronca, já que havia sido aprovado em um novo concurso público.
Ainda durante as investigações, foram identificados pelo Gaeco vários depósitos em espécie, que foram feitos na conta do delegado e de sua esposa: entre os anos de 2017 e 2019, foram feitos 18 depósitos, totalizando R$ 17.060, na conta bancária do delegado.
Já na conta da esposa do delegado, foram descobertos 190 depósitos que totalizaram o valor de R$ 214.597, com algum tipo de identificação — outros 86 créditos no valor total de R$ 89.980 não tinham identificação ou estavam precárias.
Foram esses depósitos que chamaram atenção durante as investigações. Além disso, a esposa do delegado, que também é funcionária pública, não teria declarada outra atividade remunerada perante a Receita Federal, conforme foi mencionado pelo Ministério Público.
Ainda segundo o relatório, foram identificados indícios de que o recebimento das quantias pelos investigados sinalizavam o recebimento de valores de forma irregular, já que — como agentes públicos — a única fonte de renda conhecida viria do Estado, não se justificando o depósito de tantos valores sem origem aparente. O Gaeco ainda aponta que a conta bancária da esposa do delegado poderia estar sendo usada como ‘laranja’ no recebimento de propinas.
Quadrilha Laços de Família
Ao todo, foram 15 denunciados após a operação, todos condenados em dezembro de 2021 pelo juiz federal Bruno Cezar da Cunha Teixeira, da 3ª Vara Federal de Campo Grande. As penas variam de 3 a 61 anos de prisão, pela prática de tráfico de drogas, ocultação de bens e associação criminosa. A sentença determinou, ainda, pagamento de multas e perda de bens.
O subtenente Silvio Molina foi condenado a 61 anos, 11 meses e 21 dias de reclusão, além do pagamento de 6.576 dias-multa. O filho do PM, Jefferson, ainda operava como líder operacional, mas faleceu em uma emboscada preparada por rivais. Segundo a investigação, a sede da quadrilha ficava em Mundo Novo, onde o grupo atuava de forma semelhante à máfia: os chefes da organização eram da mesma família e tinham estreita ligação com o PCC.
Além do subtenente, os ‘gerentes’ da organização também receberam penas maiores. Eles tinham como função organizar os motoristas que transportariam as cargas. As penas para os gerentes variam de 20 a 31 anos de prisão. De acordo com a decisão da Justiça, a família envolvida na organização tinha papel decisivo ao liderar o esquema e evitava se relacionar com intermediários e gerentes.
As informações são de que os executores das ordens praticamente não tinham contato direto com a cúpula e privilegiavam encontros pessoais com intermediários. “Todos eram descritos como armados e violentos, tendo promovido uma guerra entre facções locais de Mundo Novo, culminando em perseguições, torturas e assassinatos de rivais”, diz a sentença.
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