Há um ano, no dia 19 de outubro de 2021, uma idosa e sua cuidadora eram feitas reféns na residência de uma delas, no Bairro Coopharádio, em Campo Grande. A dupla de bandidos atirou quatro vezes e teve até ligação deles para a redação do Jornal Midiamax, quando disseram “atira na janela, atira na janela”. De lá para cá, não houve mais nenhum registro de ocorrência dessa natureza na Capital, segundo o Batalhão de Choque.

Os bandidos efetuaram quatro disparos com revólver calibre 38 e o roubo acabou frustrado, com os dois presos após duas horas de negociação com policiais militares, do Bope e do Choque. Um dos tiros atingiu a porta do banheiro, e outros dois o teto da casa. Outro tiro foi ouvido por repórter do Midiamax, que estava ao telefone com um dos criminosos. O autor exigia a presença da imprensa para liberar as reféns.

Ao todo, 11 policiais das forças especializadas, além das viaturas de rádio patrulha, atuaram na negociação até que as mulheres fossem liberadas. Durante a conversa, os bandidos disseram que iriam levar as mulheres até um cômodo da residência para poder dialogar com os policiais. A rua teve que ser cercada e a ocorrência virou assunto por semanas no bairro.

Foram apreendidos no imóvel o revólver usado para disparar, 19 munições intactas e três cartuchos deflagrados, além de duas facas, um celular e par de brinco, colar e anel que estavam com um dos bandidos.

(Foto: Leonardo de França – Arquivo Midiamax)

Intervenção na ocorrência

Conforme explicado pelo tenente-coronel Rocha, comandante do Batalhão de Choque, são usados três níveis de força da Polícia Militar em ocorrências como essa. O primeiro são os policiais de área, que atuam logo que são acionados pelo 190. Em casos mais graves, são acionados a Força Tática ou o Batalhão de Choque ou Bope.

“A primeira possibilidade em ocorrências como essa é a tentativa de furto ou roubo frustrado, e o autor tem essa possibilidade de manter a vítima em cárcere para resguardar sua segurança. A equipe da área [que] faz a primeira intervenção é primordial para que o resto da ocorrência siga bem”, detalha Rocha.

O comandante explica que, nesse caso, era fundamental isolar a residência para que a crise – termo técnico usado pelos policiais – não se espalhasse, como, por exemplo, para as outras casas ou quadras. Em seguida, foram acionados os negociadores do Bope e o Choque, para que as vítimas pudessem ser liberadas.

“O policial que fez o primeiro contato permaneceu conversando com os autores, mesmo após a chegada da equipe de negociadores, porque ele já estabeleceu um contato com eles. Os negociadores treinam horas para atuar em uma só ocorrência”, afirma.

Ainda segundo dados do Choque, de janeiro a junho, foram feitas oito chamadas de sequestro em Campo Grande, nenhuma relacionada a cárcere em residência, como a do Coopharádio. O segundo tipo de ocorrência de sequestro, segundo Rocha, é de extorsão mediante sequestro.

“Essas ocorrências aconteciam mais na década de 1990, quando sequestravam o filho do empresário e ligavam de um orelhão pedindo o dinheiro do resgate. Hoje temos uma estrutura montada para atender ocorrências imprevisíveis como essa”, finaliza Rocha.

Relembre o caso

As duas vítimas foram retiradas da casa após 20 minutos da entrada de policiais do Bope e Choque na residência. Policiais do Bope solicitaram que um cinegrafista se aproximasse da grade da residência porque os sequestradores exigiam a presença da imprensa. O sequestro iniciou por volta das 17 horas e encerrou uma 1 hora depois. Ainda não se sabe o que motivou o crime e nem se os sequestradores conheciam as vítimas.

Segundo o filho da proprietária da residência e vítima, de 59 anos, os bandidos entraram na casa afirmando serem prestadores de serviço da Telems, antiga companhia de telecomunicações do Estado. “Pareceu filme americano, fiquei com medo de matarem ela”, afirmou.