Pular para o conteúdo
Polícia

Há 6 anos, Índio Guarani-Kaiowá foi assassinado em ataque de fazendeiros em MS

Crime ocorreu dentro de terra indígena reconhecida pela Funai no município de Caarapó
Marcos Tenório -
indígena
Familiares choram no velório de Clodiode Aquileu Rodrigues de Souza, de 26 anos.(Foto: Ana Mendes/CIMI)

O indígena da etnia Guarani-Kaiowáo e agente de saúde Cloudione Rodrigues Souza, 26 anos, foi morto em um atentado há seis anos e, outras dez pessoas inclusive um adolescente de 12 anos ficaram feridos após serem baleados. Segundo relatos do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) e do Instituto Socioambiental (ISA), um grupo de cerca de 70 fazendeiros atacou os indígenas a tiros na Yvu, vizinha à reserva Tey’i Kue, no município de , a 274 quilômetros de Campo Grande.

De acordo com relatos obtidos pelas entidades, os fazendeiros se aproximaram com caminhonetes, motocicletas e um trator e atiraram. Na época, os indígenas correram para dentro da reserva e áreas próximas.

Os feridos foram levados ao Hospital Beneficiente São Mateus. Já as vítimas em estado mais grave foram encaminhadas ao Hospital da Vida, em .

Matias Benno, missionário da regional do Cimi no Mato Grosso do Sul, contou que ataque teria sido promovido por um grupo de fazendeiros e pistoleiros. “Difícil precisar o quanto, mas eles [indígenas] falaram em cerca de 70 caminhonetes”, disse Matias.

Demarcação

“A gente foi empurrado de volta pra aldeia. Eles continuaram atrás e entraram na reserva, atacando. No meio desse ataque, o filho da nossa liderança caiu morto e as pessoas foram feridas. Estamos cercados aqui. Está tudo rodeado. Os fazendeiros estão em volta. Não podemos entrar e nem sair”, disse ao CIMI uma liderança indígena na época, ele com medo e receio preferiu não se identificar.

Os estava ocupando desde o dia 12 de junho – dois dias ante do atentado – o território chamado de Toropaso, dentro da Fazenda Yvu. Esse território, reivindicado pelos indígenas, foi identificado pela Funai em maio do mesmo ano como , mas ainda não teve a demarcação confirmada.

Indígenas Guarani Kaiowá assassinados em MS

Levantamentos feitos por pesquisadores do ISA (Instituto Socioambiental) revelam que a etnia Guarani Kaiowá caminha para o extermínio em Mato Grosso do Sul. Os números são preocupantes e mostram que, dos 1.367 indígenas assassinados no Brasil, 39,4% foram registrados em MS. Mortes, segundo pesquisa divulgada pela ISA, estão ligadas aos conflitos agrários ocorridos durante o período de 2003 a 2019.

Esse percentual, segundo dados do ISA, representa um total de 539 indígenas mortos, durante os últimos 16 anos, uma vez que foram coletadas informações durante o período de 2003 a 2019. O que chama a atenção é que a pesquisa levou em consideração os casos registrados e divulgados.

Por outro lado, em relação aos óbitos por suicídios, dos 1.404 ocorridos no Brasil nestes mesmos anos, 894 aconteceram em Mato Grosso do Sul. Entre as causas desse tipo de morte, segundo estudos do Cimi, estão a situação de miséria, a perseguição e os despejos motivados por pedidos de reintegração de posse de terras.

No mapeamento da mortalidade de membros da etnia Guarani Kaiowá, o estudo também faz referência direta à questão agrária. Nesse sentido, com base em dados do DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena), estima-se que cerca de 85 mil pessoas vivem nas terras indígenas do MS.

Para justificar que os problemas estão relacionados à disputa pela ocupação territorial em MS, o ISA utiliza uma afirmação da antropóloga Lucia Helena Rangel, que considera a situação dos casos de violência enfrentados pelos indígenas como dramática e também como consequência da falta de acesso aos territórios tradicionais.

“A falta de acesso aos territórios tradicionais gera a impossibilidade de vivência plena dos usos e costumes, conforme garante a Constituição Federal de 1988 e gera também números assustadores de violência física, ataques a comunidades que tentam retomar suas aldeias e um número muito alto de assassinatos”, diz Rangel.

Ainda segundo ela, em menos de um ano, entre 2015 e 2016, foram registrados 33 ataques de natureza paramilitar contra comunidades Guarani Kaiowá. “Entre 2001 e 2018 foram assassinados 14 líderes indígenas em represália às tentativas de retomar pacificamente terras já reconhecidas”, conclui a antropóloga.

Os dados analisados pelos pesquisadores Anderson de Souza Santos, Luiz Henrique Eloy Amado e Dan Pasca, evidenciam um cenário de genocídio que afeta todos os povos indígenas do Mato Grosso do Sul. No entanto, são os Guarani Kaiowá que enfrentam a situação mais dramática, por conta do confinamento da população em territórios minúsculos.

Compartilhe

Notícias mais buscadas agora

Saiba mais
cpi hospitais

Lamentável, diz Pedrossian Neto sobre Trump investigar o Brasil comercialmente

alems dnit

Uso do Pix diminui receita dos sistemas de pagamento dos EUA, avalia Paulo Duarte

STF: Alexandre de Moraes decide validar decreto do IOF

Embaixada dos EUA critica STF e chama Corte de ‘Supremo Tribunal de Moraes’

Notícias mais lidas agora

carne frigorifico

Após MS suspender exportação de carne para os EUA, sindicato prevê normalização do mercado em poucos dias

relatoria tereza nelsinho

Nelsinho e Tereza confirmam ida aos EUA para pedir novo prazo do tarifaço de Trump

Vanildo e Fabiana, transplante de rins

Dez anos após transplante de rim, Vanildo celebra a vida ao lado de doadora do órgão

‘Trump quer uma guerra comercial’, diz Gleice Jane após frigoríficos suspenderem exportação de carne para EUA

Últimas Notícias

Política

Brasil não tem que pedir licença, diz Lucas de Lima sobre EUA investigarem o Pix

"O Pix é nosso, funciona, e é um exemplo que devia ser seguido, não criticado”, avaliou o deputado

Polícia

Irmãos de 4 e 12 anos são resgatados após mãe sair para beber e os abandonar em MS

Crianças foram encontradas sozinhas em casa suja e com comidas espalhadas pelo chão

Cotidiano

Defensoria recorre ao STF para garantir tratamento gratuito de paciente psiquiátrica em MS

A paciente sofre de depressão, insônia crônica e doenças psicossomáticas

Política

Nelsinho e Tereza confirmam ida aos EUA para pedir novo prazo do tarifaço de Trump

A informação foi confirmada pelo senador Nelsinho Trad neste final de tarde de quarta-feira