‘Gibi’ do PCC é absolvido de acusações sobre bilhete com ameaças às Forças de Segurança

Juíza absolveu o réu alegando fragilidade das provas de que ele integra organização criminosa

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar
Trecho da carta escrita (Foto: Reprodução)

Na última quarta-feira (14), Guilherme Azevedo dos Santos, de 30 anos, o Gibi do PCC (Primeiro Comando da Capital), foi absolvido das acusações de integrar organização criminosa. Ele teria sido flagrado com um bilhete, com planos de ataques a autoridades em Mato Grosso do Sul.

Conforme a sentença da juíza Eucélia Moreira Cassal, da 3ª Vara Criminal, foi constatada fragilidade das provas produzidas. Apesar disso, a materialidade do crime foi comprovada.

“A apreensão do bilhete, por si só, não se mostra suficiente para fazer correspondência com o tipo penal imputado e não foram produzidas outras provas para demonstrar que o réu(é)(s) estava associado a quatro ou mais pessoas, estruturalmente ordenados e em divisão de tarefas, para obtenção de vantagem mediante a prática de infrações penais”, aponta a magistrada na decisão.

No decorrer do processo, chegou a ser confirmado em laudo que a carta teria sido escrita por Guilherme. Tudo indicava que ele repassaria o bilhete adiante, durante a visita ao presídio.

Absolvido, ele teve alvará de soltura expedido. Porém, deve permanecer detido por outros crimes pelos quais responde.

Ameaça a policial penal

Um policial penal do Presídio de Segurança Máxima da Gameleira foi ameaçado por Guilherme Azevedo dos Santos, 30 anos, o Gibi do PCC, em novembro deste ano. O preso é considerado liderança da facção.

Por volta das 9h30, o policial levou Guilherme para atendimento na enfermaria. Na volta, o preso não estava algemado por causa de uma tala que colocou na mão.

Então, enquanto o agente abria a cela para colocar Gibi de volta, o autor deu um soco no rosto da vítima e a segurou pelo pescoço. Ele ainda fez ameaças contra o policial penal.

“Eu já falei que vou te matar (…) e tudo que eu já falei vou cumprir”, disse. Também segundo relato do agente, Gibi teria dito: “Só não te matei agora porque o senhor me deu geral antes e joguei fora o chucho que fiz com escova de dente, já tinha tudo na minha cabeça de furar você igual um porco”.

Ainda foi relatado pelo agente que Guilherme foi o membro do PCC flagrado com as cartas com ameaças aos servidores da Segurança Pública e ataques às autoridades. O caso foi registrado como lesão corporal dolosa e ameaça.

Gibi do PCC

Reprodução

Mesmo após laudo concluir que o bilhete encontrado com Guilherme Azevedo tinha sido escrito por ele, o membro da facção criminosa insiste em relatar que foi alvo de uma armação.

No bilhete apreendido, nomes de autoridades da Segurança Pública e do Judiciário figuravam como alvos para ataques em Mato Grosso do Sul.

Em depoimento após o flagrante do bilhete em maio deste ano, Guilherme negou que estivesse escondendo a carta.

O bilhete passou por perícia e teve o resultado anexado ao processo, no dia 27 de setembro deste ano. Gibi do PCC relatou que não estava com bilhete algum e que tudo não passa de uma armação contra ele.

O membro da facção ainda falou que não foi feita revista nele e que não sabe a quem pertence o bilhete. Segundo a denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), os agentes penais e um delegado de polícia prestaram depoimento confirmando os fatos.

Ainda segundo os agentes penais, Guilherme estava no pavilhão I destinado a presos de facção criminosa. Os dois agentes confirmaram o achado do bilhete.

Além disso, o delegado de polícia relatou que chegou ao seu conhecimento que na cela onde estava Gibi do PCC havia outros membros da facção.

Gibi, inclusive, já teria sido liderança da facção no Estado e na cela onde estava havia membros com posição hierárquica superior a ele.

Ainda na cela estavam detentos especialistas em explosivos. Por fim, o MPMS pediu pela condenação de Gibi do PCC nos termos da denúncia.

Trechos da carta

Em um trecho da carta, o integrante do PCC diz: “Falam umas ideia na rua.. estão represália no sentido do secretário de segurança do estado [sic] […] raiva de promotor de justiça, raiva de justiça e da polícia. Se puder, vou ceifar todos como fiz com o Junior”.

O presidiário também confessou, no texto da carta, um homicídio cometido há 7 anos. Ele cita apenas o nome da vítima, que seria Junior.

Em outro trecho da carta, Guilherme relata que o pedido de transferência feito pelo Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado) foi aceito pelo Ministério Público.

Relatório da Polícia Civil classifica que o manuscrito possui trechos terroristas, atentatórios à estabilidade das instituições constituídas, fazendo referência hostil ao Dracco, Sejusp, Ministério Público, Poder Judiciário e polícias em geral, motivados pelo inconformismo com a notícia do requerimento de sua remoção para presídio federal.

1º bilhete encontrado com instrução de bomba

Após um princípio de motim no dia 30 de maio, no Presídio de Segurança da Gameleira, em Campo Grande, foi descoberto um suposto plano de ataque à Polícia Militar e Civil de Mato Grosso do Sul, com instruções até de como se fazer bombas, guardadas com um membro do PCC.

Tudo estava escondido em um bilhete, dentro da costura do short de um dos detentos, identificado como Guilherme Azevedo dos Santos, de 29 anos, encarcerado em uma das celas do pavilhão I. Ele é apontado pela polícia como membro da facção criminosa PCC.

No bilhete, havia instruções para que os ‘irmãos’ de facção se unissem para atacar os policiais militares, e policiais civis que estariam atacando os membros da facção de Caarapó e da região.

Ainda no bilhete havia escrito: “vamos montar um tabuleiro e matar no ninho”. Segundo as instruções do bilhete, as delegacias deveriam ser monitoradas e, assim, os batalhões atacados com bombas, ‘matando no ninho’. Instruções para como fazer a bomba estavam listadas.

Ao final, o detento avisa que outras instruções seriam ‘passadas logo’. Guilherme já foi preso três vezes por tráfico de drogas, tentativa de homicídio e receptação.

PCC tem arquivos em pen drive de autoridades no Brasil

O nome de pelo menos 2 mil agentes públicos em todo o Brasil está em poder da facção criminosa PCC em pen drives escondidos em Mato Grosso do Sul, São Paulo e na Bolívia, segundo o colunista Josmar Zozino do Portal UOL.

Nos pen drives estão nomes de juízes, promotores de Justiça, delegados das Polícias Civil e Federal e policiais penais de vários estados do país.

Ainda segundo Josmar Zozino ao menos 11 nomes mencionados na lista vêm sofrendo ameaças de morte do PCC nos últimos meses. Os possíveis atentados seriam em represália à permanência da liderança da organização criminosa em presídios federais.

Os pen drives foram distribuídos para os líderes da facção que ainda estão em liberdade. Os relatos apontam que o PCC estabeleceu prazo até o dia 25 de janeiro de 2023 para a liderança do grupo ser removida de volta para presídios paulistas.

Conteúdos relacionados