‘É inocente e foi surpreendido’, diz nota de defesa de delegado afastado após operação do Gaeco

Delegado que passou em concurso para juiz substituto não tomou posse nessa quarta-feira (27)

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Dinheiro apreendido em operação
Dinheiro apreendido em operação (Divulgação)

O advogado de defesa do delegado afastado Patrick Linares emitiu uma nota afirmando surpresa com os fatos noticiados sobre possível envolvimento do delegado em recebimento de propinas por policiais civis da Delegacia de Ponta Porã, após investigações e deflagração de operação pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado).

Diego Marcos Gonçalves, o advogado, afirmou na nota que Patrick não tem qualquer ligação com fato ilícito da delegacia relatado naquele procedimento. “As buscas e apreensões realizadas em seu apartamento não localizaram nada de irregular, pois não haveria tal possibilidade.”, diz parte da nota. Ainda segundo a defesa, a única ligação de Linares com os demais investigados é o fato de ser o delegado titular da 2ª Delegacia Civil de Ponta Porã durante alguns dos períodos mencionados na investigação.

Parte da nota ainda fala que “Patrick foi envolto equivocadamente em uma investigação da qual não faz parte, pois não tem qualquer tipo de envolvimento ilícito com os fatos em apuração. O delegado se apresentou espontaneamente junto à corregedoria para prestar esclarecimento.”

Confira a nota:

O delegado foi afastado na última terça-feira (26), um dia após a deflagração da operação Codicia do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado). Patrick iria assumir como juiz substituto nessa quarta-feira (27), após passar em concurso em 2021, mas acabou não tomando posse. 

Inicialmente, o Gaeco havia pedido à Justiça a prisão preventiva de Linares. O pedido, porém, foi indeferido e convertido em medidas cautelares, que consistem em “afastamento do exercício da função de Delegado de Polícia enquanto estiver correndo a presente investigação e/ou a ação penal (tanto na função direta como Delegado, como em qualquer outra atividade administrativa)” e “impedimento de acessar os prédios de qualquer uma das Delegacias de Polícia existentes no município de Ponta Porã/MS”.

As restrições também impõem “proibição de manter qualquer tipo de contato direto com as pessoas que estão sendo investigadas no presente procedimento, com exceção de sua esposa (o que não impede que o seja feito através de advogado dentro do exercício da função em sua defesa)”, “entrega da arma funcional ao superior hierárquico por ocasião do cumprimento dos mandados de busca e apreensão – eis que afastado de suas funções” e “proibição de portar arma de espécie alguma (mesmo que particular)”.

Interceptação telefônica

Interceptação telefônica durante a investigação do Gaeco contra policiais acabou na descoberta de que o delegado estaria envolvido com os outros colegas na busca de obtenção pecuniária de forma ilícita.

Segundo o relatório do Gaeco, em uma das conversas entre dois policiais presos na operação, um deles fala que Patrick Linares havia dito que não queria mais saber de se envolver em bronca, já que havia sido aprovado em um novo concurso público.

Ainda durante as investigações, foram identificados pelo Gaeco vários depósitos em espécie, que foram feitos na conta do delegado e de sua esposa: entre os anos de 2017 e 2019, foram feitos 18 depósitos, totalizando R$ 17.060, na conta bancária do delegado.

Já na conta da esposa do delegado, foram descobertos 190 depósitos que totalizaram o valor de R$ 214.597, com algum tipo de identificação — outros 86 créditos no valor total de R$ 89.980 não tinham identificação ou estavam precárias.

Foram esses depósitos que chamaram atenção durante as investigações. Além disso, a esposa do delegado, que também é funcionária pública, não teria declarado outra atividade remunerada perante a Receita Federal, conforme foi mencionado pelo Ministério Público.

Ainda segundo o relatório, foram identificados indícios de que o recebimento das quantias pelos investigados sinalizavam o recebimento de valores de forma irregular, já que — como agentes públicos — a única fonte de renda conhecida viria do Estado, não se justificando o depósito de tantos valores sem origem aparente.

O Gaeco ainda aponta que a conta bancária da esposa do delegado poderia estar sendo usada como ‘laranja’ no recebimento de propinas.

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