#CG123: Com 13 anos sem força policial própria, segurança pública em Campo Grande teve ‘boom’ na última década

De soldados da PM sem direito ao voto e apenas um posto operacional da GCM, para equipamento do Bope de R$ 2 milhões

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(Foto: Marcos Ermínio – Arquivo PMMS)

Nos 123 anos de Campo Grande, a evolução das forças de segurança acompanha a passos lentos o crescimento populacional do município. Capital desde 1977, a cidade passou 13 anos sem uma força policial própria, ficando a PM como a única responsável até a GCM obter status de polícia, o que só ocorreu recentemente. O Jornal Midiamax preparou uma retrospectiva histórica sobre o surgimento dessas forças de atuação, que tiveram seu início diretamente ligados à divisão do Estado, com incorporação do efetivo do Mato Grosso na GCM, PM e Polícia Civil.

De lá para cá, o avanço maior ocorreu nas últimas décadas, com a criação de forças especializadas a partir da década dos anos 2000. Com o avançar da história de cada instituição, policiais e agentes criaram paralelamente suas próprias memórias, a partir da atuação em órgãos especializados como Deam, Corregedoria, Bope e Choque.

Guarda Civil Metropolitana

Criada em 10 de agosto de 1990, a GCM (Guarda Civil Metropolitana) era inicialmente formada de servidores nomeados oriundos da PM, aposentados ou cedidos, e do Exército. Somente no ano de 2007, com a aprovação da Lei 4.520, é que foi criada a Guarda atual e reorganizada para ingresso por meio de concurso público. Nos anos de 2008 e 2009, foram realizados dois concursos, com a incorporação de cerca de 1480 servidores. Até então, o único objetivo da GCM era a segurança patrimonial de escolas, secretarias e unidades de saúde. Já em 2014, o Congresso Nacional aprovou a Lei Federal 13.022 que trouxe aumento das atribuições para GCM em nível nacional.

Segundo o secretário municipal de segurança, Valério Azambuja, só então a prioridade deixou de ser os bens e passou para as pessoas. “Com essa lei, passou-se a ter atenção especial para as pessoas do município, e em segundo plano os bens. Até então, a guarda não estava armada, mas desde 2004 já poderia trabalhar com armas, segundo a Lei 10.826, do estatuto do desarmamento”, explica. Para isso, foi necessário criar órgãos de fiscalização interna, como Corregedoria e Conselho de Segurança, o que foi feito em 2017.

Força de segurança PM GCM Bope Choque
(Foto: Henrique Arakaki – Arquivo Midiamax)

No ano seguinte, um convênio com a Polícia Federal foi o início da capacitação dos guardas municipais para utilização de armamento letal e não letal. À época, cerca de 100 GCMs estavam aptos a utilizarem. “Hoje 80% da tropa, de 1029 guardas ao todo, estão aptos para o uso de armas. Avançamos em 5 anos e meio o que não tínhamos avançado em 32 anos”, opina o secretário.

Da mesma forma, a população de Campo Grande cresceu nesses 32 anos, e o efetivo, segundo o secretário, ainda não acompanhou o número ideal para a quantidade de habitantes. “O ideal da Guarda hoje deveria ser 1750. Com o concurso de agora serão repostos cerca de 300 servidores. Vamos ver se melhora a capacidade financeira para pagamento de salários, e aumentar para até 350”, afirma. A legislação também evoluiu e hoje a Guarda atua diretamente no trânsito ou por meio de convênios com o Detran (Departamento Estadual de Trânsito) e a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito).

O primeiro armamento da GCM foi doado no mesmo ano da criação, pela Polícia Militar e pela PRF (Polícia Rodoviária Federal), com 220 pistolas. A antiga base era centralizada apenas na Antiga Rodoviária, até 2017, quando foram redistribuídas para as sete regiões urbanas, além das gerências operacionais no Núcleo Industrial, Paulo Coelho Machado e Chácara das Mansões. “A nossa Capital tem uma diferença em relação às demais, porque ela é praticamente toda plana, você não tem morro, e nem muita dificuldade no trânsito. Você corta a cidade, do Parque dos Poderes até o Aeroporto em 10 a 15 minutos”, afirma o secretário.

Aprovada no primeiro concurso da GCM, a atual corregedora geral Ana Paula Barreto Cardoso, começou trabalhando na unidade de saúde do Bairro Maria Aparecida Pedrossian como guarda patrimonial. Na época, o trabalho de policiamento era apenas predial e dos usuários em si. “Trabalhei de 2009 a 2014 sempre nessa unidade, e depois fui para a gerência do Anhanduizinho até 2018. A partir de 2017, as gerências começaram a ter mais o conceito de gerenciamento da região, com serviço operacional e de patrimônio”, afirma.

No ano de 2019, Ana Paula recebeu o convite para atuar como corregedora geral, mas foi durante a pandemia que ela enfrentou seus maiores desafios como guarda. Mãe de dois filhos, ela lembra como se fosse hoje do primeiro dia de atuação no toque de recolher. Quando o primeiro decreto foi estipulado no município, em março de 2020, ela estava de serviço e era supervisora de dia das sete regiões da cidade. “Cada gestor é responsável pela sua região, e é feita uma escala, os outros supervisores vão para casa descansar enquanto um fica de responsável pelo dia. E nesse dia era eu. Veio o secretário, o comandante e o coordenador de operações e falaram ‘o prefeito decretou toque de recolher a partir de hoje e vamos colocar todo mundo para casa obrigatoriamente’”, recorda.

Força de segurança PM GCM Bope Choque
(Foto: Leonardo de França – Arquivo Midiamax)

Ana Paula relembra que eram feitos comboios que partiam para as sete regiões urbanas, mas a gerência em que ela atuava ficava dentro do Parque Airton Senna, principal polo de testagem contra Covid-19. “Foi uma época bem complicada para mim, porque eu vi outras forças de segurança se afastarem, e enquanto isso a GCM saía. Eu tinha que defender todos, mas eu não podia ficar em casa. Quando chegava, meus pequenos queriam me abraçar e não podia, eu tinha que trocar de roupa, tomar banho, me desinfetar, e mesmo assim chegava todo dia em casa com medo”, confessa.

Um momento de tensão vivido por Ana Paula foi quando ela, junto a outros dois guardas, tiveram que fechar uma festa clandestina no Bairro Parque do Lageado. “O pessoal falou ‘chefe, acho que tem mais de 200 pessoas lá dentro’, e eu falei ‘mas eles não sabem quantos têm aqui fora’. Eu bati no portão e falei ‘vou fechar e enquanto não aparecer o dono ninguém vai embora’, e os colegas lá fora me sustentando. Liberei todo mundo e o organizador apareceu, até que levamos ele para a delegacia”, lembra. Um dos principais bairros com chamada de ocorrências durante a pandemia, segundo ela, foi o Chácara das Mansões, onde posteriormente foi criado um núcleo operacional da GCM.

Polícia Militar

Assim como a GCM, a PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul) nasceu com a incorporação de outras instituições, com a divisão do Estado e parte do efetivo do Mato Grosso. Com modalidades de patrulhamento diferentes de hoje em dia, o que também evoluiu foram os tipos de crimes praticados. O primeiro concurso foi realizado no ano de 1982, já que inicialmente o efetivo – assim como da PMMT – era composto por militares do Exército Brasileiro. Por isso, os primeiros comandantes gerais não tinham formação de policiais, visto que não havia oficiais formados no recém-criado estado de MS.

A capitã da PMMS Fabricia Oliveira Wanderley Flores, explica que, com o passar dos anos, os oficiais foram formando no Estado como policiais militares e crescendo administrativamente. Antes da reforma constituinte, praças – como são chamados os militares de baixa patente, como soldados e cabos – não tinham direito ao voto civil. Como as eleições não eram diretas, apenas sargentos ou patentes superiores podiam votar para prefeito, governador, deputados, senador e presidente. O que também mudou nesses 40 anos foi a quantidade de mulheres na corporação.

O primeiro concurso feito em MS também foi o primeiro da Polícia Militar a aceitar mulheres, após a divisão do Estado. Com 22 anos à época, em 1982, a hoje 2º tenente Izabel Cristina Pires foi uma das 43 mulheres formadas e única a se tornar oficial de sua turma. Ela também é a única que permanece atuando. “Eu entrei com 22 anos, hoje estou com 62. A turma toda era de soldado. Foram poucas mulheres que se adaptaram à disciplina, tinha até padrão de corte para o cabelo”, relembra.

Izabel conta que o curso teve duração de seis meses, e ela conciliava com o segundo grau – na época equivalente ao ensino médio – e lembra que muitas mulheres tinham até ensino superior, enquanto para os homens não era exigido nível de escolaridade para ingresso. “Mulheres eram mais estudiosas naquela época, nos anos 1980, eu estava no segundo ano do ensino médio, fazia contabilidade, então saía do curso de soldado e já ia direto para a escola”, explica.

O curso de formação era dividido por gênero, ou seja, mulheres e homens não tinham contato. Mesmo assim, as atividades eram as mesmas e as mulheres não podiam exercer todas as funções após formadas. “Quando formei fiquei em Campo Grande, porque as mulheres só podiam servir na Capital, no 1º Batalhão. Existia o Pelotão Feminino, que depois foi elevado à Companhia de Policiamento Feminino. Tinham algumas atividades que não podíamos fazer, como policiamento de radiopatrulha em viatura, era individual. Por exemplo, ia ter um policiamento de carnaval, saía a escala da nossa companhia, e eu ia comandando meu efetivo. Chegando lá eu apresentava para o comandante do policiamento e ele fazia a distribuição”, relembra.

Força de segurança PM GCM Bope Choque
(Foto: Marcos Ermínio – Arquivo da PMMS)

Além disso, os batalhões e companhias – inclusive a feminina – eram comandados por homens, até a formação de duas oficiais da PMMS no Rio de Janeiro, em 1984, membros da Companhia de Policiamento Feminino. No início, as mulheres faziam policiamento ostensivo a pé – geralmente em duplas – e eram responsáveis por crianças, mulheres e idosos. No ano de 1993, elas conseguiram a igualdade de concorrência nos cargos. Com a extinção da companhia, as mulheres foram distribuídas, e foi aí que Izabel decidiu fazer parte do serviço que mais gostava, mas por anos não pode realizar. Ela foi transferida para a Tora (Tropa Ostensiva de Repressão Armada), que futuramente daria origem ao Choque e ao Bope. “A Tora foi um dos tipos de policiamento mais marcantes, porque todo pessoal que é mais antigo passou por lá. Era como se fosse o Choque do passado”, explica a capitã Fabricia.

Ainda segundo a capitã, houve uma época em que as mulheres também eram direcionadas apenas para o Batalhão de Trânsito – antiga Ciptran (Companhia Independente de Trânsito). “Com o passar do tempo foi visto que as mulheres podem ocupar o cargo que elas quiserem. Nós que somos policiais militares não lidamos só com elementos do sexo masculino, mas com todas as pessoas, incluindo crianças. Cada dia que passa essa necessidade da mulher estar tratando com a sociedade é mais importante”, comemora a capitã.

Polícia feminina

A ocorrência mais marcante da carreira da 2º Tenente Izabel foi a fuga de presos ocorrida no antigo fórum da Capital, no ano de 1986. Ela lembra que no mesmo local funcionava um presídio, e houve uma fuga dos internos quando ela estava de serviço, na função de auxiliar do oficial de dia, responsável por toda a cidade. “Durante a missa, os presos tomaram como refém padres e freiras, e nesse dia eu ainda estava fazendo curso de sargento. Antigamente não tinha tropa específica, como Choque e Bope, eram os alunos. Estourou a rebelião, mandaram me chamar em casa, pegamos as armas e fomos para lá”, relembra.

Força de segurança PM GCM Bope Choque
Tenente Izabel, à direita, e capitã Fabrícia, à esquerda. (Foto: Marcos Ermínio – Jornal Midiamax)

Izabel recorda que os presos exigiram três carros pretos, tampados com papelão na frente. Ao serem liberados, um dos veículos foi capturado pelos policiais na mesma quadra. Os outros dois seguiram para a rodovia e entraram em uma área de mata. “Quando eles saíram, o pessoal foi todo atrás. Na rodovia, deixaram o carro preto e abordaram um carro vermelho. Naquela época, não voltava ninguém vivo”, recorda. Anos depois, em 1998, a Rotac (Rondas Ostensivas Táticas da Capital) fazia parte da 5ª Companhia Independente e foi o início das operações especiais na PMMS.

O Bope (Batalhão de Operações Especiais) e o Choque tiveram suas origens com a Rotac (Rondas Ostensivas Táticas da Capital), que era um pelotão da 5ª Companhia, responsável pela Capital. No ano de 2001, foi criada a CIOE (Companhia Independente de Operações Especiais), com o efetivo da Rotac. Já em 2003, foi fundada a CIGCOE (Companhia Independente de Gerenciamento de Crises e Operações Especiais), que possuía três pelotões: a antiga Rotac junto ao canil Roca (Rondas Ostensivas com Cães Adestrados), as ações de Choque – como reintegrações de posse, operações em presídios e no interior – e o Gate, para operações especiais.

No ano de 2013, o CIGCOE foi elevado a batalhão, criando o Bope e Choque, que permanecem até hoje. Com a divisão, o Bope foi estruturado pelos policiais do Gate e o Choque com a estrutura do Canil e da Rotac. No início, o canil chegou a ser dividido, com metade dos cães para cada, mas posteriormente foi centralizado no Choque.

Bope

Para ser policial do Bope é necessário, além de ter o curso de formação da PMMS, fazer o COE (Curso de Operações Especiais) ou o CATE (Curso de Ações Táticas Especiais). O primeiro tem duração de cerca de 5 meses e só teve uma edição nos nove anos de Bope, sendo que os policiais podem fazer a formação em outros estados que oferecem vagas para quem é de fora – como Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul – ou em países como a Colômbia, onde curiosamente foi formado o primeiro policial de MS e o mais recente. Ao todo, são 45 policiais que fizeram o COE desde 1999.

Já o CATE é o que a maioria dos 66 policiais que integram o Bope hoje fizeram, que tem duração de cerca de 50 dias e já está na 8ª edição em MS. O atual comandante do Bope, tenente-coronel Vinícius de Souza Almeida, explica que o Batalhão é dividido em duas companhias. A primeira – o GATE (Grupo de Operações Táticas Especiais) – atua em ocorrências de crise, envolvendo reféns, refém armado e ações antibomba. Já na segunda – aqueles formados no COE –, os militares atuam em ocorrências de assalto a banco, resgate de guarnições em troca de tiros e área rural.

Força de segurança PM GCM Bope Choque
Sede do Bope fica no Parque dos Poderes. (Foto: Marcos Ermínio – Jornal Midiamax)

Entre as especializações estão as de brecheiro – policial treinado para abrir o compartimento para a equipe entrar, geralmente quando há reféns -, socorristas, navegador, atirador e caçador e rastreadores. “Dos 66 homens, 38 são operacionais que trabalham no atendimento de ocorrências de crise, inclusive na divisa de fronteiras, no combate aos crimes de tráfico de drogas e armas, veículos roubados que entram de outro país”, explica Souza.

Ações com explosivos

Uma das principais atuações do Bope – e talvez a que mais chama atenção – é a detonação de explosivos e bombas. Os equipamentos, muitas vezes comparados a trajes de astronautas, são investimentos que podem chegar a R$ 2 milhões. Isso porque, segundo o comandante, a utilização dele é a última estratégia empregada pela equipe. “Toda ocorrência envolvendo bomba e explosivo a gente considera ocorrência de crise, porque tem perigo eminente de morte. A primeira ação que a gente toma é tentar não aproximar o máximo possível, porém, em algumas, a gente não consegue. Ou nos aproximamos com o robô ou com cordas e ganchos. Na última das hipóteses vamos nos aproximar com o traje antifragmentação”, explica Souza.

Força de segurança PM GCM Bope Choque
Detonação de granada no Bairro Buriti, em agosto de 2021. (Foto: Henrique Arakaki – Jornal Midiamax)

Uma das principais ocorrências que marcou a memória do tenente-coronel foi o confronto com criminosos que assaltavam agências dos Correios na Capital, no ano de 2017. A troca de tiro ocorrida na agência central, na Rua Calógeras, terminou com quatro membros da quadrilha mortos. “O serviço de inteligência já monitorava algumas atividades desses criminosos, então sabíamos mais ou menos o dia em que eles atuavam. Eram seis a sete ocorrências por mês. Quando estávamos realizando patrulhamento preventivo, de madrugada, vimos que a porta dos Correios estava arrombada. Ao entrarmos, os criminosos estavam lá dentro, preparando para pegar o dinheiro do cofre”, relata.

Choque

Assim como o Bope, a história do Choque também é oriunda da antiga CIGCOE. Atual comandante do batalhão, o tenente-coronel Rigoberto Rocha detalha que o surgimento das forças especializadas de segurança é datado do final da década de 1980, com o patrulhamento tático móvel, e posteriormente o surgimento da Tora em Campo Grande. No ano de 1999 é que o conceito de “tropa de choque” ganha força na PMMS, com a criação da Rotac. Curiosamente, o atual comandante geral da instituição, hoje, o coronel Marcos Paulo Gimenez, foi o primeiro comandante do então pelotão de Choque, em 1999.

“O Batalhão de Choque faz parte de um terceiro nível de força. A primeira malha, que talvez seja a mais importante, é da radiopatrulha, que são os batalhões de área. São eles que fazem o primeiro atendimento para o cidadão. Em segundo lugar, estão as forças táticas, e no terceiro nível as especializadas, onde entra o Choque. A missão desse último nível é fazer frente ao crime organizado e às ocorrências que exigem um pouco mais de treinamento, de força e de equipamentos diferenciados”, explica o comandante.

Dentro do Batalhão existem três pelotões de atuação, onde os integrantes, assim como no Bope, precisam fazer especializações: a Rotac (com o patrulhamento 4 rodas), a Rocam (duas rodas) e o K9 (canil). Em paralelo ao patrulhamento, existe o CDC (Controle de Distúrbios Civis), que corresponde às operações em presídios, reintegração de posse, manifestações e desobstrução de vias. Atualmente, o Choque possui 26 viaturas 4 rodas e 50 motocicletas.

Força de segurança PM GCM Bope Choque
(Foto: Henrique Arakaki – Jornal Midiamax)

Foi também na década de 1990 que começaram a se desenvolver ações de choque em todo o país. “Naquela época começa a se falar muito em sequestro com refém não localizado, que é diferente do sequestro de hoje. O cara sequestrava crianças ou esposas de grandes empresários e tentava via telefone tirar dinheiro da vítima. Mesmo assim, ainda questionavam se era necessário terem unidades especializadas nas polícias militares do país”, explica Rocha.

Foi somente a partir do ano de 2006, com a rebelião feita pelo PCC (Primeiro Comando da Capital) em presídios do Brasil na véspera do Dia das Mães e considerada a maior de todos os tempos, que os batalhões de todos os estados conseguiram maior aporte financeiro e logística. “A partir de 2008, a doutrina de Choque já estava consolidada e precisávamos de curso porque é no curso que a gente consegue testar o policial de várias formas, seja tecnicamente, psicologicamente ou fisicamente. Em 2013, o CIGCOE foi dividido e passou a ser Bope e Choque, com áreas completamente diferentes”, resume o tenente-coronel.

Até os dias atuais já foram oferecidos oito cursos de patrulhamento tático e quatro cursos de operações de choque em MS, além de três de motopatrulhamento e dois de operações com cães, com 140 policiais ao todo. Mesmo presente no batalhão desde sua criação, Rocha guarda memórias afetivas com algumas ocorrências que jamais serão esquecidas. A que mais lhe chamou atenção durante todos esses anos foi a prisão do autor de um estupro de vulnerável. “Eu estava de serviço na época e me recordo de todo o comprometimento dos policiais para prender o autor. A mãe da criança tinha saído para catar reciclável, de madrugada, e deixado o portão aberto. Tem uma filmagem que mostra logo depois que a menininha é pega por esse autor. E eu me lembro de ter perguntado pro policial de área que atendeu a ocorrência ‘como você sabe que é ele, sargento?’ e ele disse ‘eu senti cheiro de sangue nela’. Isso é arrepiante até hoje”, relembra.

Força de segurança PM GCM Bope Choque
(Foto: Nathália Alcântara – Jornal Midiamax)

Polícia Civil

Assim como a GCM e a PMMS, a Polícia Civil originou-se com a divisão do Estado e também parte do efetivo veio do Mato Grosso uno. O primeiro concurso ocorreu no ano de 1983, para todos os cargos – escrivães, delegados e investigadores – e o curso de formação teve início em 12 de março de 1984 na Acadepol (Academia de Polícia Civil). Com a nova constituinte de 1988, ordenou-se que a instituição seja dirigida por um delegado de polícia de carreira, formado em Direito e escolhido pelo Governador, com requisito de que seja um delegado da classe especial. O primeiro delegado a assumir foi nomeado no ano de 1979.

Há 18 anos na Polícia Civil e 7 atuando na Deam (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher), a investigadora Viviane Nunes iniciou na função em 2004, na Deaij (Delegacia Especializada no Atendimento à Infância e Juventude) e outros 8 anos nas Depacs (Delegacias de Pronto Atendimento Comunitário). Ao entrar na Deam, Viviane recebeu a missão de ser responsável pelo Ligue 180, que recebe denúncias de vítimas de violência doméstica, vindas de Central em Brasília. Sua função é investigar a veracidade das denúncias e oferecer amparo às vítimas.

Força de segurança PM GCM Bope Choque
Viviane foi a primeira mulher a ser responsável pelas viaturas em uma delegacia de MS. (Foto: Henrique Arakaki – Jornal Midiamax)

Além disso, ela também é responsável pelo gerenciamento da frota de viaturas – num total de 9 viaturas descaracterizadas e 3 caracterizadas –, sendo a primeira mulher na Polícia Civil do Estado a atuar nessa função. Como investigadora, ela entra em contato com as vítimas das denúncias e oferece os amparos que têm direito por lei. Entretanto, nem todas as ocorrências ficam na delegacia após o dia de trabalho de Viviane. Alguns casos chamam mais atenção do que outros, e ela garante que é impossível não ficar pensando nas mulheres atendidas posteriormente.

“Aqui é uma delegacia que você tem que ter um trato mental muito grande para poder manter e não levar para casa. A gente acaba levando vítimas na mente de casos mais delicados. Nós tivemos aqui um que foi bastante chocante, o do primeiro feminicídio do Estado, da Ísis. Até hoje a família dela mantêm contato comigo, e nós tivemos uma aproximação muito grande com a mãe e a irmã, então não tem como você sair daqui e se distanciar totalmente, você fica pensando naquela situação, em mais possibilidades de ajudar, porque são casos fortes”, relata a investigadora.

Força de segurança PM GCM Bope Choque
Viviane, investigadora da Deam. (Foto: Henrique Arakaki – Jornal Midiamax)

Mãe de dois filhos, ela se recorda da vez em que recebeu uma denúncia por meio do Ligue 180 e tinha acabado de chegar de viagem. Mesmo assim, decidiu ir até o local – uma casa de prostituição – e verificar pela segurança da vítima, uma vez que amigas ligaram e avisaram que esta teria sido mantida em cárcere privado e não conseguiam mais contato. “Nesse dia eu estava de folga, peguei e fui lá onde a moça estava e o autor tinha acabado de sair. A vítima estava toda machucada, eu trouxe ela, ela recebeu atendimento, e depois as equipes do SIG (Setor de Investigação Geral) foi e fez a prisão dele”, lembra.

A história profissional de Viviane na Deam tem início com a criação da Casa da Mulher Brasileira. Chamada para assumir posto antes mesmo da inauguração, ela recorda de sempre falar para os colegas cuidarem não só da saúde física, como também da saúde mental. “Eu nunca pensei em sair daqui porque a nossa profissão é por vezes enlouquecedora, mas ela é apaixonante. A gente tem que sempre cuidar do psicológico, para estarmos bem aqui e prestarmos um bom atendimento às vítimas”, finaliza.

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