‘Cena difícil de esquecer’, diz delegado sobre chargista esquartejado e colocado em malas

A massagista Clarice Silvestre foi condenada a 16 anos de prisão pelo crime

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Delegado Carlos Delano na cena onde foram encontrados os restos mortais de Marco Antônio. (Foto: Arquivo / Midiamax)

Um corpo esquartejado, acondicionado em malas e queimado, é uma cena difícil para qualquer pessoa ver e esquecer, até mesmo para o delegado Carlos Delano, titular da DEH (Delegacia Especializada em Repressão aos Crimes de Homicídios), acostumado a lidar com a morte de perto e com a crueldade do ser humano. 

Ao investigar o assassinato do chargista Marco Antônio Borges, de 54 anos, Delano se deparou com restos mortais da vítima divididos em malas e queimados. “Quase todos os crimes de homicídio deixam alguma impressão pela futilidade do motivo, pois poucas vezes considera-se justo um homicídio. De todo modo, a maneira como o cadáver foi desmembrado, acondicionado em malas e queimado compôs uma cena difícil de esquecer”.

Sobre toda a investigação para descobrir o que de fato levou Clarice a cometer um crime tão cruel, Delano fala da apatia da massagista frente à gravidade do crime que estava confessando. “Durante da inquirição dela (Clarice) ficou evidente que realmente tinha a intenção de ter um relacionamento sério com a vítima e que a negativa dele em assumir o namoro a fazia sofrer”, falou o delegado.

Em nenhum trecho do depoimento, a massagista se mostrou arrependida, apenas tentando afirmar que empurrou e matou Marco porque ele deu dois tapas nela. Assim, levada por um momento de fúria, foi até a cozinha e com uma faca desferiu os golpes no chargista, que estava nu quando foi atacado.

Clarice foi condenada a 16 anos de prisão pelo assassinato de Marco Antônio. Para o delegado, a missão foi cumprida com a condenação por um crime tão bárbaro. “Considero que conseguimos cumprir a função da Polícia Civil, que é a de levar a pessoa responsável a julgamento, apresentando provas isentas, produzidas sem violação à lei, que possibilitem ao Tribunal do Júri processar um julgamento justo, com exercício de acusação e de defesa, e aos jurados decidir com imparcialidade. Para nós, da Polícia, a justiça deve estar nisso e não na condenação ou absolvição”, finalizou.

Clarice já presa após se entregar pelo assassinato do chargista (Arquivo/Midiamax)

Frieza ao deixar Marco agonizando por 10 minutos

Durante o depoimento logo após a sua prisão em novembro de 2020, Clarice se mostrou apática, dizendo que, depois da morte de Marco, estava preocupada em limpar a parede de casa por causa de clientes que estavam marcados para serem atendidos. Sangue do chargista havia espirrado na parede da casa da massagista durante o assassinato.

Foram mais de 10 facadas e 10 minutos em que Marco Antônio ficou agonizando à beira da escada. Em uma das falas de seu depoimento, a massagista diz: “Espirrou sangue na minha parede, aí eu peguei e cobri ele com lençol, aí fui limpar minha parede porque tinha um cliente aquele dia”.

Extrema crueldade

O juiz Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, ao decretar a prisão de Clarice, relatou que o crime foi cometido com extrema crueldade. “Há de ressaltar-se, também, que o teórico crime foi praticado com extrema crueldade, o que denota a periculosidade da ora representada e o seu descaso em relação ao meio social”, disse em sua decisão.

A defesa chegou a pedir para afastar as qualificadoras quando da denúncia de Clarice pelo MPMS (Ministério Público Estadual), afirmando que o ciúme é um sentimento comum de qualquer relacionamento, e que nesse caso se derruba qualquer torpeza em relação ao crime cometido. A defesa ainda alegou que o homicídio, na realidade, foi cometido por uma discussão entre eles. O que segundo o pedido afastaria, inclusive, a qualificadora que dificultou a defesa da vítima.

Porém, o pedido não foi aceito pela Justiça, que manteve todas as qualificadoras. No dia 2 de junho de 2020, Clarice foi condenada a 16 anos e 6 meses de prisão e o filho – que ajudou no desmembramento do corpo e na ocultação de cadáver – foi condenado a 1 ano e 6 meses de prisão, que cumprirá em regime aberto.

O assassinato

Na manhã de 21 de novembro de 2020, Clarice matou Marcos na casa, no Bairro São Francisco. Com a ajuda do filho João Victor, ainda destruiu e ocultou o cadáver da vítima.

O relato na denúncia é de que Marcos era cliente da massagista Clarice e mantinha um relacionamento amoroso com ela. No entanto, ele não queria assumir a relação oficialmente, o que incomodava Clarice. No dia do crime, eles combinaram uma massagem e a vítima foi até a casa da autora.

Após a massagem, Marcos foi tomar banho na parte de cima da casa de Clarice. Ao sair, os dois começaram a discutir sobre o relacionamento e Clarice empurrou a vítima da escada. Em seguida, esfaqueou o chargista, o atingindo nas costas e no tórax. A denúncia aponta que Marcos permaneceu agonizando no local e Clarice colocou um lençol sobre o corpo dele.

Ela saiu para comprar sacos de lixo, já com a intenção de ocultar o cadáver da vítima e ligou para o filho. O rapaz foi até a casa da mãe e os dois cortaram o corpo de Marcos em várias partes, lavaram e colocaram em sacos e depois em malas de viagem. Mãe e filho levaram o corpo da vítima até o Jardim Tarumã, após pedirem corrida por um aplicativo.

Eles esconderam as malas, esperaram até a madrugada e atearam fogo. Clarice saiu da cidade e só foi presa em São Gabriel do Oeste. Após a prisão, ela confessou que agiu por ódio vingativo e ciúmes da vítima porque queria que o relacionamento fosse oficializado. Clarice foi denunciada por homicídio triplamente qualificado, por meio cruel, motivo torpe e recurso que dificultou a defesa da vítima, além da destruição e ocultação de cadáver. O filho foi denunciado pela destruição e ocultação de cadáver.

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