Advogados presos por ligação com PCC em MS foram avisados sobre operação: ‘nada será encontrado’

Um dos servidores teria passado informação sigilosa em troca de viagem a Bonito

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(Leonardo França, Midiamax)

Os advogados alvos da Operação Courrier deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado), no dia 25 deste mês, foram avisados sobre a operação que seria para desarticular o núcleo dos ‘Gravatas’ em Mato Grosso do Sul. A investigação identificou 15 advogados ligados à facção criminosa, dos quais quatro foram presos. Também foram presos servidores públicos, que passavam informações aos advogados de ‘recados’.

Segundo relatório do Gaeco, os advogados alvos da operação foram avisados por ‘colegas’ do núcleo. Um dos faccionados do PCC (Primeiro Comando da Capital) ligado a Marcos Willians Herbas Camacho, o ‘Marcola’, enviou um ‘salve’ relatando sobre uma Operação que iria atingir o núcleo dos advogados.

Uma das advogadas avisadas sobre a operação que estava para ser deflagrada teria dito que estava ‘tranquila’, e que “Eles (Gaeco) não tem provas ainda”. A informação também teria sido repassada ao advogado que tinha consultado o nome do delegado do Estado a pedido de um  colega, que faz a defesa de um dos presos da Omertà. 

A operação em cima do núcleo ‘Sintonia dos Gravatas’ começou com investigações após a descoberta que advogados ligados à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) estariam fazendo consultas ao sistema da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Mato Grosso do Sul), pelo nome de um delegado de polícia do Estado.

Advogados e Viagem a Bonito

O ex-chefe de cartório da 1ª Vara de Execução Penal de Campo Grande, que passava informações privilegiadas, como decisões judiciais, manifestações e procedimentos administrativos instaurados em presídios, ganhou viagem a Bonito como ‘presente’ de uma das advogadas do núcleo ‘Sintonia dos Gravatas’.

O presente foi dado após ele fornecer informações, entre elas uma ‘Cota’ do Ministério Público, que tratava da transferência de um dos membros do PCC, ligado a Marcola. A notícia ainda foi difundida em grupos dos ‘Gravatas’, o que causou indignação entre alguns pelo modo como a advogada estava captando de forma ilícita clientes.

Advogado consultou nome de delegado

A consulta ao nome do delegado aconteceu na noite do dia 2 de julho de 2021, após ele citar nomes da alta cúpula da Polícia Civil em audiência, no dia 30 de junho, quando deu detalhes da sua retirada das investigações de homicídios investigados pela força-tarefa da Omertà. Já no dia 2 e na madrugada do dia 3 de julho, o nome do delegado foi pesquisado por três vezes. 

A consulta acabou sendo descoberta. Ela foi feita pelo advogado — que tinha uma senha fornecida por um ex-chefe de cartório — preso durante a deflagração da operação que levou para a cadeia 15 advogados que trabalhavam para a facção criminosa. Na época da consulta, o advogado chegou a dizer que havia feito a checagem para tentar encontrar o telefone do delegado, já que tinha informações para passar sobre o PCC. Ele ainda chegou a dizer que usava essas informações para sua ‘atividade profissional’.

Ainda segundo informações, o advogado teria feito a consulta a pedido de um colega de profissão que seria defensor de um dos presos, na Operação Omertà, e que faria parte do grupo de advogados que prestam serviços de mandar recados e encaminhamento de ‘salves’ do PCC. Neste grupo estariam incluídos sete advogados. O grupo dos ‘Gravatas’ administrariam as contas bancárias e o dinheiro do PCC. 

Senha dada a advogado

O ex-chefe de cartório da 1ª Vara de Execução Penal de Campo Grade foi quem forneceu sua senha para o advogado preso na operação. Foi descoberto que o ex-chefe de cartório ainda passava informações privilegiadas, como decisões judiciais, manifestações e procedimentos administrativos instaurados em presídios. 

Ele também repassou informações e transferências de líderes do PCC para o Sistema Penitenciário Federal. Foram localizadas conversas no celular do ex-servidor acerca de ordens a integrantes do PCC para que promovessem o assassinato de juiz da Vara de Execuções Penais de Uberlândia/Minas Gerais, da juíza e da promotora de Justiça atuantes perante a 2ª Vara de Tóxicos de Belo Horizonte/Minas Gerais.

O ex-chefe de cartório negou que havia passado a sua senha para o advogado, chegando a dizer que, provavelmente, ele teria conseguido a senha ao ver ela anotada em um ‘post-it’ fixado em seu computador. Segundo a investigação, essa informação é nada plausível, já que as senhas são renovadas periodicamente.