Ainda sem data marcada para o julgamento de Nayara Francine Nóbrega, de 22 anos, acusada de matar a tiros Carolina Leandro Solto, a ‘Karolzinha’, no dia 31 de agosto de 2020, a defesa tenta pela absolvição ou ainda por homicídio privilegiado.

De acordo com o advogado de defesa, Paulo Miguel, Nayara só matou a Carolina para se defender já que estava sendo ameaçada de morte pela jovem, que se dizia membro da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). Paulo afirma que todos no bairro sabiam do envolvimento de ‘Karolzinha’ com o PCC, e que constantemente a sua cliente era ameaçada de morte pela vítima.

O advogado ainda relata que ficou muito claro que Carolina era membro de facção devido as suas postagens em redes sociais, com a numeração 3 e também devido às tatuagens. Em suas alegações finais, a defesa alega:

“É importante frisar que, quem começou as ameaças, quem disparou dois tiros em direção a casa da ré, quem xingou e atirou objetos? Não foi Nayara Francine, não foi a ré que trouxe o caos. Neste sentido, depois de ser provocada, depois de ser ameaçada de morte de alguém que foi até sua casa portando arma de fogo, a ré cometeu tal ato, desta forma, tem como exigir regra de controle emocional, diferente do que ela apresentou naquele dia. Uma pessoa marcada para morte por uma integrante de facção criminosa denominada de PCC.”

Em outro trecho é alegado: “Neste caso, traz uma legítima defesa própria e pura, pois, Meritíssimo, o senhor acreditaria que Nayara, mulher que tem dois filhos, que presenciou ameaças de Carolina Leandro que chegou à frente da sua casa disparando dois tiros na sua direção. O senhor MM. Acreditaria que essa mulher iria dormir tranquila? Claro que não senhor MM, o ser humano apesar de racional, ainda é um animal, pelo fato desta condição ser humano apresenta medo, coragem e reação, para garantir sua sobrevivência, a acusada praticou tal ato, infelizmente, mediante as ameaças sofridas pela vítima.”

A defasa ainda diz que caso Nayara seja condenada a regime fechado, ela será condenada à morte, já que existem inúmeras ameaças por parte da facção criminosa denominada PCC, fora e dentro dos estabelecimentos prisionais. É pedido, então, que Nayara seja absolvida pelo crime ou ainda para que seja tipificado como homicídio privilegiado.

Homicídio Privilegiado

Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. A pena é de reclusão de seis a 20 anos.

PCC

Na época do crime, foi levantada a hipótese de facção criminosa depois de um vídeo ser divulgado quando Carolina era socorrida. Um homem não identificado no vídeo afirmava que iria relatar para a facção. Também no enterro de Karolzinha uma frase dita — “É tudo 3 e sempre vai ser 3”  — teria levado a acreditar que seria sobre o PCC.

Mas, na realidade, era uma referência a ela cuidar sozinha dos dois filhos de 2 e 3 anos, segundo um familiar. Karolzinha foi assassinada no dia 31 de agosto, no bairro Aero Rancho.

Segundo esse familiar, a frase “sempre vai ser 3, sempre vai ser nós três”, era dita por Carolina aos filhos, já que ela cuidava sozinha das crianças sem a ajuda dos pais. “Ela não é de facção criminosa e nunca foi envolvida com isso”, disse o parente. Os filhos de Karolzinha sempre perguntam pela mãe, querendo saber se ela vai voltar. As crianças que estão com uma tia já sabem da morte da mãe.

Já sobre a postagem feita por Carolina em suas redes sociais comentando sobre a morte de ‘G7’, membro da facção criminosa PCC, alvo de operação do Gaeco, no dia 28 de agosto, o familiar disse que ela só o conhecia de vista.

Assassinato

No dia do crime, Nayara conta que seguia para a casa da mãe, para pegar o sinal de wi-fi e chamar um motorista de aplicativo. No caminho, ela conta que encontrou com Karolzinha, que estava acompanhada por uma amiga, momento em que resolveu chamá-la e pôr fim, segundo a acusada, nas provocações.

Foi então, de acordo com o interrogatório, que Nayara teria questionado o motivo de Karolzinha ter dado tiros em direção a sua casa na noite em que foi até a festa no Parque do Lageado, momento em que a vítima teria respondido que era “mulher o suficiente para dar tiro” na casa de Nayara. A acusada ainda teria dito para Carolina que a filha sempre ficava no portão da casa, momento em que Karolzinha respondeu que na hora que ela “sentisse vontade de dar tiro ela daria”.

Em seguida, Nayara tirou da mochila uma arma calibre .32 e disparou cinco vezes contra a vítima, sendo que um dos disparos falhou. A vítima foi atingida por quatro tiros e depois Nayara disse que fugiu em um táxi e jogou a arma em um matagal no bairro Guanandi, enrolada em uma camiseta. A arma foi adquirida por R$ 1,3 mil, três dias antes do crime e não foi encontrada até hoje.

Durante o interrogatório, Nayara disse ainda que estragou sua vida e que estava arrependida, porém, se não fosse Karolzinha a ser morta, seria ela. Questionada sobre envolvimento com facção criminosa, a acusada respondeu que não faz parte de qualquer facção, também confirmou que o crime não teve motivação passional.