No mesmo mês em que não conseguiu entregar um Ford Mustang Black Shadow, sorteado em uma rifa, o youtuber campo-grandense Eduardo Rezende da Silva, dono do canal Backstage de divulgação de veículos de luxo, foi denunciado na Justiça por difamação após vender uma caminhonete por R$ 403 mil para duas pessoas diferentes. Uma das supostas vítimas, um empresário que teria pago R$ 10 mil a mais para ficar com o veículo, alega ter sido chamado de “trouxa” pelo youtuber e que também foi acusado por Eduardo de ter roubado a caminhonete. 

Conforme consta no processo por difamação que tramita desde maio na 4ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, o youtuber negociou a venda de uma Dodge RAM 1500 Rebel, ano/modelo 2021, encomendada em dezembro de 2020 em uma concessionária da Capital. No momento da compra, o youtuber teve que pagar um sinal no valor de R$ 20 mil.

A entrega estava programada para o início do mês de maio, quando Eduardo negociou a venda do veículo com o empresário e fechou um combinado verbal de que este teria que pagar um boleto no valor de R$ 383 mil à concessionária para retirar o veículo, além de ressarcir Razuk do valor do sinal.

Além disso, ficou acordado entre eles que o empresário deixaria Eduardo produzir vídeos com a caminhonete para seu canal do youtube, antes de entregá-la ao novo dono. O empresário, então, pagou o boleto de R$ 353 mil e ainda pagaria os R$ 20 mil do sinal, no momento em que pegasse o veículo.

Entretanto, conforme consta na ação, no dia anterior da retirada da caminhonete na concessionária, Razuk teria enviado um áudio no WhatsApp do empresário desistindo da venda. Conforme explicado nas mensagens anexadas ao processo, o youtuber teria alegado motivos pessoais, dizendo que “seus familiares haviam insistido para que ele permanecesse com a caminhonete, por causa de seu canal”.

Em seguida, Eduardo pede a conta bancária do empresário para que seja devolvido o valor do pagamento do boleto à concessionária. Contrariado, o empresário afirmou que iria até o local para impedir a retirada do veículo por Razuk.

Nesse meio tempo, o empresário alega ter ficado sabendo que o youtuber havia vendido a caminhonete para uma terceira pessoa, usando os argumentos apenas como “desculpa”. O empresário, então, afirma ter ido pessoalmente conversar com o outro comprador, que confirmou ter pago o mesmo valor, de R$ 403 mil ao todo, para o youtuber.

Ademais, teve conhecimento de que Razuk teria feito xingamentos sobre ele em um grupo de WhatsApp com 28 pessoas, alegando que o empresário “havia lhe roubado” a caminhonete. Para resolver o problema da compra, o youtuber teria proposto para o empresário o pagamento de R$ 10 mil a mais do valor combinado, para que ele não embargasse a entrega do veículo pela concessionária, o que foi aceito.

De posse das conversas entre Razuk e o segundo comprador, a defesa anexou ao processo a mensagem em que o youtuber fala sobre o empresário. “Já coloquei ele no lugar dele, dei um ‘cala boca’ pra ele. Ele tá p**, né? Que ele até mandou mensagem para você. Mas ela é pra você. Se não for com você, não vai ficar com ninguém a caminhonete (sic)”. Ainda segundo os autos, Eduardo afirma, em outro áudio, ter “ganhado R$ 10 mil de um trouxa”.

Vídeo com sua versão

No dia 8 de junho, após a divulgação de uma cópia da ação publicada em uma rede social, Razuk gravou um vídeo em seu canal no Youtube expondo sua versão do ocorrido. O vídeo foi juntado ao processo e retirado do ar.

Falando com seus mais de 629 mil inscritos, ele afirma: “a gente deixou bem claro pra ele a situação e falou ou você passa a sua conta pra gente depositar o dinheiro e a gente ficar com a caminhonete, ou agora eu não quero nem mais os R$ 20 mil de sinal, agora eu quero 30 [mil reais]. Ou você deposita os R$ 20 mil que eu dei mais R$ 10 mil de indenização pelo rolo que você tá fazendo eu passar, ou [incompreensível]. Sair perdendo eu não vou não”.

O processo que tramita na 4ª Vara Criminal ainda não possui versão da defesa do youtuber e segue em análise pela Justiça.

Não entregou rifa

As informações da reportagem do UOL são de que o veículo, que Razuk apontava como seu, na verdade seria hoje de outra pessoa. Ele teria comprado o automóvel no ano passado e, pouco tempo depois, revendido para o dono de uma loja no interior do Paraná. 

Na reportagem consta que, no entanto, o youtuber alegou que teria comprado o veículo de volta e que o sortearia em 20 mil cotas de R$ 50 cada, o que lhe garantiria R$ 1 milhão. O lucro que teria com a rifa seria de aproximadamente R$ 600 mil, uma vez que o valor da Tabela Fipe do modelo em questão é de cerca de R$ 409,5 mil. 

Contudo, o empresário paranaense afirma que Razuk fez um acordo dizendo que ficaria com o veículo em caráter de aluguel e que, neste período, faria o sorteio e pagaria o valor combinado. 

“O Eduardo ficou cerca de 20 dias com o Mustang e não pagou o valor combinado dentro do prazo, alegando não ter o dinheiro naquele momento. Assim, peguei o carro de volta e coloquei-o à venda em uma concessionária Ford por consignação, com preço Fipe. Não teve subida no valor em momento algum”, disse o empresário ao repórter Alessandro Reis, do UOL.

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BMW apreendida durante investigação. (Foto: Divulgação)

Neste sentido, sem carro para entregar, Razuk disse que ofereceu ao ganhador da rifa o direito de pegar um carro idêntico ou receber o valor em conta. Alegou ao UOL ainda que pagou o sinal referente à locação do Mustang e que, ao final, foi surpreendido com a cobrança de valor acima do combinado. 

Apesar de supostas irregularidades nas rifas, Marlon Ricardo Lima Chaves, advogado de Razuk, disse ao UOL que os sorteios estão ocorrendo dentro de todos os critérios de lisura e legalidade por uma empresa. No caso do Mustang, pontuou que o youtuber “é apenas contratado para divulgação. Todos os impostos estão e vão continuar sendo recolhidos conforme a legislação vigente”, alegou o defensor.

Razuk virou alvo de investigações após desafiar autoridades e passear de carro pelas ruas da cidade durante toque de recolher, em março do ano passado. Ele foi preso em abril, pagou R$ 20 mil de fiança e foi liberado. De acordo com o delegado Ricardo Meireles, titular do inquérito policial pela 3ª Delegacia de Polícia, o rapaz estava com um veículo Corolla de origem paraguaia.