Menino de 12 anos foi encontrado por policiais militares dormindo enrolado em um cobertor, no final da manhã desta terça-feira (5), no Bairro Vila Marli, em Campo Grande. Ele alegou sofrer maus-tratos do padrasto e da mãe. Esta seria a terceira vez que ele “decide viver nas ruas”, e afirmou ter sido obrigado pela mãe a se ajoelhar após questionar o padrasto sobre o dinheiro que recebe vendendo balas de goma nos semáforos.

Policiais militares receberam denúncia de que uma criança estaria abandonada e, ao chegarem no local, encontraram o garoto deitado no chão. Ao ser acordado e questionado de sua situação, o menino respondeu que é agredido pelo padrasto de forma constante. Devido às agressões, ele decidiu morar nas ruas e vender balas, arrecadando entre R$ 50 e R$ 60 por dia. Ele relatou utilizar R$ 15 para comprar uma nova caixa de goma, R$ 5 para picolé e balas para si, e o restante entrega para a mãe, a fim de ajudá-la no sustento de seu irmão, de 2 anos.

O menino ainda informou que possui outro irmão, de 10 anos, que passou a morar em um abrigo “por não aguentar vê-lo sendo agredido pelo padrasto”. Ele teria pedido ajuda a outra equipe policial que passava pela rua, há alguns dias, para acionar o abrigo para buscar seu irmão.

Segundo a criança, na noite do último domingo (3), o padrasto pegou a quantia recebida por ele nas vendas para comprar maconha. Ao questionar o adulto sobre como compraria outra caixa, o menino disse ter sido repreendido pela mãe, que o colocou de joelhos ao solo “para repensar o porquê respondeu ao padrasto”.

Ainda conforme o relato do garoto, o padrasto presenciou a situação e deu risada, colocando pedregulhos para que ele se ajoelhasse. Ao se negar a ajoelhar novamente, o menino disse ter levado um soco na barriga.

O menor de idade insistiu aos policiais que não queria voltar a conviver com sua mãe, e que teme pelo seu irmão de apenas dois anos de idade. Ele ainda teria dito que “se não for adotado, promete não dar trabalho a qualquer abrigo que a polícia o encaminhe”.

O menino alegou estar com muita e disse não ter feito nenhuma refeição desde domingo (3), dia em que fugiu de sua residência. Ele foi alimentado pelos policiais e encaminhado à (Delegacia Especializada no Atendimento à Infância e Juventude), onde foi solicitado contato com o Conselho Tutelar.

Outros registros de maus-tratos

Os policiais militares ainda encontraram, durante checagem no sistema, outro boletim de ocorrência feito no último dia 29, também de maus-tratos, ao menino e ao irmão de 10 anos, onde a mãe e o padrasto configuram como autores.

Também no dia 24 de setembro, por volta de 00h20, outra equipe da PM registrou boletim de ocorrência por maus-tratos e abandono de incapaz ao encontrarem os irmãos. A mãe de uma terceira criança acionou os policiais após seu filho encontrá-los na região da Orla Morena, pedindo ajuda após fugirem de casa. Na ocasião, os irmãos afirmaram que a mãe havia denunciado o padrasto por violência doméstica em setembro de 2020 e que ele “os trata de maneira muito severa”.

À época, o Conselho Tutelar também foi acionado e os irmãos levados para a Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário) Centro, para que fossem tomados os procedimentos legais, pois as crianças precisavam de assistência por parte dos entes públicos. Os dois foram levados pelos conselheiros, visto que a mãe não respondeu ao contato para buscar os filhos na delegacia.