Prisão do suspeito de chefiar ‘Máfia dos Cigarreiros’ em SP pode implicar policiais de MS

O Ministério Público de São Paulo investiga policiais rodoviários estaduais suspeitos de integrarem quadrilha ligada ao contrabando de cigarro do Paraguai. Entre os envolvidos estão três sargentos, um deles o suposto chefe do esquema, e três cabos, todos presos. O Midiamax teve acesso à denúncia na íntegra e apurou que o grupo usava Mato Grosso […]

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O Ministério Público de São Paulo investiga policiais rodoviários estaduais suspeitos de integrarem quadrilha ligada ao contrabando de cigarro do Paraguai. Entre os envolvidos estão três sargentos, um deles o suposto chefe do esquema, e três cabos, todos presos. O Midiamax teve acesso à denúncia na íntegra e apurou que o grupo usava Mato Grosso do Sul como rota principal. A partir da prisão do ‘cabeça’, foi possível descobrir contato com policiais sul-mato-grossenses, que também são investigados.

O inquérito foi instaurado em 2017. À época, os policiais exerciam função no 2º Batalhão de Policiamento Rodoviário. “A área do Batalhão mencionado envolve as divisas dos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná, abrangendo Rodovias que se tornaram rotas de entradas de contrabandistas de cigarros em São Paulo. A origem dos cigarros ilícitos transportados pela organização criminosa, como já é notório e comprovado nos autos, é o Paraguai”, lê-se na denúncia oferecida pelo promotor de Justiça da Auditoria Militar de São Paulo, Fernando Pinho Chiozzotto.

Os policiais facilitavam a passagem das cargas de cigarro em troca de dinheiro. Eles recebiam mesadas de R$ 5 mil em média e, em alguns casos, chegavam a receber R$ 50 mil dependendo do tamanho e valor da carga que liberavam. “A principal função dos denunciados na organização criminosa era, em troca de recebimento de vantagens indevidas (corrupção passiva), fornecer aos transportadores de cigarros ilícitos informações sigilosas da Polícia Militar Rodoviária, em especial informações sobre a existência de equipes do Tático Ostensivo Rodoviário (TOR) de serviço e sobre as melhores Rodovias e horários para que os caminhões transitassem sem que fossem fiscalizados”.

Por conta deste envolvimento de militares, todos os comandantes das companhias da região, adotaram medidas para dificultar o conhecimento geral das escalas do TOR. Cidades como Mirante do Paranapanema (SP), Presidente Epitácio (SP) e Presidente Prudente (SP) na região de divisa com Mato Grosso do Sul, eram pontos de passagem. Em território sul-mato-grossense, a carga vinha da fronteira com o Paraguai, seguia para a ‘rota sul’, passando pelas cidades de Bataguassu e Brasilândia.

Na Vila Amandina, distrito de Ivinhema, policiais que fiscalizavam a região tiveram que ser removidos, por suspeita de participação no esquema. De acordo com informações obtidas pelo Midiamax, o sargento suspeito de comandar a organização criminosa foi ao Paraguai acompanhado de um policial sul-mato-grossense.  “[…] o sargento tinha posição de destaque e liderança na organização criminosa, coordenando a atuação de todos os demais policiais militares envolvidos e dialogando diretamente com os responsáveis diretos pela logística do transporte, até mesmo viajando para o Paraguai para acertar acordos com contrabandistas”.

Por este motivo, a Vara da Auditoria Militar de Campo Grande foi informada e recebeu desmembramento da denúncia, para dar continuidade às investigações. Também foi apurado que, após a Operação Oiketicus, realizada em maio de 2018, os cigarreiros ligados aos policiais paulistas passaram a operar pelo Paraná, como garantia de evitar a fiscalização.  

Oiketicus

A Operação Oiketikus foi desencadeada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) do Ministério Público Estadual e pela Corregedoria Geral da Polícia Militar. Ao todo, 29 policiais foram denunciados por corrupção passiva e organização criminosa, por integrarem a chamada “Máfia dos Cigarreiros”.

As investigações iniciaram em abril de 2017 e apontaram que policiais militares de Mato Grosso do Sul davam suporte ao contrabando, mediante pagamento sistemático de propina, interferindo em fiscalização de caminhões de cigarros para que não ocorressem apreensões de cargas e veículos, além de adotarem outras providências voltas para o êxito do esquema criminoso.

De acordo com a denúncia do Gaeco, os cigarreiros agiam associados desde o início de 2015, estruturalmente ordenados e com divisão de tarefas. As atividades eram desenvolvidas em dois grandes núcleos. O primeiro compreendia a região de Bela Vista, Jardim, Guia Lopes da Laguna, e Bonito; ao passo que o segundo Maracaju, Dourados, Naviraí, Mundo Novo, Iguatemi, Japorã e Eldorado.

Todas as cidades fazem parte da chamada ‘rota cigarreira’, que integra rodovias, estradas e cabriteiras usadas para transportar cigarros produzidos no Paraguai e vendidos ilegalmente nas ruas de cidades brasileiras a preços bem menores que os oficiais, por não pagar impostos.

 

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