Quem anda nas ruas centrais de Campo Grande percebe o aumento da população de rua. Reflexo do momento econômico, o verdadeiro exército de pessoas que lota cruzamentos centrais pedindo se esconde nas áreas urbanas deterioradas, como o entorno da antiga rodoviária, construções abandonadas e terrenos baldios. Parte dele integra a ‘cracolândia’ que se instalou na região, e muitos se envolvem em pequenos delitos para bancar o vício.

As ações policiais, neste cenário, são como ‘secar gelo’. Comerciantes e moradores contam que convivem diariamente com episódios de violência fomentados por narcotraficantes que lucram com o mercado alimentado na base de subempregos, esmolas, furtos e roubos.

E, com a chegada de estrangeiros, a cracolância campo-grandense tem acesso a novos tipos de drogas, que debilitam os usuários em menor tempo de vício. Pequenos furtos e arrombamentos são registrados com maior frequência e a Polícia Militar intensifica as ações ostensivas, mas adianta que o problema não será resolvido se tratado apenas como uma questão de segurança pública.

Questão de saúde pública

Para o tenente-coronel Claudemir de Melo Domingos Braz, comandante do Primeiro Batalhão da Polícia Militar, responsável pela região central de Campo Grande, as pessoas em situação de rua deveriam receber tratamento e acompanhamento porque são um caso de saúde pública. “São necessários leitos a/d (álcool e drogas) de internação voluntária para esses dependentes químicos”, explica.

Secando gelo: drogas novas invadem 'cracolândia' de Campo Grande e PM intensifica rondas
Comandante Claudemir. Foto: Marcos Ermínio, Midiamax

Para garantir a tranquilidade na região do Centro, ele afirma que várias operações são realizadas com o intuito de diminuir a criminalidade na região. “Temos feito operações diuturnas em torno da antiga rodoviária, Orla Morena, praças públicas e até hotéis que dão guarda para viciados que praticam pequenos furtos”.

Em junho, operação da Polícia Militar em conjunto com a Polícia Civil cumpriu 9 mandados de busca e apreensão para coibir o tráfico de drogas. Foram localizados objetos furtados e roubados que muitas vezes eram guardados em hotéis nas imediações da antiga rodoviária.

Traficantes instalados

Sobre pessoas em situação de rua migrarem dos bairros para o Centro, Braz afirma que não só estão migrando como também há pessoas de outros países que chegam em Campo Grande. “Pessoas de outros países se concentram ali (antiga rodoviária), fazem uso de entorpecente e trazem novas drogas, principalmente as sintéticas como substrato de cocaína”.

O coronel alerta que com local especifico para os usuários de drogas se acomodar, como é o caso da antiga rodoviária, chama a atenção de traficantes que fizeram dali um ponto para venda de droga.

“Temos feito um bom trabalho e nos organizamos de forma que a Polícia Militar não perca o controle da situação”, finaliza.

Alvo de arrombamentos, o atendente Carlos Rodrigo Barbosa, 42 anos, comemora a diminuição de usuários de drogas andando, principalmente pela Afonso Pena onde fica o comércio em que trabalha. “Já arrombaram várias vezes aqui”, conta. Questionado sobre a presença da PM no Centro, ele relata que sempre tem viaturas fazendo ronda.

Já a vendedora Elaine Cristina, 45 anos, não tem a mesma opinião de Carlos sobre a presença da PM na rua em que trabalha, 7 de Setembro. Apesar de nunca ter sido vítima de arrombamento, a loja de sapatos em que ela trabalha já teve os cabos do ar condicionado levado pelos bandidos. A rua 7 de Setembro também teve um aumento de moradores de rua.

Em janeiro, ao menos 10 estabelecimentos comerciais foram alvos de bandidos que fizeram um arrastão de furtos e tentativas de arrombamentos. Na época a Polícia Militar enfatizou que avalia pontos críticos através de estatísticas e depois executam as ações para aumentar o efetivo na área.