‘Às vezes a farda pesa’: após julgamento, oficial que matou marido PM desabafa sobre violência doméstica

“Às vezes a farda pesa muito e a gente se esconde em uma armadura que a gente tem que representar o tempo inteiro”. Essas foram as primeiras palavras à imprensa da tenente-coronel da Polícia Militar Itamara Romeiro Nogueira, na manhã desta quarta-feira (6), após passar por julgamento que decidiu aposentá-la da corporação. Ela é acusada […]

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Itamara e o advogado José Roberto. Foto: Henrique Arakaki
Itamara e o advogado José Roberto. Foto: Henrique Arakaki

“Às vezes a farda pesa muito e a gente se esconde em uma armadura que a gente tem que representar o tempo inteiro”. Essas foram as primeiras palavras à imprensa da tenente-coronel da Polícia Militar Itamara Romeiro Nogueira, na manhã desta quarta-feira (6), após passar por julgamento que decidiu aposentá-la da corporação. Ela é acusada de matar a tiros o marido no dia 12 de julho de 2016.

Emocionada, ela não quis comentar sobre o que ocorreu durante o julgamento e preferiu falar sobre o “encarceramento psicológico” que alegou sofrer devido as agressões que viveu durante o casamento. “Esse encarceramento psicológico pode gerar circunstâncias atemorizantes para toda a sociedade, para a família. Eu acredito que as mulheres têm que romper as barreiras e falar, ter voz ativa”, reforçou.

O crime aconteceu durante um desentendimento, quando Itamara foi agredida pelo marido. Na reprodução simulada do crime, ocorrida em agosto de 2016, ela contou que houve uma discussão na cozinha e seu marido Valdeni Lopes Nogueira, de 45 anos, a agrediu no corredor da sala, onde a derrubou e chegou a ficar sobre ela. Ela conseguiu se desvencilhar e, imaginando que o marido fosse buscar a arma que estava no carro, Itamara pegou sua arma que estava na sala e atirou duas vezes.

“Eu continuo angustiada, não sei quando isso vai passar, essa angustia vai caminhar comigo até o momento em que eu possa me libertar de toda essa questão, tanto na esfera criminal quanto na esfera administrativa, mas aos poucos eu vou me libertando”.

No dia do crime, Itamara foi presa em flagrante, mas acabou liberada logo em seguida e desde então responde o processo em liberdade.

Ao final do seu desabafo ela deixou um recado para as mulheres que sofrem violência doméstica. “Independentemente do cargo que exerçam, independentemente de onde estão, sejam donas de casa ou não, se libertem dessas prisões que encarceram psicologicamente, e que podem muitas vezes levar a uma tragédia como foi a minha. Porque se eu tivesse me libertado há muito tempo, talvez eu não estivesse aqui hoje. As mulheres têm que falar mais, tem que ir para as ruas bater panela e dizer: eu não vou apanhar, independentemente de ser autoridade ou não, tem que ter essa coragem”, finaliza.

Julgamento

Foi decidido nesta quarta-feira (6) pelo Conselho Militar que a tenente-coronel Itamara Romeiro Nogueira acusada de matar a tiros o marido, também policial militar, Valdeni Lopes Nogueira, de 45 anos, no dia 12 de julho de 2016 deve ser reformada administrativamente, o que significaria uma aposentadoria compulsória.

A oficial foi julgada por três coronéis do Conselho da Polícia Militar, que parcialmente chegaram a conclusão depois de analisar os 27 anos da carreira de Itamara, a dinâmica dos fatos e os relatos de testemunhas, que a tenente deveria ser reformada administrativamente, não podendo mais voltar as suas funções, diferente da reserva em que o oficial pode voltar.

De acordo com seu advogado, José Rosa, no momento ele aguarda recursos do STF (Supremo Tribunal Federal), e seu julgamento no sobre o crime que cometeu deve ocorrer no início de 2020.

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