A segunda audiência do caso envolvendo o sargento da Polícia Militar, Ricardo Campos Figueiredo, acusado de obstrução de justiça durante a Operação Oiketikus para desmontar “Máfia dos Cigarreiros” aconteceu nesta segunda-feira (25) no Fórum em Campo Grande. Ricardo é um dos 28 policiais presos.

Durante a audiência, três pessoas foram ouvidas, sendo duas testemunhas de defesa e uma informante, esposa de Ricardo. No fim dos depoimentos, Ricardo, acusado de quebrar dois celulares que seria levado como prova no momento da prisão, foi ouvido pelo juiz da Vara de Justiça Militar Estadual, Alexandre Antunes Silva.

Ao final, os representantes do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e a defesa do militar foram intimados a apresentar eventuais requerimentos do caso. Conforme o juiz, caso não haja nenhum pedido, o processo já entrará no prazo de alegações finais. O juiz disse que tem expectativa para que até o final do mês de julho, uma sentença já seja estabelecida para este caso.

Além deste caso, aconteceu a primeira audiência que definirá o destino do Tenente Coronel Admilson Cristaldo Barbosa, também acusado de obstrução de justiça ao negar passar as senhas dos celulares que eram apreendidos pelos agentes do Gaeco.

Nesta audiência, duas testemunhas de acusação foram ouvidas e ao final, os advogados de defesa foram intimados a apresentarem testemunhas de defesa. Ainda não há data prevista para que ocorra a segunda audiência no caso de Admilson.

Quebrou celulares

Segundo apurou o Jornal Midiamax, Ricardo teria se revoltado ao ser informado por um superior de que estava detido e teria quebrado os dois celulares que usava no momento. Figueiredo é nomeado assessor especial no Governo Estadual. Segundo os relatos, além de destruir os equipamentos que seriam apreendidos como prova, ele xingou os colegas de farda responsáveis por cumprir o mandado de prisão.

Consta no portal da transparência do Governo do Estado que a remuneração de Figueiredo como policial é de R$ 7.042,26, já pelo cargo de assessor lotado na Secretaria de Governo, o salário é de R$ 3.247,62, com abonos que podem chegar a R$ 4.881,29. Apesar da renda que ultrapassa R$ 10 mil, Ricardo é investigado em esquema integrado por policiais suspeitos de cobrar propina para facilitar a passagem de cigarro contrabandeado do Paraguai por Mato Grosso do Sul.

28 presos

Os policiais denunciados pelo grupo são Admilson Cristaldo Barbosa, Alisson José Carvalho de Almeida, Anderson Gonçalves de Souza, Angelucio Recalde Paniagua, Aparecido Cristiano Fialho, Claudomiro de Goes Souza, Claiton de Azevedo, Clodoaldo Casanova Ajala, Elvio Barbosa Romeiro, Erick dos Santos Ossuna, Francisco Novaes, Ivan Edemilson Cabanhe, Jhondnei Aguilera, Kelson Augusto Brito Ujakov, Kleber da Costa Ferreira, Lindomar Espindola da Silva, Lisberto Sebastião de Lima, Luciano Espindola da Silva, Maira Aparecida Torres Martins, Marcelo de Souza Lopes, Nazário da Silva, Nestor Bogado Filho, Nilson Procedônio Espíndola, Oscar Leite Ribeiro, Roni Lima Rios, Salvador Soares Borges, Valdson Gomes de Pinho e Wagner Nunes Pereira.

Os crimes apontados no documento datado de 4 de junho são de corrupção passiva, cuja previsão de pena é 12 anos de prisão mais multa, e organização criminosa que, segundo a lei 12.850/2013, pode ter pena de até 8 anos de reclusão.

A denúncia foi oferecida à Junta Militar, que, na próxima segunda-feira (18), irá se reunir para avaliar as denúncias e decidir sobre o início das ações penais.

Máfia dos cigarreiros

Em abril de 2017, a corregedoria da Polícia Militar denunciou sobre determinada “rede de policiais militares, maioria da fronteira, envolvidos em crime de corrupção e organização criminosa“. A situação foi confirmada pelos promotores que verificaram a associação de militares, de diferentes patentes e regiões do Estado, para facilitar o contrabando.

Segundo investigação, os policiais recebiam dinheiro em troca de facilitação, inclusive ao prestarem informações aos contrabandistas. Em algumas situações, as fiscalizações sequer eram feitas e as cargas de cigarro contrabandeado “passavam batido”.

Operação

megaoperação contou com a participação de cerca 125 policiais militares e nove promotores de Justiça. Os mandados tiveram como alvo residências e locais de trabalhos dos investigados, distribuídos nos municípios de Campo Grande, Dourados, Jardim, Bela Vista, Bonito, Naviraí, Maracaju, Três Lagoas, Brasilândia, Mundo Novo, Nova Andradina, Boqueirão, Japorã, Guia Lopes, Ponta Porã e Corumbá.

Todas as cidades fazem parte da chamada ‘rota cigarreira’, que integra rodovias, estradas e cabriteiras usadas para transportar cigarros produzidos no Paraguai e vendidos ilegalmente nas ruas de cidades brasileiras a preços bem menores que os oficiais, por não pagar impostos.

Dentre os policiais militares presos, estão praças e oficiais. Após a realização dos procedimentos de praxe e eventuais lavraturas de autos de prisão em flagrante pela Corregedoria da Polícia Militar, serão encaminhados ao presídio militar de Campo Grande.

Patrimônio duvidoso

O caso mais gritante apontado pelos promotores foi de um cabo da PM lotado no 12º Batalhão de Naviraí que, segundo informações do Gaeco, recebia aproximadamente R$ 3 mil por semana, incompatível com o salário recebido pelos PMs, de R$ 4,4 mil.

O cabo, conforme apurado durante investigação, somava um patrimônio de R$ 7 milhões, valor muito maior que seu salário permitiria juntar. Entretanto, o policial utilizava uma concessionaria de carros como fachada para justifica o dinheiro percebido. Para Gaeco, a garagem servia para lavagem de dinheiro.