Vítima disse à polícia que é alvo de bullying

A Polícia Civil deve concluir em 20 dias o inquérito que investiga o estupro de uma adolescente de 17 anos durante festa de recepção dos novos alunos da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), no último dia 20. No entanto, informações detalhadas não serão divulgadas porque segundo o delegado responsável pelo caso, a vítima tem sido alvo de de ataques machistas.

“Vamos evitar repassar informações porque a vítima nos procurou e contou que está sofrendo bullying. Recentemente ela fez uma publicação em uma rede social, foi criticada e recebeu inúmeros comentários machistas. Isso acaba interferindo nas investigações porque a menina fica acanhada”, explica o delegado Lupérsio Degenore Lúcio, da Delegacia Regional de Dourados

Conforme o delegado, cerca de 10 pessoas já prestaram depoimento, entre eles, representante da UFGD, familiares e amigos da vítima. A polícia aguarda resultado de exames periciais que também devem colaborar com a apuração do que aconteceu no dia do crime.

Áudios vazados

Na semana em que o estupro foi denunciado, áudios de supostos acadêmicos de Engenharia da UFGD vazaram nas redes sociais. Nos comentários, os estudantes contam que a adolescente “merecia” ser abusada sexualmente.

O áudio mostra a conversa entre quatro acadêmicos, que reclamam do acontecido. Segundo eles, o caso estragou a festa e pode prejudicar a comissão organizadora. “Nada a ver, só porque estava com roupa de homem, a mina fica louca e é estuprada. Merecia agora ser estuprada mesmo”, comentou um deles.

De acordo com o Código Penal, fazer apologia a um ato criminoso também é crime. A pena de detenção é de três a seis meses ou multa.

Segundo a acadêmica que divulgou os áudios nas redes sociais, a conversa teria acontecido em um grupo no Whatsapp e o trote foi promovido por acadêmicos da FAEN (Faculdade das Engenharias). No áudio, um dos jovens comenta: “essa guria já deu, menos dado ou mal dado, já deu”. Segundo ele, se não fosse na festa, uma hora iria acontecer e a jovem não teria como escapar.

Machismo na universidade

Na época, a estudante que divulgou as mensagens conversou com o Jornal Midiamax e contou que o machismo está muito presente no ambiente acadêmico e, principalmente, em cursos da área de exatas. “Eu percebi isso quando entrei, no trote recebi uma plaquinha escrito ‘Melancia’. Não entendi e perguntei o que significava, me disseram é porque um cara só não consegue comer sozinho. Ainda completaram dizendo ‘essa placa é dada para a caloura mais gostosa, não precisa se sentir constrangida’”, relembra.

De acordo com a acadêmica, os homens não aceitam que mulheres sejam mais inteligentes na universidade e o assédio acontece em todos os ambientes, não só nas festas. “Não generalizo, então quem não é machista não tem o porquê de se ofender, mas se sentiu ofendido é porque alguma forma de assédio já praticou”, explica. Ela afirma que não teve medo de publicar a denúncia nas redes sociais e espera que os autores sejam identificados o quando antes. Ainda não há informações sobre a autoria dos áudios ou sobre os autores do estupro.

O estupro

A menina foi internada em coma alcoólico com roupas masculinas no Hospital da Vida. O estupro, que teria acontecido no dia 20 deste mês, foi denunciado pela mãe da adolescente. A mãe percebeu vestígios de sangue ao tirar a roupa da filha, que não soube explicar o que aconteceu. Ainda de acordo com a polícia, um caso parecido foi denunciado no fim de semana durante outro trote universitário na cidade.Polícia espera concluir em 20 dias inquérito de estupro em trote na UFGD

No dia, a jovem participou da arrecadação de dinheiro para a realização da festa de um curso de engenharia da Universidade. Já durante o período da noite, ela teria sido encontrada desmaiada em um local ermo, próximo de onde ocorreu a festa, na Avenida Indaiá. De lá, ela foi levada por universitários ao Hospital da Vida A polícia também investiga, que foi que trocou as roupas da jovem.