A difícil rotina da irmã de mulher assassinada

O dia 22 de abril vai ficar para sempre marcado na vida dos moradores da favela Cidade dos Anjos, no Jardim das Hortências, em Campo Grande. Juliana da Silva Fernandes, de 24 anos, foi brutalmente assassinada a facadas pelo ex-marido, Michel Leite de Carvalho, de 29 anos, na frente dos três filhos do casal. A tragédia alterou completamente a vida da família Fernandes. A irmã de Juliana, Ana Paula da Silva Fernandes, de 20 anos, ainda são sabia, mas naquele dia acordou gestante e mãe duas crianças, e foi dormir mãe de seis filhos. 

Pouco mais de um mês dias depois da tragédia, Ana Paula tenta colocar a vida nos eixos e seguir a nova rotina. A dona de casa, que está grávida de 6 meses, acorda, dá banho, café da manhã e leva na escola e na creche, os cinco filhos, dois dela – uma menina de 2 anos e um menino de 4 anos-  e os filhos da irmã, dois meninos de 5 e 9 anos, e uma menina de 2 anos. “Tem sido muito corrido e complicado. Tem que levar na creche cedo. Graças a Deus, consegui colocar os dois [filhos da irmã] na mesma escola. Levo e 11 e pouquinho busco”, conta. 

Ana Paula já requereu a guarda dos sobrinhos e espera um posicionamento da Justiça. “O juiz pediu um prazo de 15 dias para resolver o pedido da guarda. Fica complicado, mas fazer o que?”. Além de Ana Paula, as crianças só tem uma tia, por parte de pai, mas não há contato com ela. “Eles [as crianças] só tem a mim. Para um abrigo eu nunca vou deixar levar. A minha irmã me falou antes de morrer: ‘Maninha, cuida dos meus filhos para mim’. Agora, a minha responsabilidade ficou maior”, completa. 

Mais uma está a caminho (Cleber Gellio)‘Morando com papai do céu’

Ana Paula diz que passado mais de um mês da tragédia, as crianças já não perguntam mais sobre a mãe ou sobre o pai. “Eles já falam que ela está morando com papai do céu. No começo, perguntavam mais, parecia que ela tinha ido no mercado e já voltava. Ninguém esperava uma coisa assim dele. Só o maiorzinho -filho de 9 anos de Juliana- entende melhor a situação. Às vezes, o irmão de 5 anos pergunta pelo pai, e ele fica bravo, porque já entende”. 

Sobre o futuro, a jovem mãe de seis crianças diz esperar que todos sejam trabalhadores e fiquem longe das drogas. “Espero que sejam trabalhadores, sigam o caminho que a minha mãe deu para a gente e não entre na onda que minha irmã foi. Sejam trabalhadores, tenham uma família”. 

O marido de Ana Paula está trabalhando como servente de pedreiro e segundo ela em nenhum momento questionou a decisão dela em assumir os sobrinhos. O problema dela, assim o das outras famílias da Cidade dos Anjos, é a falta de perspectiva em sair do local. “Ainda não sabemos. Foi na Emha (Agência Municipal de Habitação de Campo Grande), mas ainda não sabemos. Alguns conseguiram levar os documentos, outros não”. 

Doações

Depois do susto e dos gastos repentinos, Ana Paula diz que a família está mais estabilizada e todo o enxoval do bebê que vai nascer já está pronto. A única coisa que falta para ela, assim para qualquer gestante, são faldas. Além do bebê que vai chegar, a menina de 2 anos, filha da irmã, também usa faldas. 

Doações podem ser feitas para a família. É só entrar em contato pelo telefone 67 99124-7505.

Tragédia 

A irmã de Juliana lembra com detalhes o dia do crime. “Ela queria assar carne, assou. Ele [ex-marido] ligou fazendo ameaças, ela pediu para beber cerveja e ficou do lado de fora falando no celular com o namorado dela, que eu nem cheguei a conhecer. Nós escutamos o grito e saímos correndo. Os filhos dela viram tudo. Chamamos o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e ela ainda chegou com vida na Santa Casa”, relembra. 

 

 

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Prisão

O suspeito do crime, Michel Leite de Carvalho, de 29 anos, foi preso no dia 27 de abril, na zona rural de Terenos, a aproximadamente 50 quilômetros de Campo Grande. Ele estava se escondendo na fazenda onde mora a irmã. 

Ao ser preso, Carvalho alegou que tentava reatar o casamento e descobriu que Juliana já teria outro namorado, então, motivado por ciúmes, matou a jovem. Ele também afirma que, no dia do crime, havia ingerido bebidas alcoólicas e encontrou a ex em um beco, no Jardim das Hortências, onde ela estava morando, então a esfaqueou 4 vezes. A vítima correu para dentro da casa e, no quintal, o autor deu o último golpe. Após o crime, o suspeito fugiu de bicicleta e teria tido a ajuda de um amigo na fuga, um homem de 53 anos, suposto namorado dele. 

Violência doméstica

Juliana já havia registrado boletim de ocorrência por vias de fato, qualificada por violência doméstica, em 2011. No entanto, ela pediu o arquivamento do processo junto ao Judiciário. Segundo a irmã, Juliana foi aconselhada a não voltar com o ex-marido. “Ele a agrediu. Ela entrou com o boletim de ocorrência, fomos para seguir a vida sem ele, mas ela voltou e aconteceu essa tragédia”.