Oito anos depois de operação, MPF denuncia 32 por fraude e corrupção
Fiscais da Receita estão entre os participantes do esquema
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Fiscais da Receita estão entre os participantes do esquema
O Ministério Público Federal em Corumbá denunciou 32 pessoas por participação num esquema de importações e exportações ilegais de produtos através da fronteira do Brasil com a Bolívia, informou a assessoria de imprensa da instituição.
A trama foi descoberta por meio da Vulcano, operação da Polícia Federal, deflagrada em novembro de 2008, oito anos atrás e era praticada nas cidades de Corumbá (MS) e de Cáceres (MT) e contou com a participação de empresários, despachantes aduaneiros, operadores financeiros e servidores da Receita Federal.
O prejuízo aos cofres públicos, em tributos sonegados, segundo o MPF, supera a casa dos R$ 600 milhões.
A investigação era tratada em sigilo, procedimento quebrado nesta semana. Os réus responderão criminalmente pela prática de descaminho, contrabando, falsidades documentais, corrupção ativa, corrupção passiva, facilitação de descaminho e formação de quadrilha.
De acordo com a assessoria de imprensa do MPF, os envolvidos realizavam importações e exportações fraudulentas de produtos têxteis, pneus, cervejas, perfumes, aditivos químicos e maquinários diversos, e se organizavam em três grupos distintos: importadores que prestavam declarações falsas aos órgãos de controle, empresários que, por meio de fraudes, simulavam exportações a países vizinhos, e servidores públicos da Receita Federal corrompidos, que recebiam propina em troca de facilitar o funcionamento do esquema.
Importações fraudulentas
O primeiro grupo importava grande quantidade de mercadorias sem pagar corretamente os tributos devidos. Para tanto, emitia declarações falsas sobre a origem, valor ou quantidade dos produtos, de modo a se beneficiar dos incentivos tributários instituídos em acordos comerciais. No Brasil, por exemplo, produtos têxteis oriundos de países sul-americanos têm tributação reduzida. Cientes disto, os denunciados declaravam que roupas compradas na China seriam de origem boliviana, pagando, assim, menos impostos do que deviam.
Além disso, em alguns casos, declaravam que importavam produtos em quantidades menores do que efetivamente traziam ao Brasil, para diminuir a base de cálculo dos tributos e pagar, também por essa via, menos impostos do que o devido. E para não serem descobertos, os membros deste grupo utilizavam empresas “laranjas”, para ocultar os nomes dos reais autores das importações, e ainda pagavam, regularmente, propina a servidores públicos com o intuito de evitar que sofressem fiscalização.
Exportações simuladas
Já o segundo grupo, além de também realizar importações fraudulentas de produtos têxteis, simulava exportações de cervejas, com o objetivo de se beneficiar indevidamente de isenção de tributos diversos. Pela legislação brasileira, produtos nacionais destinados ao mercado externo não são tributados em IPI, PIS/COFINS e ICMS – uma forma de incentivar a exportação e contribuir para o superávit da balança comercial brasileira.
Para se beneficiar dessas isenções, o grupo, por meio de fraudes e do pagamento de propina a servidores públicos corrompidos para não fiscalizarem essas operações, declarava que iria destinar bebidas ao mercado externo, mas, na verdade, as desviava para o mercado interno. As mercadorias, na maioria das vezes, sequer saíam do território nacional e eram comercializadas com preços bem abaixo do que a média da concorrência.
Corrupção de servidores públicos
Finalmente, para que todo este esquema de operações aduaneiras fraudulentas funcionasse sem resistência dos órgãos de controle, um terceiro grupo, de servidores corruptos, exercia um papel fundamental. Auditores-fiscais e analistas-tributários da Receita Federal solicitavam e recebiam vantagens indevidas para não realizarem a correta fiscalização de determinadas cargas.
Eles recebiam propina tanto para não coibir ilícitos, quanto para agilizar desembaraços de operações regulares, evitando, assim, que empresários arcassem com os custos da demora ordinária do fluxo de bens no comércio internacional.
Segundo o MPF, após anos atuando, este grupo de servidores públicos transformou parte da Inspetoria da Receita Federal de Corumbá/MS em um verdadeiro “balcão de negócios”, oferecendo a um grande número de pessoas físicas e jurídicas providências ilegais de facilitação de descaminho e de agilização de operações aduaneiras as mais diversas.
“O grau de profissionalismo desta prática ilícita era tal que o grupo atuava de maneira orquestrada e coordenada, com servidores que não apenas repartiam entre si a propina que cada um recebia, como também dividiam tarefas: um deles ficando responsável por receber os valores ilícitos, outro ficando responsável por avocar processos aduaneiros, outro, ainda, ficando responsável por facilitar a passagem de determinado veículo com mercadorias descaminhadas”, esclarece o Ministério Público Federal em Corumbá/MS.
Segundo as investigações, o esquema desvelado era a tal ponto rentável que este grupo cobrava, em média, de U$ 2 mil a U$ 7 mil por cada carga que liberava indevidamente. Estima-se que os servidores receberam dezenas de milhares de dólares por mês, a título de propina, sendo que, na casa de vários deles, foram encontrados e apreendidos milhares de reais e de dólares em espécie, sem origem legal aparente.
Denunciados
De acordo com o MPF, foram denunciados Manoel Orlando Coelho da Silva, Nilton Pereira Santana, Hassan Moussa Zein Eddine, Masoud Honarkar Mirasadi, Deusiram de Araújo Medeiros, Ana Maria Rodrigues Herrera, Javier Yovanni Herrera Ayala, Gilson Ranzuli Salomão, Luiz Nelson Figueiredo de Carvalho, Jackier Padilha da Fonseca, Paulo Lúcio Pereira Fernandes, Ali Issmail Sahely, Luis Maurício Hochman e Rubens Marinho Soares.
O MPF ofertou denuncia também contra Ronaldo Flores, Marcosval Paiano e Ary Flávio Swenson Hernandes, Skran Salleh, Carlos Murilo Souto, Munir Ramunieh, Rildo Barbosa Oliveira e Marcelo Maronez.
Figuram ainda na relação dos denunciados Helena Virginia Senna, Euclides Tayseir Villa Musa, Joelson Santana, Carlos Rocha Lelis, Gustavo Freire, Francisco Rodrigues de Oliveira, Anésio Alvarez, Roberto Mustafá, Juarez Bossan Domit e Paulo Eduardo Borges. Na lista dos denunciados também figurava José Roberto Samogim, que já morreu.
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