A mãe não percebeu a tempo as mudanças na filha causadas pelo uso de drogas
O fim da jovem que teve a ossada encontrada no fundo de uma fossa em Campo Grande no último dia 29 de março foi desfecho de uma vida destruída pelo envolvimento com drogas. Quem conta é a mãe da vítima, identificada pela coincidência entre a data de desaparecimento com a idade estimada do cadáver, e pelo número de próteses de silicone que estavam com o corpo. Quando sumiu, em 2003, Marília tinha 23 anos e já havia ‘acostumado’ a família com períodos em que ficava sem contato com os parentes.
“Aos 11 anos minha filha começou a usar drogas na escola. Mas, no começo, não notei nenhuma diferença nela”, conta a mãe, de 59 anos. Segundo ela, como tinha mais três filhos para criar, e trabalhava fora para ajudar o marido no sustento da casa, demorou uns três anos para entender que as mudanças no comportamento da menina, como agressividade e irritabilidade, tinham a ver com o consumo de entorpecentes. “Era minha caçula e, quando não usava drogas, era boa e amiga. Mas chegou um ponto em que não tinha mais controle. Ela só queria sair, ficar na rua, e se envolvia com gente ruim”, lembra.
Aos 13 anos de idade, a garota fugiu de Sonora, a 363 quilômetros de Campo Grande, onde vivia com os pais. Mas a mãe conseguiu localizá-la e a levou de volta para casa. Os problemas continuaram e a menina engravidou aos 14 anos. A filha dela, que foi criada pela avó, tem atualmente 17 anos e reclama muito da ausência da mãe.
“Consegui segurar um pouco quando estava grávida, mas logo que minha neta nasceu, ela já fugiu atrás de droga”, relembra. A adolescente chegou a ser internada três vezes em clínicas de apoio para dependentes químicos, mas sempre fugia. “Internamos ela em Ribeirão Preto, Uberaba e em São Caetano do Sul. Desta última clínica, ela pulou o muro para usar drogas”, conta.
Na sequência, a jovem se mudou para Rondonópolis (MT), onde se envolveu com um homem supostamente ligado ao tráfico de drogas, e teve o segundo filho, atualmente com 13 anos. “Depois que foi para Rondonópolis ficou pior. ‘Desandou de vez’, e aí, depois que o traficante foi preso, ela voltou a me procurar já grávida do meu segundo neto”, fala. Nesta época, a família estava morando na Capital sul-mato-grossense.
De volta a Campo Grande, a jovem conheceu um homem mais velho com quem começou um relacionamento. “Era um homem educado e gentil, que estava tentando ajudar minha filha a sair das drogas”, conta a mãe. Segundo ela, foi ele quem teria pagado pelas próteses de silicone, que seria uma forma de tentar aumentar a estima da jovem na luta contra o vício. Não adiantou, e as recaídas continuaram. A família voltou então para Sonora. A filha foi junto mas, pouco tempo depois, voltou sozinha para Campo Grande.
Quinze dias depois, ela fez o que seria o último contato com a mãe, em 2003. “No começo achei normal, já que ela sumia por três, quatro meses atrás de drogas. Mas, quando passou um ano, percebi que algo estava errado”, explica a mãe. Ela fez um Boletim de Ocorrência em Campo Grande e outro em Rondonópolis, sem sucesso.
“Desde a primeira reportagem que vi tive certeza que era minha filha”, diz ela, se referindo ao que sentiu quando soube que uma ossada havia sido encontrada justamente no imóvel onde funcionava a empresa do homem mais velho com quem a filha se relacionou. Ele também já morreu.
Os netos moram com a avó e são o que restou de Marília para mãe, que por 11 anos procurou a filha. “Minha neta é a que mais sofre com a ausência da mãe, já o meu neto se fechou e hoje faz acompanhamento por causa da agressividade dele”, fala a avó dos adolescentes. “Esperava encontrar minha filha viva, é muito triste porque era meu sonho poder achá-la”, fala.
Investigação
O caso está sendo investigado pela 6º Delegacia de Polícia Civil, no Bairro Tijuca, localizado na região sudoeste de Campo Grande. Além disso, é aguardado o resultado do exame de DNA feito a partir da ossada da vítima para comprovação da identificação dela, que está previsto para o início de maio.