Em região de conflito, frei que visita aldeias recebe recado ameaçador
Voluntária registrou o caso na Polícia Civil
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Voluntária registrou o caso na Polícia Civil
Uma voluntária de 50 anos, procurou a Polícia Civil da cidade na tarde desta sexta-feira (30) para registrar boletim de ocorrência em que registra a ameaça velada feita por um homem por volta das 10h ao frei Álido Rosa, de 78 anos. O rapaz a abordou na saída do mercado e afirmou que o frei deve ter “ter cuidado”. Álido é conhecido por seu trabalho com indígenas, o que, segundo o homem, irrita os pecuaristas, que teriam ‘ódio dele; . A cidade fica no Cone-Sul, uma das regiões que é foco dos conflitos agrários entre fazendeiros e índios em Mato Grosso do Sul.
De acordo com o boletim de ocorrência, o homem abordou a mulher, que trabalha voluntariamente no Bazar da Comunidade, perguntando do frei. Ela respondeu que ele estava na cidade e não em Santa Catarina, estado em que nasceu e visita constantemente.
O autor pediu para ela repassar o seguinte recado: “pra ele ter cuidado, se preservar, pois o momento não é bom pra vocês, embora eu conheço que o trabalho de vocês é do bem, entre os ruralistas há inimigos e interpretam que o Frei incentiva as invasões dos índios, e que tem alguns pecuaristas que têm ódio do frei, então agora é um momento de cautela e de cuidado”.
A voluntária informou que ligou para um serviço de proteção aos direitos humanos do Governo Federal e a orientação que recebeu foi registrar o boletim de ocorrência.
De acordo com as informações da delegacia não houve ameaça como caracteriza a lei. O boletim de ocorrência foi aberto como preservação de direito. “Não haverá investigação do fato, mas é uma medida de preservação para a mulher, caso ocorra novamente já tem o boletim”, explica.
O frei Álido Rosa tem 78 anos e há décadas, segundo a irmã Joana, que atua na Paróquia São Francisco Sales de Campo Grande, convive e faz visitas às aldeias indígenas da etnia guarani-kaiowa levando mantimentos. “Ele é conhecido como ‘painho’ pelos indígenas de lá, eles gostam muito dele, tem uma relação muito boa”, destaca.
Iguatemi, que fica a cerca de 460 quilômetros de Campo Grande, é um dos municípios que sofre com o conflito agrário. Na década de 70, a União retirou os índios das áreas tradicionais e titulou as terras aos proprietários rurais, época que foi criada a Aldeia Porto Lindo, situada em Japorã.
Anos depois, os indígenas começaram a reivindicar a terra tradicional, iniciando, em 1982, o procedimento demarcatório da Terra Indígena Yvy Katu. Em 2005, uma área de 9484 hectares – que engloba parte de 14 fazendas – foi declarada como tradicional pelo Ministério da Justiça, mas ações judiciais barraram a demarcação definitiva do território.
Em dezembro de 2009 houve confronto entre indígenas e fazendeiros, durante uma tentativa de ocupação na fazenda Cachoeira, situada no limite entre Tacuru e Iguatemi. Em dezembro de 2011 outro confronto foi registrado, quando indígenas, representantes do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Força Nacional e MPF (Ministério Público Federal) estiveram no local.
Ainda na região do Conesul foi registrado, na mesma época, tiroteio. Líder indígena viu dois homens de moto invadiram o Acampamento Pyelito Kue, próximo ao município de Iguatemi, atirando contra os índios. No mesmo local, no dia 18 de novembro, foi registrada a morte do cacique Nísio Gomes.
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