Para tentar soltar Luciano, defesa mostra trechos de conversas dele com ex-vereador

Um “anjo” cuidando de um “inconsequente”. Pelo menos foi assim que, durante certo tempo, o ex-vereador (sem partido, ex-PSL) disse enxergar o empresário Luciano Pageu e a si próprio, respectivamente.

Isso até 16 de abril, quando Luciano foi preso em flagrante extorquindo R$ 15 mil de Alceu, sob argumento de esconder conteúdo no qual o ex-vereador aparecia praticando sexo com duas adolescentes. Naquele dia, o então parlamentar disse à polícia ter caído em um golpe, após acreditar inicialmente que o empresário pretendia, mesmo, ajudá-lo.

A defesa de Luciano anexou a um pedido de habeas corpus, feito ao TJMS (Tribunal de Justiça), transcrição em texto de conteúdo que alega ser de conversas entre o empresário e Alceu. O objetivo é provar que “não havia constrangimento, ameaças ou qualquer atitude que pudesse configurar crime tipificado”, conforme dita o advogado Antonio Cesar Jenuino em petição feita ao desembargador Francisco Gerardo de Sousa, da 3ª Câmara Criminal, no dia 11 de maio.

São dez páginas nas quais, basicamente, Luciano e Alceu falam em orar, trocam citações bíblicas, combinam de ir a um ‘monte' – possivelmente um local para orações. E, entre milhares de mensagens cheias de erros de português, deixam algumas indicações que podem ajudar a provar o envolvimento de ambos em um caso de exploração sexual de jovens, chantagem e extorsão. Tudo em nome de Deus.

O conteúdo transcrito nas dez páginas compreende aparentemente mensagens de celular trocadas entre as 21h39 de 23 de março e a tarde de 16 de abril. Provavelmente minutos antes de Luciano ser preso, juntamente com o ex-vereador Robson Martins, em um estacionamento de supermercado, ao colocarem as mãos em R$ 15 mil em dinheiro levados pelo agora ex-vereador.

“Deus desceu do céu e falou Luciano… cuida daquele inconsequente”, disse Alceu a Luciano no dia 23 de março. “Não, amado, temos que ajudarmos ums aos outros este e o semtido da vida (sic)”, respondeu o interlocutor.

Alguns dias depois, ainda conforme as transcrições, Alceu digitou: “Você é o anjo que Deus colocou meu lado”. Luciano devolveu: “Sou agradecido a Deus por ter mindado esta oportunidade de poder ajudar um irmão”.

As conversas também indicam vários encontros entre ambos. Na Câmara Municipal, na empresa de Alceu, na de Luciano e em restaurantes em diferentes regiões de .

No dia 16, pela manhã, Alceu manda para Luciano: “Estou preocupado”. “Está tudo em ordem”, responde o empresário. “Ufa.. me tranquiliza”, emenda o ex-vereador.

As transcrições terminam na tarde do mesmo dia. “Estou girafas tomando água. Vem aqui”, diz Alceu, seguido de um “ok” de Luciano.

Negado

Neste mesmo habeas corpus, o TJ já negou liminar para soltar Luciano, no dia 28 de abril. Dias depois, a Procuradoria-Geral de Justiça opinou contra a ideia de dar liberdade ao empresário.

Tentando reformar a decisão inicial, a defesa alega não haver provas para manter Luciano preso. Além da transcrição das mensagens, diz que ele é pai de dois filhos, para os quais paga pensão, e precisa administrar duas empresas: “o paciente tem lutado com muita dificuldade para manter suas empresas em funcionamento, evidente que os fatos causaram destruições de todos os trabalhos realizados nos últimos anos”.

Presos

Além de Luciano e Robson, Fabiano Viana Otero está preso por envolvimento no caso. Os três teriam o bolado o plano que, segundo consta, consistia em aliciar jovens para fazer programas sexuais com figuras públicas na cidade; os encontros eram registrados em microcâmeras e, depois, o conteúdo seria usado para chantagear e extorquir os ‘clientes'.

Depois que o caso foi à tona, Alceu Bueno renunciou ao cargo de vereador. Ele foi indiciado por favorecimento à exploração sexual, com o ex-deputado estadual Sérgio Assis (sem partido, ex-PSB), outro ‘cliente' das garotas, conforme apontam investigações policiais.

Fabiano Viana Otero acertou delação premiada com a Justiça. Prometeu entregar outros envolvidos no caso, mas, até o momento, as investigações seguem sob sigilo e nenhum outro nome de ‘figura pública' surgiu.