Josemar Ferreira da Silva, de 29 anos, e morador de Campinas (SP), preso no último dia 10 de março, com 93 tabletes de maconha, que totalizaram 69,80 quilos, em frente da Base Operacional da Polícia Militar Rodoviária da MS-134, de Nova Andradina, desapareceu da Cadeia Pública. O sumiço do traficante foi constatado no sábado (15), não havendo precisão sobre o dia e hora da suposta fuga. 

No dia da prisão, durante o flagrante na base do 14º BPMRv (Batalhão da Polícia Militar Rodoviária), comparsas de Josemar haviam oferecido, aos patrulheiros da PM, via mensagem de celular do suspeito, a quantia de R$ 100 mil pela sua liberação. Os militares recusaram a oferta e encaminharam o autor e a droga aos cuidados da Delegacia de Polícia de Batayporã, e chegou a relatar o fato.
Após o encaminhamento para outra autoridade policial, Josemar acabou “desaparecendo” na semana passada.
O delegado de Regional de Polícia Civil, André Novelli, disse que tem conhecimento da fuga e que as providências para apurar as responsabilidades estão em andamento.
“Será instaurado um processo aqui na Delegacia Regional para apurar criminalmente a ação. Simultaneamente, a Corregedoria de Polícia de Mato Grosso do Sul vai apurar as faltas administrativas envolvendo os policiais que mantiveram contato com o detento”, comenta. 
De acordo com o delegado, a direção da Cadeia Pública contou com a parceria da PM (Polícia Militar), que realizou um pente fino no local. Na ação, que ocorreu na quinta-feira (13), foram apreendidos dois telefones celulares e os policiais constataram que grades de uma das celas haviam sido parcialmente serradas pelos detentos. 
Em relação ao valor oferecido pelos comparsas do traficante, no dia da prisão, o delegado disse que o fato será apurado. “O caso é grave e esse é um fator que também será investigado”, afirmou. 

Problemas

Atualmente, mais de 160 presos estão sob a responsabilidade da Polícia Civil Regional, que atua em Ivinhema, Batayporã, Bataguassu e Nova Andradina, onde se concentra o maior número de detentos.
O caos do sistema público de reclusão – regime fechado – vem sendo denunciado há anos, porém, nenhuma ação que resolva o problema foi tomada até o momento. 
Na visão dos servidores que atuam na área de segurança pública, a Agência Estadual do Sistema Penitenciário (Agepen) deveria ter assumido a responsabilidade dos presos, bem como criar novas vagas e contratar mais agentes. 
“Não tem lugar mais para colocar detentos e, apesar disso, a cadeia continua recebendo pessoas. Onde caberiam 24 presos, há 100 deles e o pior, com apenas um agente vigiando”, lamenta um policial, que preferiu não se identificar. 
Outro fator que incomoda os policiais envolvidos no sistema é a falta de representatividade política em resolver o problema. “A situação dessa cadeia é muito mais crítica do que a sociedade pensa. São nove celas com presos, que são separados para evitar casos de morte entre eles, o que causaria um motim sem controle. Além disso, no dia de visita, eles recebem cerca de 120 familiares, com apenas um agente para cuidar”, comenta. 
Na visão dele, não é necessário ser especialista em segurança pública para saber que o sistema está em colapso. “Toda vez que a imprensa divulga algo a respeito dos problemas que a cadeia enfrenta, representantes do Poder Público vão até o local, fazem fotos, anotações, mas depois desaparecem. Tanto os políticos, quanto o próprio Sindicato dos Policiais de Mato Grosso do Sul (Sinpol), se mantém inertes”, criticou. 
“É banho de sol, oração de evangélicos, higienização, almoço, jantar, visita do padre… Tudo isso com apenas um agente para controlar a abertura das celas. Até quando?”, questiona o policial. 
Ainda de acordo com servidores que lidam com os detentos, cerca de 70% deles são de alta periculosidade, com envolvimento em tráfico de drogas e roubos com emprego de violência e armas pesadas, como no caso do traficante preso, que fugiu da Delegacia de Batayporã, uma vez que, a cadeia daquela cidade apresenta deficiências semelhantes. 
Com criminosos de toda parte do país e de facções diversificadas, além da superlotação, a situação da cadeia local já interfere no atendimento ao público, ou seja, o cidadão de bem, que procura a delegacia durante a madrugada, corre o risco de não ser atendido. 
Os policiais evitam a elaboração de ocorrências fora do horário de expediente, porque o único funcionário que cuida das celas durante o dia, trabalha só até as 18 horas. “Que certeza eu tenho de que a pessoa que está na recepção às 2 horas ou 3 horas da manhã não é um bandido que veio resgatar outro? Prefiro não abrir a porta”, desabafou um policial. 
Alerta
Temendo uma possível fuga do traficante, o delegado de Batayporã, Luis Quirino, já havia protocolado documento solicitando a transferência de Josemar Ferreira da Silva para uma penitenciária estadual. 
A equipe de reportagem apurou que, na ocasião, o traficante Josemar foi o único a desaparecer na Cadeia Pública, uma vez que, os demais detentos permanecem normalmente nas celas. 
Um dos militares que atuou na ocorrência em que o traficante, que conseguiu escapar da Cadeia de Batayporã, havia sido preso, preferiu não comentar o caso, mas deixou visível a frustração de ver seu trabalho e de seus colegas “jogado no lixo”, como ele mesmo definiu o caso que culminou no desaparecimento do autor. (Com informações do site Nova News)