A polícia egípcia lançou gás lacrimogêneo contra dezenas de manifestantes que atiravam pedras no Cairo neste domingo, no quarto dia de confrontos de rua que já mataram pelo menos 42 pessoas e agravam os problemas enfrentados pelo presidente Mohamed Mursi.

No pior distúrbio, 33 pessoas morreram em Port Said no sábado, segundo fontes do setor de segurança, quando irromperam protestos depois que um tribunal condenou à morte 21 pessoas, a maioria da cidade, pelo papel que desempenharam durante um tumulto que deixou vários mortos num estádio de futebol local, no ano passado.

Milhares de pessoas tomaram parte de procissões nos funerais em Port Said, neste domingo, disse uma testemunha por telefone, acrescentando que ouviu tiros e o som das sirenes de veículos de emergência. Mas não há, por ora, relatos sobre novas vítimas.

Adversários de Mursi também têm saído às ruas em todo o Egito desde quinta-feira, acusando a ele e seus aliados islamistas de traírem a revolução que derrubou o presidente Hosni Mubarak, em 2011. “Nenhum dos objetivos da revolução foi cumprido”, disse Mohamed Sami, um manifestante na Praça Tahrir, do Cairo. “Os preços estão subindo.

O sangue dos egípcios está sendo derramado nas ruas por causa de negligência e corrupção, e por que a Irmandade Muçulmana está governando o Egito segundo seus interesses.” Em uma ponte perto da Praça Tahrir, jovens atiravam pedras contra a polícia antimotim, que usou gás lacrimogêneo para forçá-los a voltar à praça, o epicentro da revolta que eclodiu em 25 de janeiro de 2011 e derrubou Mubarak 18 dias depois.

Os últimos protestos haviam sido programados inicialmente para marcar o aniversário da revolta, na sexta-feira. As embaixadas britânica e norte-americana, ambas situadas perto da Praça Tahrir, informaram que ficariam fechadas para atendimento ao público no domingo, que no Egito é dia útil.

A violência dificulta a árdua tarefa de Mursi de tentar consertar a economia e esfriar os ânimos antes da eleição parlamentar prevista para os próximos meses – processo considerado fundamental para consolidar a transição do Egito para a democracia.

Os confrontos de rua expuseram a profunda cisão no país. Liberais e outros opositores acusam Mursi de não cumprir promessas para a economia e não cumprir o compromisso de representar todos os egípcios. Seus partidários acusam a oposição de tentar derrubar o primeiro líder eleito por meios democráticos no Egito.

DIVISÕES

O Exército, que governou inerinamente o Egito até a eleição Mursi, em junho, voltou às ruas para restaurar a ordem em Port Said e Suez, outra cidade portuária, no Canal de Suez, onde pelo menos oito pessoas foram mortas em confrontos com a polícia.

Em Port Said, moradores disseram que houve troca de tiros durante a noite. Lojas e muitos locais de trabalho estão fechados neste domingo. Muitos egípcios estão frustrados com a constante escalada da violência que prejudica a economia e os seus meios de subsistência. “Eles não são revolucionários protestando”, disse o motorista de táxi Kamal Hassan, 30, referindo-se às pessoas reunidas ena Praça Tahrir. “Eles são bandidos que destroem o país.”