Em 1998, juízes de MT recusaram mandar prender Arcanjo, ex-bicheiro preso em Campo Grande

As investigações para o desmoronamento do “Império” do ex-poderoso João Arcanjo Ribeiro sofreu dois golpes e não aconteceu por duas vezes. Primeiro em 1998 as investigações da Polícia Civil foram interrompidas por um motivo óbvio: vazamento de informações. Em 2001 elas foram retomadas, e com quase tudo pronto, outra vez as investigações sofrem um duro […]

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As investigações para o desmoronamento do “Império” do ex-poderoso João Arcanjo Ribeiro sofreu dois golpes e não aconteceu por duas vezes. Primeiro em 1998 as investigações da Polícia Civil foram interrompidas por um motivo óbvio: vazamento de informações. Em 2001 elas foram retomadas, e com quase tudo pronto, outra vez as investigações sofrem um duro golpe: três juízes alegaram “foro íntimo” e não quiseram expedir os mandados de busca e apreensão e as prisões preventivas contra a quadrilha chefiadas por João Arcanjo. Nesta semana, pela terceira vez João Arcanjo teve frustrado seu recurso que pede sua transferência do presídio federal de Campo Grande para outra localidade. Arcanjo está detido na capital sul-mato-grossense desde 2007.

Um membro do Judiciário de MT conversou com a reportagem do Portal de Notícias 24 Horas News quando detalhou o que aconteceu na época, antes da “Operação Arca de Noé” em 2002. Mesmo assim, até hoje ninguém conseguiu provar, muito menos explicar como “Arcanjo” fugiu e só foi preso mais de um ano depois, em 2003, no Uruguai.

Dividida, pois na época a Polícia Civil, segundo as investigações, além das acusações de receber propina, muitos policiais e militares também recebiam “presentes”, inclusive riquíssimas cestas de Natal.

Por isso, as investigações que começaram 1998 fracassaram. O óbvio aconteceu: alguém foi correndo contar para o “patrão” – como era tratado Arcanjo na época -, que as investigações estavam em andamento e que ele, mesmo que “impossível” poderia, pelo menos correr o risco de ser indiciado.

As investigações, no entanto, retomaram no final de 2001 com mais força, pois contavam com as participações de vários promotores. Com mais força e com mais sigilo, as investigações avançaram a um tal ponto, que foi possível representar pelas buscas e apreensões e por diversas prisões preventivas, entre ela a do bicheiro João Arcanjo Ribeiro.

Só que, veio o segundo golpe. Três juízes foram procurados por promotores de Justiça de Mato Grosso para assinarem as buscas e as prisões, mas nenhum deles teve coragem. Foram três não e muitas desculpas. Na época ninguém sequer ousava entrar num mesmo banheiro onde Arcanjo estava fazendo suas necessidades fisiológicas.

Quando João Arcanjo ia jantar em um restaurante, seus seguranças cercavam o local, inclusive o banheiro, pois quando Arcanjo entrava no banheiro os seguranças não deixavam outras pessoas entrarem até que o “patrão” saísse.

Os três falaram a mesma coisa: “foro íntimo” com a principal desculpa. Os magistrados também alegaram que não teriam respaldo do Tribunal de Justiça.

Ao ser procurado antes por promotores, um dos juízes ainda chegou a confirmar que assinaria as buscas e as prisões nas próximas 72 horas. O tempo passou, e o magistrado não assinou e ainda assumiu que estava com medo. Afirmou inclusive que não colocaria em risco a vida dele e de sua família.

Morta pela segunda vez, as investigações foram parar nas mãos do procurador Federal José Pedro Taques, que representou pelas prisões preventivas e pelas buscas a apreensões. O juiz Julier Sebastião das Silva, da 1ª Vara Criminal Federal decretou todas.

João Arcanjo Ribeiro, o “Comendador”, é ex-policial em Mato Grosso e se tornou dono de jogo do bicho e dono de empresas de “factoring” e de uma rede de hotéis. A mega “Operação Arca de Noé” foi montada pelo Ministério Público de Mato Grosso com a participação da Polícia Federal, para prender e indiciar Arcanjo e desmontar sua organização criminosa.

Na operação, foram mobilizados 160 policiais federais, 30 policiais rodoviários federais, três procuradores da República, vinte promotores de Justiça e seis fiscais federais. Foram feitas buscas em 20 lugares diferentes, quando foram reunidos uma série de documentos que comprovariam a prática do crime de “lavagem” de dinheiro, sonegação fiscal e formação de quadrilha .

Dentre os bens de Arcanjo apreendidos na operação, estão 2.303 imóveis, sendo 1.384 apartamentos em construção e outros 710 já prontos; uma fazenda de psicultura com 3.768 hectares e outra de soja, com 8.260 hectares; um “shopping center”; três hotéis no país e um em Orlando, nos EUA. Além dos imóveis, foram apreendidos uma aeronave Cessna Citation, no valor de US$ 6 milhões.

Também foram apreendidos trinta outros veículos, 105 bens móveis, dentre jóias e barras de ouro; e mais de seis mil itens correspondentes a ativos financeiros no país, que totalizam mais de R$ 38 milhões. Foram indisponibilizados também cerca de R$ 8,6 milhões que estavam depositados em contas correntes bancárias no país em nome do bicheiro.

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