O governador em exercício do Amapá, Dôglas Evangelista, defendeu neste sábado (11) em entrevista ao G1, a volta ao cargo do governador Pedro Paulo Dias (PP), preso nesta sexta-feira (10) na Operação Mãos Limpas da Polícia Federal. Para Evangelista, presidente do Tribunal de Justiça do Amapá, o cargo pertence a Dias e, enquanto ele não for condenado, deve continuar respondendo pelo Executivo. Pedro Paulo Dias é candidato à reeleição.

Ele era vice de Waldez Góes (PDT), também preso na operação da PF e que renunciou ao cargo de governador para se candidatar ao Senado. “Este problema é antigo, ele era secretário ainda. Então, eu não vejo problema nenhum em ele continuar governando. Ele vai responder na medida das suas possibilidades”, afirmou Dôglas Evangelista. Esperando a volta do governador preso ao cargo, Evangelista disse que vai manter basicamente a mesma estrutura de governo do antecessor. Apenas os secretários presos serão substituídos.

Outros que são investigados e foram levados para dar explicações à Polícia Federal serão mantidos em seus postos. Apesar disso, Ramos promete “supervisionar” o trabalho dos suspeitos. Ele afirmou que baseou as poucas medidas em conversa que manteve com o ministro do Superior Tribunal de Justiça, João Otávio de Noronha, que determinou as prisões e autorizou a deflagração da operação. Segundo o governador em exercício, as recomendações foram acalmar a população e nomear pessoas de confiança para cargos na área econômica do estado.

A primeira medida do novo governador foi suspender pagamentos a fornecedores. Na terça-feira (14) – segunda é feriado no estado -, já devem ser liberados pagamentos de servidores e, aos poucos, será normalizada a situação dos fornecedores, informou Evangelista. Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

G1 – Qual a análise que o sr. faz do momento político do Amapá, com o governador preso, com outras autoridades sob investigação e diversas suspeitas de corrupção?

Dôglas Evangelista Ramos – Acho um momento grave, principalmente porque está em andamento uma eleição para governador, senador, deputados federais e estaduais. Essa bomba, que tem o epicentro aqui em Macapá, pegou todo mundo de surpresa. Esse inquérito começou em 2003 e veio explodir agora, em cima da eleição.

G1 – O que o sr. pretende fazer agora respondendo pelo Executivo?

 Evangelista – O ministro [João Otávio de Noronha, do STJ], pediu que eu assumisse, tomasse pé da situação, acalmasse a população e colocasse pessoas da minha confiança nesses postos chaves da área econômica, de planejamento. Uma das atitudes que eu já tive foi de mandar suspender todos os pagamentos já na sexta-feira (10). A partir de terça-feira (14) – porque segunda-feira (13) aqui é feriado – vamos retomar aos poucos estes pagamentos. O estado não pode parar porque a cada dia que o estado fica paralisado mais as pessoas vão sofrer. Então, pagamentos de merendeiros, de pessoal, isso vai ser feito porque precisa de dinheiro para movimentar o comércio. Fiz algumas alterações de governo, mudei secretário de um lugar para outro, para adequar ao pensamento meu, de uma administração ágil e correta.

G1 – O sr. acha que não haverá a conversão da prisão temporária [cinco dias, prorrogáveis por mais cinco] em preventiva?

 Evangelista – Nós temos cinco dias de governo, prorrogáveis por mais cinco. Creio que não haverá prisão preventiva porque este inquérito, embora corra em sigilo, é um inquérito muito grande e aqui em Macapá aconteceram mais de 70 buscas e apreensões de documentos e computadores. A análise dessa documentação vai demandar muito tempo. Uma prisão preventiva agora não teria muito efeito porque daqui a 90 dias teria que mandar soltar todo mundo. É melhor concluir o inquérito e, se houver necessidade, que decrete a prisão. Por enquanto, acho que não haverá. No máximo, serão 10 dias. Por isso, estou administrando o estado mentalmente só por cinco e mais cinco dias.

G1 – Em relação aos secretários suspeitos de envolvimento no caso e que foram conduzidos para prestar depoimento, eles vão continuar? Evangelista – Vão, mas sob supervisão. G1 – Como será essa supervisão?

Evangelista – Primeiro, eu vou chamá-los, para eles não assinarem documentos sem ler. E eu estou colocando meu diretor-geral no Executivo para supervisionar. Vamos botar um freio nisso aí e quero entregar o governo do estado para o doutor Pedro Paulo sem nenhum problema.

G1 – O senhor acha que Pedro Paulo Dias tem condições de voltar a governar o estado?

Evangelista – Este problema é antigo. Ele era secretário ainda. Então, eu não vejo problema nenhum em ele continuar governando. Ele vai responder na medida das suas possibilidades.

 G1 – Não pode prejudicar a imagem do estado o governador sair da cadeia de volta para o cargo? Evangelista – Acho que não. A imagem já foi bastante machucada.

G1 – O sr. acha que ele teria de voltar para o cargo?

Evangelista – O cargo é dele, ele tem que voltar ao cargo. Enquanto ele não for condenado, ele é considerado inocente. G1 – Em relação aos presidentes de outros poderes, não há problema também? Evangelista – O Jorge Amanajás (presidente da Assembleia Legislativa e candidato ao governo do Estado pelo PSDB) foi chamado só para prestar esclarecimentos. O do Tribunal de Contas (Julio Miranda), eu estranhei, porque ele foi preso porque É um cidadão de uma vida econômica boa, já foi comandante da PM, três vezes deputado, ele já acumulou recursos. Eu não sei porque ele foi preso. Diz que o inquérito é um negócio de fundo, o Tribunal de Contas não tem nada a ver com fundo. Ele deverá deixar a presidência porque a eleição lá [no Tribunal de Contas] deverá ser agora.

G1 – O sr. trabalha com a possibilidade de reestruturação do secretariado caso a prisão temporária do governador seja convertida em preventiva?

Evangelista – Se for além do que foi definido pelo ministro, eu vou fazer mudança sim.

G1 – Que mudanças?

Evangelista – Vamos fazer uma auditoria em todos os órgãos, mudar secretários, se for necessário, e manter aqueles que trabalham com eficiência. Vai ser o princípio da eficiência. Vamos fazer um planejamento para o estado.

G1 – Por enquanto, então, o sr. vai se posicionar apenas como um interino?

Evangelista – É isso mesmo, só cinco dias, totalmente interino.