Poucos sabiam que Jonir Figueiredo carregava um santo no nome e no coração. Jonir Benedito de Figueiredo — promessa feita por sua mãe ao povo de Cuiabá, onde fé e arte se entrelaçam como raízes profundas no cerrado.
Neste domingo, 27 de julho, Mato Grosso do Sul se despede de um de seus filhos mais singulares e luminosos. Jonir partiu em Bonito, aos 73 anos, pouco antes de completar 74, no dia 23 de setembro.
Filho do comandante prático Totó Figueiredo, da lendária navegação da Bacia do Prata, e de Nhanhã, mulher de fé e força, Jonir cresceu entre as águas e as artes. Teve três irmãos: José, Joacir, e a irmã gêmea, Janice — como se já viesse do ventre em dupla, em contraste e harmonia.
Artista de essência inconfundível, Jonir não pintava apenas telas, pintava o tempo. Pintava com palavras, gestos, sons, silêncios. Com ele, a arte deixou de ser ornamento e virou grito, memória, provocação.
Disse a professora Maria da Glória Sá Rosa:
“A arte de Jonir faz parte de um mural de narrativas nas quais se podem ler espaços da crônica da vida sul-matogrossense.”
E assim é. Suas cores e traços estão eternizados no livro “Vozes das Artes Plásticas“, publicado pela Fundação de Cultura de MS sob a gestão de Américo Calheiros — um ato que resistirá ao tempo e seguirá iluminando as gerações sobre os verdadeiros mestres da arte regional.
Jonir foi um dos pilares do Movimento Guaicuru, que nos anos 60 e 70 desafiou a pasmaceira conservadora e deu novo fôlego à arte visual em MS. Neste vídeo-depoimento, ele revive essa saga com brilho nos olhos, como quem atravessa novamente os rios da própria juventude criadora.
Viva Jonir! Viva o Benedito da rebeldia, da beleza e da cultura. Viva a Unidade Guaicuru.
Porque certos artistas não morrem. Eles se tornam cor.

*Bosco Martins é escritor e jornalista