Ao apanhar na estante, aleatoriamente, um livro para leitura em voo longo, pego Urupês, de Monteiro Lobato, que reúne contos que consagrou o autor fora da literatura infantil em que se destacou a ponto de ser até hoje a maior referência nacional.
O Monteiro Lobato ecologista, ambientalista e nacionalista é muito conhecido. Seus textos foram os primeiros e mais importantes no que toca a então inexistente educação ambiental, que não perderam atualidade.
Ocorre que, por mais incrível que possa aparecer, escapou aos governantes e legisladores uma sugestão que deveria merecer exame e ser aproveitada, se não na íntegra, em parte. Lobato, preocupado com a prática de queimadas anuais nas terras cultivadas, inclusive na sua região no Vale do Paraíba, observou que, pela dimensão do Brasil, o controle ficava muito difícil. Estamos falando dos anos 20. E despretensiosamente chegou, no texto publicado, a sugerir que o controle deveria ser dos municípios, descentralizando a tarefa em todo território nacional. Realmente, se cada município tivesse os recursos e pessoal para fiscalizar, hoje com a consciência ecológica e ativismo, a ação do poder público poderia ser mais eficiente. E por se tratar da realidade social e econômica, também afastaria o uso radical e indevido, pois política ambiental não pode nem deve travar projetos de resgate da população excluída e sofrida,especialmente na pobre região amazónica. O assunto pede bom senso.
Monteiro Lobato, aliás, foi alvo de narrativas sem base na verdade. Nunca foi comunista, nem socialista, era nacionalista e a proximidade com os comunistas da época se deu pela questão do petróleo, que defendia ser explorado por empresas nacionais. Sua pregação era anterior à criação da Petrobras e do monopólio. Defendia empresas nacionais sem discriminar.
Na mesma época, o dr. Adhemar de Barros sofria veto eleitoral da igreja, pois, ao se candidatar ao governo paulista, teve o apoio dos comunistas e apoiou o candidato ao senado Candido Portinari. Aliás, foi Adhemar quem criou o município de Monteiro Lobato, no distrito de São José dos Campos, onde o escritor tinha sua fazenda. Nem um nem outro era comunista.
Incorporar os municípios no controle de crimes ambientais, sob fiscalização federal, pode ser uma maneira de garantir confiabilidade à nossa agricultura acossada por denúncias de irregularidades nem sempre verdadeiras.
Um gênio como Monteiro Lobato é imortal mesmo.