MT dividido, mas não multiplicado

Wilson Aquino*

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Wilson Aquino – Jornalista e Professor

A divisão do Estado de Mato Grosso em 1977, que deu origem ao Mato Grosso do Sul, completou 47 anos de história na semana passada, em 11 de outubro. Quase meio século de independência para ambas as regiões, e enquanto testemunhamos o progresso econômico, especialmente impulsionado pelo agronegócio, Mato Grosso do Sul ainda enfrenta desafios que já deveriam ter sido superados. O desenvolvimento parece descompassado, deixando muitas das suas promessas de melhores condições de vida apenas no papel.

Apesar dos esforços governamentais, a realidade cotidiana de milhares de sul-mato-grossenses é marcada pela pobreza, fome, desemprego e subemprego, tanto na capital quanto no interior. O saneamento básico, por exemplo, continua sendo uma utopia para grande parte das moradias urbanas em nossos 79 municípios. Como aceitar que, em pleno século XXI, famílias ainda convivam com a ausência de serviços essenciais, vivendo com salários que mal cobrem o básico para uma vida digna?

A educação, por sua vez, é outro gargalo que parece longe do ideal. É alarmante ver jovens concluírem o ensino médio – e até ingressarem na universidade – sem a capacidade de interpretar um texto simples. E isso não é um cenário raro. Muitos chegam ao fim dos cursos superiores sem uma formação sólida, o que reflete a ineficiência de um sistema que deveria ser o pilar do desenvolvimento de qualquer sociedade. Em vez de preparar nossos jovens para os desafios do futuro, nossas instituições muitas vezes os mantêm reféns de um modelo obsoleto, onde a educação de qualidade é exceção, e não a regra.

Além disso, os programas assistencialistas do Governo Federal, que deveriam ser uma ajuda temporária, acabam perpetuando um ciclo de dependência. As famílias, que deveriam ter a oportunidade de buscar novas fontes de renda e melhorar sua condição de vida, ficam estagnadas, dependentes de benefícios que não trazem verdadeira emancipação.

Diante de tanta riqueza natural, de terras férteis e de um povo trabalhador, o que falta para Mato Grosso do Sul – e o Brasil – deslanchar de vez? O que impede nosso país de alcançar o progresso que tantos outros já conquistaram? A resposta é simples, mas exigente: precisamos de uma visão estratégica e duradoura. Não podemos mais nos contentar com soluções paliativas que apenas apagam incêndios momentâneos.

A chave para o verdadeiro desenvolvimento está na educação, e não qualquer educação, mas uma educação de qualidade, focada no conhecimento real, na ciência, na tecnologia e na inovação. Países que hoje são referências mundiais em qualidade de vida e desenvolvimento só chegaram lá porque investiram seriamente em seu capital humano e na educação. Precisamos abandonar ideologias vazias que nada acrescentam, como temos visto na maioria das universidades públicas, especialmente federais, em todo o país e focar na preparação dos nossos jovens para os desafios globais. A educação é, sem dúvida, o caminho mais seguro para transformar a realidade de um país.

Neste aniversário de 47 anos de Mato Grosso do Sul, não podemos mais aceitar que o nosso potencial fique apenas nos discursos. Temos recursos, temos um povo trabalhador e uma terra de oportunidades. O que falta é transformar esse cenário com ações verdadeiras e eficazes. A fome e a miséria devem ser enfrentadas com políticas estruturantes, que ofereçam educação de qualidade, saúde eficiente e oportunidades reais de crescimento para todos. Chega de promessas vazias e soluções paliativas.

É hora de sonhar grande e agir ainda maior. O futuro de Mato Grosso do Sul precisa ser construído com coragem e determinação. A educação precisa ser a principal prioridade, formando cidadãos capazes de transformar a realidade ao seu redor, em vez de perpetuar ciclos de dependência e subdesenvolvimento. O progresso só será possível se investirmos nas pessoas, no conhecimento e na inovação. Temos exemplos ao redor do mundo de que isso é possível. Basta querer.

Amamos Mato Grosso do Sul, e por isso, não podemos nos contentar com menos. Nosso Estado merece mais, e nossa população merece viver com dignidade e oportunidades. Que este marco de 47 anos seja um ponto de virada, onde possamos olhar para trás e ver o quanto avançamos, mas, principalmente, olhar para frente e vislumbrar um futuro promissor. A mudança começa agora, e somos todos responsáveis por ela. Que a democracia, a liberdade e o progresso sejam os verdadeiros guias dessa jornada.

*Jornalista e Professor