Nas intenções de votos medidas pelas pesquisas realizadas até agora, há um consenso intrigante.  Os líderes de preferência são, também, campeões de rejeição. Lula é repelido por cerca de 40% dos consultados; já no outro extremo, 60% dos eleitores não querem Bolsonaro de jeito nenhum. Como os dois presidenciáveis são amplamente conhecidos, a margem de crescimento de ambos é extremamente apertada. Apesar disso, os nomes que vem tentando preencher esse vazio, não tem conseguido êxito.

Embora o ex-Governador Ciro Gomes apareça em 3º lugar nessa corrida, segue patinando, em vão, na busca de dois dígitos. É largamente conhecido, mas também enfrenta a barreira de 50% de rejeição. 

A constituição do “Centro Democrático” que uniu PMDB, PSDB e CIDADANIA” em torno da candidatura de Simone Tebet, provavelmente será a cartada decisiva para tirar do limbo esse expressivo contingente eleitoral que recusa os polos, desde que enxergue potencial na Senadora.

A parlamentar sul-matogrossense vem exercendo com brilho seu mandato, sendo que sua forte personalidade vem demarcando importante espaço de influência no Senado Federal. Na CPI da Covid ela fez enfrentamentos tão racionais e implacáveis quanto os mais audaciosos veteranos do Congresso.

Mais isso ainda não lhe deu a capilaridade de que precisa para tamanha peleia, o que a torna dependente de uma mídia bem eficiente para torná-la conhecida nacionalmente e difundir seus atributos.

Dotada de sólida formação jurídica, a parlamentar é egressa da Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde ingressou mediante vestibular aprovado aos 16 anos de idade. Não por acaso, foi a primeira mulher a presidir a emblemática Comissão de Constituição e Justiça em toda história do Senado da República.

Dona de curriculum que inclui experiência no cargo de Vice-Governadora, mandato de Deputada e duas vezes de Prefeita, além da bem sucedida atuação na mais alta Casa do Congresso Nacional, Simone Tebet é a antítese do populismo sectário que vem encarnando a disputa presidencial e tem custado caro à vida dos brasileiros. 

Sua condição de mulher resoluta, retórica descolada e robusto curriculum que inclui o magistério jurídico, influenciaram sua escolha. Contribuição decisiva, porém, foi sua baixa rejeição nas pesquisas eleitorais. O fato de ser pouco conhecida do grande público é um senhor desafio, cujo resultado dependerá do nível de engajamento das forças políticas que lhes dão apoio e das habilidades de sua mídia de campanha.

Na sua largada, está dando bons sinais. Adesões de grande peso da comunidade acadêmica e do mundo empresarial representam aval indispensável para influenciar eleitores exigentes e credenciar quem propõe exercer o governo.

Já são milhares os notáveis que declararam apoio e assinaram manifestos em favor da candidata da chamada “terceira via”.  Dentre eles aparecem Miguel Reale Junior, Arminio Fraga, Afonso Celso Pastore, Pedro Parente, Horacio Lafer Piva, Mailson da Nobrega, Ana Carla Abrão, Helio Zylberstajn, Elena Landau, Eliana Cardoso, Edmar Bacha, Claudio Frischtak, Roberto Macedo e Samuel Pessoa, David Zylbersztajn, Pedro Passos (Natura), Fabio Barbosa e tantas outras “cobras criadas”. É a convergência do PIB brasileiro com as inquietações população na busca de uma governança de resultados para substituir a retórica de beligerância que vem alimentando a intolerância e semeando a descrença.

Com o DNA político do pai que escreveu bela história na vida pública do país, Simone pode estar diante do desafio de pôr em prática as primorosas habilidades aprendidas com o saudoso Senador Ramez Tebet, notadamente a arte de dialogar e construir consensos.

Se a plêiade de agentes econômicos, da comunidade acadêmica e dos mais lúcidos políticos ampliarem o engajamento já iniciado, a possível de miragem dos descrentes poderá transformar-se na viabilidade dos que acreditam que é preciso mudar; e é possível mudar!

De qualquer forma, a escolha de Simone Tebet para liderar a “terceira via”, além de constituir relevante serviço à democracia brasileira em momento de tantas provações, coloca o Centro-Oeste brasileiro em situação privilegiada. Além de grande celeiro do Agro, pode passar a condição de artífice da reconstrução da economia e da civilidade política e da justiça social do país.   

Valter Pereira, advogado

Ex-Vereador, Deputado Estadual, Federal, Constituinte de 1988

Ex-Senador da República