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Opinião

O genial Carlos Lacerda

Aristóteles Drummond
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Relendo o Em Vez, livro de crônicas de Carlos Lacerda, saboreei três monumentais entrevistas que ele fez, com Magdalena Tagliaferro, um monstro do piano, Tom Jobim e, por fim, com o rei . O livro é de 1975, com dedicatória a mim.

 

Magdalena Tagliaferro foi uma pianista brasileira, nascida em Petrópolis e falecida no Rio, em 1986, aos 94 anos, de presença internacional. Morou muitos anos em , onde consolidou sua formação, aluna do notável pianista Alfred Cortot, que foi ministro da em Vichy. No , teve como aluno outro grande nome, Jacques Klein, na França conviveu com Ravel.

 

A conversa com Lacerda foi depois de uma apresentação no Rio, até às quatro da manhã, numa churrascaria, que ficou aberta em deferência ao ex-governador. Importante notar que ambos conversaram de igual para igual em termos de conhecimento de música. Magdalena tinha uma visão abrangente de tudo e, quando o ministro Gustavo Capanema a recebeu, quando ela veio da Paris ocupada, convidando-a “a formar pianistas no Brasil”, ela rapidamente respondeu que era preciso também formar público.

 

A segunda conversa-entrevista de Lacerda foi com o então jovem Tom Jobim. Esta foi  de muitas horas. Jobim disse que as suas maiores influências  foram Ary Barroso  e os poetas Carlos Drummond de Andrade e Raul de Leoni. 

 

Alcançou a fama muito jovem, depois de tocar em casas noturnas com sucesso crescente. Compôs compulsoriamente mais de 500 músicas. Mas seu primeiro choque com a vida real, com a influência nefasta da política ideológica em tudo, foi a vaia que recebeu de mais de 50 mil presentes no Festival da Canção, ao ganhar o primeiro lugar com Sabiá, uma de suas mais belas composições, passando a frente da Pra não dizer que não falei de flores, de Geraldo Vandré, que era uma música de protesto, contra o regime de então. Tom Jobim ficou chocado e disse que sua composição não era de levantar multidões, era para levantar corações. Daí em diante, apesar de seu reconhecido talento, da parceria com Vinicius de Morais, passou a sofrer restrições desta esquerda doente. Foi acusado de “americanista” e “vendido à máfia”, quando gravou com Frank Sinatra, que, em outro álbum, incluiu quatro de suas canções. 

 

A última conversa de Lacerda foi com o “rei” Roberto Carlos, naquela época também um jovem com menos de 30 anos e já com sucesso. Muito tímido e modesto, o cantor atribuía à boa crítica não falar mal de ninguém, não espezinhar nem muito menos humilhar. Negou-se – como até hoje – a falar de política, admitiu ser de centro ou centro direita. “Gosto de falar de amor”, acrescentou ao político.

 

O magistral Lacerda, a certa altura, afirma que todas as músicas se referem a ele na primeira pessoa – eu, eu, eu – e indaga o motivo. O cantor disse que ninguém nunca fizera esta observação e ouviu a avaliação freudiana de Lacerda de que quanto mais insegura a pessoa se sente, mais fala na primeira pessoa. Ele admitiu que poderia ser isso, mas que estava começando a se afirmar. Isso em 1974. Lacerda conclui que Roberto Carlos é uma pessoa boa, o que, talvez, seja mesmo a chave de seu ininterrupto sucesso há mais de meio século.

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