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Não resisto a dividir com os leitores, neste início de ano eleitoral, a delícia que foi aproveitar a semana de festejos suspensos pela pandemia para reler, por acaso, o delicioso livro “30 Anos de Reportagem”, do inesquecível jornalista Ibrahim Sued, que ele publicou em 1983, com a colaboração das irmãs Anna Maria Ramalho e Bebel Monteiro.
O Brasil daqueles tempos era diferente. Ibrahim foi testemunha e ator da história naquelas três décadas, até um pouco mais. Narra episódios a serem recordados.
Em referência ao presidente Marechal Castelo Branco, homem cioso de sua autoridade e, segundo Ibrahim, com controlada vaidade, conta que o criticava com frequência, nunca tendo sido patrulhado. Certo dia, Roberto Marinho o convida para um pequeno jantar no Cosme Velho para o presidente. Na ocasião, o presidente foi cordial com ele, trocou minutos de uma conversa amena. Na notícia, o repórter lembrava que nosso então presidente era um profundo conhecedor da obra de Anatole France. Que exemplo!!!
Noutra página, narra o jantar na casa do industrial Joaquim Guilherme da Silveira com Carlos Lacerda, para, autorizado pelo então candidato a presidente Arthur Costa e Silva, sondar sobre a receptividade de ele aceitar um convite para ser embaixador na ONU. Lacerda reagiu dizendo que não abriria mão da candidatura. Não percebeu que os eleitores eram outros… Ficou sem a Presidência, a embaixada e, depois, perdeu os direitos políticos. E era o Lacerda… Outro exemplo!
Ibrahim ficou ligado ao Costa e Silva e foi o autor da ideia de o chamar de “Seu Arthur”, para tornar menos formal o título de Marechal. A relação dos dois era anterior à Revolução, pois ambos gostavam das corridas no Jockey Clube.
Conta que entre as “curiosidades” que os militares encontraram nos governos passados, estava uma das quadras de Brasília, todas com 11 blocos. Mas a do INPI tinha dez, e verificou-se que o faltante foi cobrado.
Sobre o presidente Médici, recorda que o oficial já era o preferido do presidente Costa e Silva para a sua sucessão e que ele não queria. Com a doença e a morte do presidente, foi escolhido e só aceitou com plenos poderes e, na reunião com o alto comando militar, a todos surpreendeu escolhendo ali, na hora, o seu vice, que foi o Almirante Augusto Rademarker, um líder em sua geração na Marinha. Aliás, o almirantado não sabe o que levou o Presidente Bolsonaro a não restituir ao Pavilhão do Colégio Pedro II no Rio o nome do ilustre ex aluno, arrancado no governo Dilma.
Naquele tempo, havia um convívio saudável entre os jornalistas e o poder. Inclusive em Brasília, onde despontavam grandes nomes como Carlos Castelo Branco, Carlos Chagas, com acesso cordial aos governos, que, muitas vezes, faziam restrições.
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