A eleição de Robert Prevost como o novo Papa Leão 14, o primeiro papa norte-americano, nesta quinta-feira (8) deixou no ar uma questão: quando o Brasil terá seu primeiro pontífice? Apesar de nomes brasileiros serem frequentemente cogitados em conclaves, a história revela que o Brasil já esteve incrivelmente perto de liderar a Igreja Católica, através da figura do Cardeal Dom Aloísio Lorscheider.
Nascido no Rio Grande do Sul e então arcebispo de Fortaleza (CE), Dom Aloísio Lorscheider protagonizou um momento crucial no conclave de 1978, que elegeu João Paulo II. Segundo relatos do escritor e educador Frei Betto, que mantinha uma relação próxima com o cardeal, Lorscheider teria surpreendentemente alcançado a maioria qualificada de dois terços dos votos logo na primeira rodada de votação.
A revelação de Frei Betto à CBN lança luz sobre um episódio pouco conhecido, mas de grande significado para a história da Igreja no Brasil. De acordo com o escritor, a ascensão de Lorscheider ao papado foi interrompida por sua própria decisão. O cardeal havia passado recentemente por uma delicada cirurgia cardíaca, com a implantação de oito pontes de safena. Consciente de sua fragilidade de saúde e do recente falecimento de João Paulo I após um breve pontificado de apenas 33 dias, Dom Aloísio teria recusado o cargo.
“Dom Aloísio havia colocado oito pontes de safena recentemente e disse que não poderia aceitar a eleição, pois a Igreja não suportaria a perda de mais um papa em tão pouco tempo”, relatou Frei Betto, citando informações de um cardeal participante dos conclaves de 1978.
A força do nome de Dom Aloísio Lorscheider naquele conclave foi tamanha que transcendeu os muros do Vaticano, chegando a ser mencionada na cultura popular. No filme “O Poderoso Chefão: Parte 3”, durante a tensa cena da eleição papal (no contexto da trama, após a morte de João Paulo I), o cardeal brasileiro é citado como tendo recebido um voto, evidenciando o reconhecimento de sua influência no cenário eclesiástico da época.

Trajetória de Aloísio Lorscheider
Dom Aloísio Lorscheider, um frade franciscano, teve uma trajetória marcante na Igreja Católica brasileira. Ele liderou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), exercendo grande influência nas discussões e rumos da igreja no país. Sua nomeação como cardeal em 1976, aos 52 anos, já o colocava entre os nomes de destaque no cenário religioso internacional.
Além de sua atuação nos bastidores do Vaticano, a vida de Dom Aloísio foi marcada por um episódio dramático em 1994, quando foi sequestrado durante uma visita a um presídio no Ceará. A situação, que envolveu reféns e negociações tensas, terminou com a libertação de todos sem ferimentos.
No ano seguinte, fragilizado pela saúde e pelo trauma, Dom Aloísio solicitou e obteve transferência para a Arquidiocese de Aparecida, um centro de grande importância religiosa no Brasil. Ele renunciou ao cargo em 2000, mas permaneceu presente na comunidade até seu falecimento em 2007, aos 82 anos, vítima dos problemas cardíacos que o impediram de ascender ao papado quase três décadas antes.