Sínodo dos bispos termina sem novidades sobre ordenamento de mulheres e celibato dos padres

Papa Francisco afirmou que era “urgente” garantir uma maior participação das mulheres na Igreja

Ouvir Notícia Pausar Notícia
Compartilhar
Papa Francisco
Papa Francisco (Reprodução, Redes Sociais)

Ao fim da grande reunião dos bispos católicos, na tarde deste sábado, 28, o Papa Francisco afirmou que era “urgente” garantir uma maior participação das mulheres na Igreja e pediu que as pesquisas teológicas encomendadas sobre o acesso das mulheres ao diaconato estejam prontas dentro de um ano, quando será realizado um novo encontro.

Depois de um mês de debates a portas fechadas, chegou ao fim o encontro sobre o futuro da Igreja Católica, com a aprovação de um documento de 42 páginas. Cada parágrafo foi aprovado com pelo menos dois terços dos votos, mas aqueles que envolviam as mulheres e o celibato dos padres foram os que mais obtiveram votos negativos. Ainda assim, os organizadores consideraram o encontro um sucesso, uma vez que todos os parágrafos foram aprovados.

O documento ressalta a urgência de “garantir que as mulheres participem dos processos de tomada de decisão e assumam papéis de responsabilidade no cuidado pastoral e no ministério”. Os casos de discriminação no emprego e remuneração injusta também devem ser abordados, inclusive na Igreja, onde “as mulheres consagradas são frequentemente consideradas mão de obra barata”

O documento ressalta ainda o maior acesso das mulheres à educação teológica e aos programas de formação, incluindo a promoção do uso de linguagem mais inclusiva em textos litúrgicos e documentos da Igreja.

De acordo com o documento, as opiniões variam muito sobre o acesso das mulheres ao diaconato. Para alguns, é um passo “inaceitável”, “em descontinuidade com a Tradição”; para outros, restauraria uma prática da Igreja primitiva; outros ainda o veem como “uma resposta apropriada e necessária aos sinais dos tempos” para “renovar a vitalidade e a energia da Igreja”.

Há ainda aqueles que expressam “o temor de que esse pedido seja a expressão de um perigosa confusão antropológica, aceitando que a Igreja se alinhe com o espírito dos tempos”. Os padres e as mães do sínodo pediram a continuidade da “pesquisa teológica e pastoral sobre o acesso das mulheres ao diaconato”, usando resultados das comissões especialmente criadas pelo Papa e a pesquisa teológica, histórica e exegética já realizada: “se possível, os resultados devem ser apresentados na próxima sessão da assembleia”.

Celibato

Sobre a questão do celibato dos padres, o documento diz que os bispos “apreciam seu valor profético e o testemunho de conformação a Cristo; alguns se perguntam se sua adequação teológica com o ministério sacerdotal deve necessariamente se traduzir na Igreja latina em uma obrigação disciplinar, especialmente onde os contextos eclesiais e culturais o tornam mais difícil. Esse não é um tema novo, que precisa ser aprofundado”.

Organizadores e participantes tentaram conter as expectativas de que o documento trouxesse grandes mudanças, especialmente no que diz respeito a temas relacionados à doutrina, como a visão da Igreja sobre a homossexualidade. Para eles, o fato de ter colocado bispos em mesas redondas para debater com fieis comuns durante um mês foi a principal novidade do encontro.

Mas não há dúvidas de que o Sínodo da Sinodalidade, como foi chamado o encontro, gerou grandes expectativas. Progressistas esperavam que o encontro enviaria uma mensagem de que a Igreja seria mais acolhedora à população LGBTQIA+ e ofereceria às mulheres mais papéis de liderança na hierarquia da instituição.

Conservadores, por sua vez, enfatizaram a necessidade de se manterem fiéis à tradição de dois mil anos e alertaram que a abertura do debate sobre tais temas seria similar à da caixa de Pandora e poderia levar até mesmo a uma ruptura na Igreja.

Novas discussões

Uma outra sessão do sínodo está marcada para outubro do ano que vem, quando recomendações finais serão apresentadas ao Papa Francisco para suas considerações.

O sínodo foi convocado pelo Papa como parte de seus esforços para transformar a Igreja numa instituição mais acolhedora. Em sua visão de uma Igreja mais sinodal, os fieis são ouvidos e acompanhados, não apenas alvos da pregação religiosa feita por padres inatingíveis. Pela primeira vez, ele permitiu que mulheres e fiéis em geral votassem junto com os bispos, colocando em prática a sua crença de que o “povo de Deus” é mais importante do que os pregadores e precisam ter mais voz nas decisões da Igreja.

Conteúdos relacionados