O Parlamento iraquiano exigiu, neste domingo (5), ao governo a expulsão das tropas americanas no país, onde uma facção pró- pediu aos soldados iraquianos que se afastassem das bases onde as forças americanas estão localizadas, aumentando o temor de mais violência.

Desde o assassinato na sexta-feira (3) em um ataque americano de Qassem Soleimani, arquiteto da estratégia iraniana no Oriente Médio, e de Abu Mehdi al-Mouhandis, número dois da Hashd al-Shaabi, uma coalizão paramilitar pró-Irã integrada às forças de segurança, o mundo inteiro teme uma nova guerra.

De um lado, Teerã clama “vingança” e ameaça com uma resposta “militar”. Por sua vez, o presidente americano Donald Trump ameaça destruir 52 alvos iranianos.

O assassinato de Soleimani e Mouhandis criou um raro consenso contra os Estados Unidos no , um país abalado por meses de revolta, em particular contra a influência do Irã.

No Parlamento, na ausência dos deputados curdos e da maioria dos deputados sunitas, muitos legisladores gritaram “Não à América!”.

O primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi denunciou “um assassinato político” de Soleimani e Mouhandis, o que deixa apenas duas opções: “mandar que as tropas estrangeiras partam imediatamente ou rever seu mandato por um processo parlamentar”.

O chefe do Parlamento, Mohammed al-Halboussi, leu então uma decisão que “obriga o governo a preservar a soberania do país, retirando seu pedido de ajuda” dirigido à comunidade internacional para combater o grupo (EI) – e, portanto, retirar seu convite à coalizão internacional.

Em meio a uma grande confusão, enquanto que entre os 168 deputados presentes – dos 329 – alguns exigiam uma votação, Halboussi anunciou: “decisão adotada!”, antes de se retirar.

As Brigadas do Hezbollah, a facção mais radical da Hashd, pediram no sábado aos soldados iraquianos que se afastassem “pelo menos 1.000 metros” dos locais onde os soldados americanos estão presentes neste domingo, o que implica que esses locais podem ser alvos de ataques.

Uma ameaça que o secretário de Estado americano Mike Pompeo levou a sério o suficiente para denunciar no Twitter um apelo lançado por “bandidos”.

O movimento xiita libanês Hezbollah, cujos homens lutam ao lado do regime sírio e de seu aliado iraniano, pediu ao Iraque que se libertasse da “ocupação” dos Estados Unidos e disse que o Exército americano “pagaria o preço” pelo assassinato de Soleimani.

Sábado à noite, após enormes manifestações em várias cidades do Iraque em homenagem a Soleimani, foguetes caíram na Zona Verde de Bagdá, onde está localizada a embaixada americana, e numa base aérea que abriga soldados americanos.

A coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos anunciou a suspensão do treinamento das forças iraquianas e a luta contra o EI, porque está “agora totalmente dedicada a proteger as bases iraquianas que hospedam suas tropas”.

Washington já havia anunciado recentemente o envio de 3.000 a 3.500 soldados adicionais à região. Neste contexto, Bagdá convocou o embaixador americano para denunciar “violações da soberania do Iraque” por “operações militares ilegítimas (…) que podem levar a uma escalada de tensões na região”.

Também anunciou que havia apresentado uma queixa ao Conselho de Segurança da ONU contra “ataques americanos a bases iraquianas” e “contra o assassinato de comandantes militares iraquianos e amigos”.

As mortes de Soleimani e Mouhandis despertaram imensa comoção no Iraque e no Irã. Neste domingo, uma maré humana desfilou no Irã em Ahvaz (sudoeste), Zanjan (nordeste) e Machhad (nordeste), onde o caixão de Soleimani acaba de chegar, aos gritos de “Morte à América”.

Após a ameaça de Donald Trump de atingir 52 alvos iranianos, Pompeo afirmou neste domingo que os Estados Unidos respeitariam a “lei internacional”, mas o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, alertou que atacar sítios culturais é “um crime de guerra”.

O Irã também disse duvidar da “coragem” dos americanos em cumprir sua ameaça e respondeu que estava acelerando o processo para reduzir seus compromissos nucleares internacionais “dada a situação”.