O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, foi reeleito para mais 6 anos de mandato após um dia de votação que teve horário ampliado, denúncias de fraude, tentativa de boicote da oposição e falta de reconhecimento por grande parte da comunidade internacional.

Segundo o Conselho Nacional Eleitoral, Nicolás Maduro foi reeleito com 5.823.728 votos. Até as 23h30 deste domingo (20), os votos de 96,6% das urnas haviam sido apurados.

Pouco antes do anúncio do resultados da eleição, o candidato de oposição Henri Falcón declarou que não reconheceria o processo eleitoral deste domingo e exigiu a convocação de novas eleições.

Desde 2013, quando assumiu o governo, a Venezuela sofreu ondas de protestos violentos, que deixaram cerca de 200 mortos, e uma derrocada socioeconômica.

Seus adversários o acusam de empurrar o país para o abismo com medidas econômicas disparatadas, de submeter o povo à fome e de ser um “ditador”, sustentado por militares.

No entanto, ele diz ser um “presidente democrático” e “vítima” dos Estados Unidos e a “guerra econômica da direita”, à qual culpa pela hiperinflação e falta de comida.

Veja como foi o processo eleitoral desta vez:

Votação nos acréscimos

As cerca de 14,5 mil urnas deveria ser fechadas oficialmente às 18h (19h de Brasília), mas diversos colégios eleitorais continuaram abertos por horas depois do prazo.

Maduro havia indicado mais cedo que os locais de votação continuariam a atender as pessoas que estavam na fila, para “garantir o direito” ao sufrágio, mas colégios sem filas também seguiram abertos aguardando um sinal de Caracas.

Abstenções

Cerca de 20,5 milhões de eleitores estavam registrados para votar, mas o comparecimento foi de 32% (até as 18h), segundo fontes do governo, o que significaria aproximadamente pouco mais de 6 milhões.

No fim do dia, Maduro ainda ordenou ao partido do governo que fornecesse meios de transporte para sua militância para se deslocar às urnas, após relatos sobre baixa participação. O voto não é obrigatório no país.

Denúncias de fraude

Agências internacionais e membros da oposição apontaram irregularidades nos chamados “pontos vermelhos”, barracas instalados pelo partido de Maduro, com objetivo de checar quem votou por meio do “carnê da pátria” – usado para ter acesso aos programas sociais do governo.

Durante a campanha, Maduro chegou a prometer “prêmios” para quem participar da eleição. Não há informação oficial, mas testemunhas afirmaram que o prêmio seria de 10 milhões de bolívares – cerca de US$ 13 no mercado paralelo.

O ex-pastor evangélico Javier Bertucci, que concorreu contra Maduro, afirmou ter recebido mais de 1.400 denúncias de irregularidades, todas elas documentadas.

Desconfiança internacional

Estados Unidos, Canadá, União Europeia (UE) e vários países latino-americanos afirmam que a eleição não é justa, nem transparente, e acusam Maduro de sufocar a democracia.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, classificou as eleições na Venezuela como “fraudulentas” e disse que elas “não mudam nada” no cenário do país.

Os EUA anteciparam há um mês que não reconheceriam o resultado do pleito de hoje como estava sendo preparado, e o vice-presidente do país, Mike Pence, pediu recentemente que Maduro suspendesse as eleições, consideradas “falsas”.

Boicote da oposição

A coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD) se recusou a participar por considerar o processo uma “fraude” para perpetuar Maduro no poder. Mas o ex-chavista Henri Falcón ignorou a determinação e foi o principal rival do presidente nas urnas.

Os dois maiores rivais de oposição já estavam impedidos de concorrer: Leopoldo Lopez está em prisão domiciliar e Henrique Capriles está impedido de se candidatar a qualquer cargo por um período de 15 anos.

Depois de votar em uma escola da zona oeste de Caracas, Maduro advertiu que “a vontade do povo venezuelano será respeitada aqui e no mundo”. Também pediu o fim da “feroz campanha” dos Estados Unidos e de vários países contra seu governo.

Clima

Tirando todo o debate político, a sensação nas ruas é de apatia: o cenário de apagões, falta de comida, remédios, transporte e água, hiperinflação, com um salário mínimo que permite a compra de um quilo de leite em pó, provocou uma emigração em massa nos últimos quatro anos.

Maduro, no entanto, promete prosperidade. “A economia que existe hoje não nos serve porque foi infectada de neoliberalismo”, disse o governante, que alega não ser um “novato” como em 2013.

Apesar da reprovação de 75% dos venezuelanos a sua gestão, Maduro se beneficia dos eleitores leais ao falecido Hugo Chávez (que foi presidente de 1999 a 2013) e da dependência de setores populares de programas sociais e clientelistas.

Protestos

Em várias cidades ao redor do mundo, venezuelanos convocaram protestos contra as eleições. Muitos culpam o governo socialista pelo colapso, enquanto Maduro atribui a situação a uma “guerra econômica” da oposição de direita aliada a Washington.

Neste domingo, o papa Francisco rezou pela Venezuela: “Peço ao Espírito Santo que dê a todo o povo venezuelano, a todos, governantes, povo, a sabedoria para encontrar o caminho da paz e da unidade”.

Fronteira fechada com Brasil

A fronteira com o Brasil foi fechada ainda no sábado, para “resguardar a soberania territorial” da Venezuela e para que as Forças Armadas controlem todo território nacional, segundo explicou o cônsul-adjunto da Venezuela em Roraima, José Martí Uriana.

A medida fez com que venezuelanos procurassem rotas clandestinas para comprar mantimentos no Brasil.