“Lógica desequilibrada de intrigas”

​O Papa Francisco atacou “os traidores” dentro da Cúria Romana, sua “lógica desequilibrada de intrigas”, bem como sua “ambição e vaidade”, em uma severa repreensão nesta quinta-feira durante seu tradicional discurso de Natal.

'Reformar Roma é como limpar esfinge com escova de dentes', diz Papa

— Fazer as reformas em Roma é como limpar a esfinge do Egito com uma escova de dentes — comparou o Papa argentino.

Francisco, que em março comemora cinco anos de pontificado, admitiu as enormes dificuldades que vem encontrando para reformar a instituição milenar diante dos cardeais, bispos e funcionários da Santa Sé.

— A Cúria é uma instituição antiga, complexa e venerável, composta de homens que vêm de culturas, línguas e mentalidades muito diferentes. É preciso muita paciência, dedicação e delicadeza para alcançar esse objetivo (as reformas) — afirmou o Pontífice, que foi eleito após a renúncia histórica de Bento XVI, dominado por ataques e escândalos sexuais e financeiros dentro da Cúria.

Francisco não poupou críticas aos inimigos de suas reformas, entre eles os setores mais conservadores liderados pelo cardeal alemão Gerhard Müller, substituído, há seis meses, do seu cargo de prefeito da Congregação para Doutrina da Fé.

— Deixe-me dizer duas palavras sobre outro perigo, que é o dos traidores da confiança. Eles foram cuidadosamente selecionados para dar maior força ao corpo e à reforma, mas, ao não entender a importância de suas responsabilidades, são corrompidos pela ambição ou pela vaidade. E quando são colocados contra a parede, se autodeclaram mártires do sistema, do “Papa desinformado”, da “velha guarda”… em vez de declararem “mea culpa” — disse o Papa, em clara alusão a Müller.

 

Esta não se trata da primeira reprimenda dada por Francisco ao governo central da Igreja. No início de seu pontificado, em 2013, ele chegou a enumerar as “15 doenças” que afetam a instituição, entre elas a rivalidade, a hipocrisia e a busca de benefícios mundanos.

 

Nesta quinta-feira, o Papa, que passou a maior parte de sua carreira eclesiástica na Argentina e não fazia parte da Cúria Romana antes de ser eleito figura principal da Igreja Católica, lamentou novamente “o câncer” que corrói a entidade: o fato de muitos líderes da Cúria permanecerem “fechados em si mesmos” e não estarem conectados com a realidade do mundo.

 

Francisco detacou que, ainda assim, existe “uma imensa maioria de pessoas fiéis que tranbalham com admirável compromisso, fidelidade, competência, dedicação e também com santidade”.