Mais de 3 mil mulheres estão em poder do ISIS 

A BBC Americana divulgou nesta sexta-feira (27) uma reportagem sobre o documentário “Guns, Girls and ISIS” (“Armas, garotas e ”, em tradução literal) da BBC Three, o canal digital de TV por assinatura da BBC (não disponível no Brasil), que foi exibido por lá há alguns dias. Nele, a cineasta Stacey Dooley passou duas semanas acompanhando um batalhão formado por mulheres que já foram escravizadas, estupradas e massacradas pelas forças do grupo que se autodenomina Estado Islâmico. “Você sabia que os militantes do grupo autodenominado Estado Islâmico (EI) acreditam que não irão para o paraíso se forem mortos por uma mulher?”, disse a capitã Khatoon Khider à cineasta, sorrindo ironicamente. 

Ela era cantora, mas agora comanda um batalhão feminino de ex-prisioneiras do EI. “Vamos matar milhares de soldados do EI e impedir que eles entrem no paraíso”, diz. A religião dos yazidis – minoria de origem curda – proíbe violência, mas depois que o Estado Islâmico atacou a aldeia de Khider, três anos atrás, tudo mudou. Milhares de pessoas morreram e milhares de crianças e mulheres foram vendidas ao ISIS como escravas sexuais, após vários massacres, incluindo o da cidade de Sinjar, no norte do país. 

Segundo estimativas das Nações Unidas, entre 5 mil e 7 mil yazidis morreram e outros 5 mil foram sequestrados, sobretudo mulheres. Algumas foram resgatadas, mas calcula-se que 3,5 mil mulheres e meninas yazidis ainda estejam em poder do Estado Islâmico. A capitã Khider e as meninas do seu batalhão são sobreviventes de um dos piores crimes de guerra da história mundial recente.

“Nunca quisemos fazer mal a ninguém”, diz Khider. “Mas agora não temos outra escolha a não ser matá-los”. As garotas do batalhão são jovens, a maioria tem 20 anos. É chocante imaginar que várias delas foram estupradas, espancadas e sofreram abusos diários como escravas sexuais. Conforme mostra a cineasta, Nadiya, de 17 anos, é uma delas. “Vi as meninas deste exército e quis ser forte como elas”, ela me contou no campo de treinamento.

As vítimas contaram ter visto as mães serem assassinadas, bebês serem mutilados, meninas de apenas 9 anos serem estupradas e falaram sobre as amigas que perderam, porque cometeram suicídio para escapar.
Algumas ficaram tão traumatizadas que mal conseguem falar sobre o que passaram. “Eu queria voltar no tempo. Fico dizendo para mim mesma que se isso tivesse começado um ano antes do EI atacar Sinjar, nunca teríamos deixado que eles nos dominassem”, disse Khider. “Entrei para o exército porque não posso mais ser cantora sabendo que nossas mulheres e meninas são prisioneiras do EI. Quando eu puder vê-las voltando para nós, nesse dia eu vou cantar, usando este mesmo uniforme”.