Biohacker tenta alterar o próprio DNA em atitude polêmica

Em São Francisco, na Califórnia

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Em São Francisco, na Califórnia

O desenvolvimento de ferramentas de edição genética capazes de propiciar a manipulação do DNA de organismos vivos de forma relativamente mais simples e barata tem sido apontado como uma revolução na ciência. Mas com elas cresce a preocupação entre os cientistas sobre os riscos e o dilema ético da aplicação dessas técnicas para alterar o genoma humano. Em outubro deste ano, a ferramenta CRISPR/Cas9 foi injetada pela primeira vez num ser humano. E o experimento que pode abrir portas para o tratamento de inúmeras doenças não aconteceu num laboratório multimilionário ou numa universidade de ponta. Foi num pequeno auditório da conferência SynBioBeta, em São Francisco, na Califórnia. Entre um gole e outro de uísque, Josiah Zayner, conhecido como um biohacker, simplesmente pegou uma seringa e aplicou em seu braço. Os resultados da injeção serão avaliados nos próximos meses.Biohacker tenta alterar o próprio DNA em atitude polêmica

— Isso vai modificar os meus genes para me dar mais músculos — disse Zayner, um ex-funcionário da Nasa de 36 anos, com doutorado em bioquímica e biofísica pela Universidade de Chicago, diante dos cerca de 30 curiosos que lotavam a sala. — Não dói muito. Eu não sei porque as pessoas não tentam.

É exatamente isso que Zayner pretende: popularizar uma tecnologia de ponta capaz de modificar o DNA de organismos. No campo acadêmico, a ferramenta se tornou amplamente utilizada não apenas pela sua eficiência, mas também pela simplicidade e baixo custo. Pensando nisso, Zayner lançou há dois anos uma campanha de financiamento coletivo para montar uma companhia especializada no comércio de insumos e equipamentos relacionados à biotecnologia, a Odin. Pela internet, ele vende kits para que qualquer pessoa, mesmo com pouco conhecimento, possa fazer experiências com a CRISPR/Cas9 em casa.

Por US$ 159 a Odin vende um pacote com todas as ferramentas e insumos necessários para alterar o DNA de bactérias E. coli ou para inserir um gene da água-viva em leveduras para fazer pães e cervejas fluorescentes. No experimento que realizou em si mesmo, Zayner aplicou um plasmídeo para desligar o gene responsável pela produção da miostatina, proteína que limita o crescimento dos músculos. A sequência de DNA para este fim é vendida por apenas US$ 20 pela Odin.