Miguel Ángel Jiménez Blanco foi baleado na cabeça

O ativista que liderava as buscas por estudantes desaparecidos no foi encontrado na noite de sábado morto com um tiro na cabeça.

Miguel Ángel Jiménez Blanco estava à frente dos esforços para encontrar 43 alunos de uma escola rural do Estado de Guerrero, no sudoeste do país. Os jovens desapareceram em 26 de setembro do ano passado.

O corpo de Jiménez Blanco foi encontrado no banco do motorista de um táxi.

Segundo os promotores estaduais de Guerrero, o veículo estava “parado na estrada que liga a Cidade do México ao porto turístico de Acapulco, na altura da cidade de Xaltianguis”.

O comitê de busca “Los otros desaparecidos de Iguala (Os outros desaparecidos de Iguala)”, publicou em sua página no Facebook uma homenagem emocionada a Jiménez Blanco.

“Que Deus o tenha em sua glória, e força à sua família. E que a semente que ele semeou naqueles que procuram seus familiares não fique paralisada pelo medo”.

‘Cemitério de Iguala’
O desaparecimento dos 43 estudantes da escola rural de Ayotzinapa, na cidade de Iguala, chamou atenção para milhares de casos de pessoas desaparecidas no Estado arrasado pela violência do crime organizado.

Em entrevista à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, em dezembro do ano passado, Jiménez Blanco afirmou que as colinas ao redor de Iguala são um “cemitério”.

Indignado com a suposta morosidade das autoridades, Jiménez Blanco percorria regularmente as colinas de Guerrero escavando o solo em busca de corpos e pistas.

Além disso, ajudou a criar o grupo “Los otros desaparecidos de Iguala”, formado principalmente por mulheres que se reúnem todos os domingos para procurar parentes desaparecidos.

Desde o início de suas atividades, o grupo encontrou 129 corpos, entregues às autoridades para identificação.

Jiménez Blanco chegou a afirmar que, após o caso Ayotzinapa, 300 famílias vieram a público dizer que tinham parentes desaparecidos.

Na ocasião, David Cienfuegos, secretário do governo do Estado de Guerrero, afirmou à BBC que muitas famílias permaneceram em silêncio durante décadas por medo de represálias.

“Muitos crimes relacionados ao desaparecimento de pessoas precisam ser denunciados para que a polícia possa abrir inquéritos”.

“Na última década, em Guerrero, o número de denúncias foi muito pequeno, pois as famílias estão assustadas. Elas temem que a própria polícia esteja envolvida nos desaparecimentos”, afirmou à época Cienfuegos.

Inspiração
Em entrevista ao jornal americano Los Angeles Times, um dos amigos de Jiménez Blanco, Mario Vergara, cujo irmão desapareceu no ano passado, disse que “o ativista inspirou centenas de famílias”.

“Ele nos ensinou como procurar e como insistir, e todos os dias nos dava força para continuar”.

Os pais dos 43 estudantes desaparecidos e muitos outros mexicanos rejeitam a versão oficial sobre o episódio.

O governo do presidente Enrique Peña Nieto alega que os estudantes foram mortos por criminosos que agiam sob as ordens de policiais locais corruptos.

De acordo com a versão, os corpos teriam sido queimados e jogados em um rio, mas até agora apenas um único estudante foi identificado.

Grupo de autodefesa
Jiménez Blanco, que em 2013 fundou em Xaltianguis um grupo de autodefesa contra o achaque de traficantes de drogas, “pertencia à organização Upoeg (União dos Povos e Organizações de Guerrero, Upoeg) da polícia comunitária”, afirmou a promotoria.

O Upoeg surgiu em janeiro de 2013 como grupo de autodefesa para enfrentar traficantes de drogas, uma iniciativa que foi replicada no estado vizinho de Michoacán.

A província é reduto do cartel Los Caballeros Templarios, acusado de extorsão, seqüestro e assassinato de pessoas.

Após a prisão e a morte dos chefes do grupo, que também operava em Guerrero, o governo mexicano resolveu dissolver os grupos de autodefesa em maio de 2014 e seus membros passaram a fazer parte de uma força oficial da polícia rural.

Estima-se que mais de 20 mil pessoas se encontram desaparecidas no México.