Após DIU de influenciadora deslocar e machucar parceiro, ginecologista esclarece segurança do método

Um caso inusitado viralizou nas redes sociais após uma influenciada relatar que seu parceiro teve o pênis “decepado” devido ao deslocamento de seu DIU (Dispositivo Intrauterino) durante a relação sexual. A história compartilhada pela influenciadora levantou questionamentos sobre a segurança e eficácia do DIU como método contraceptivo.

No relato compartilhado para 1,2 milhões de seguidores, a influenciadora Hayley Davies, de 25 anos, conta que durante o ato sexual, seu parceiro sofreu uma lesão no pênis ao “acertar” o dispositivo intrauterino, o que resultou na perda de um pequeno pedaço do órgão.

Segundo o relato, Hayley percebeu que algo estava errado, pois sentia dor constante durante o sexo. “Mais tarde, no banho, percebi o quanto a dor era intensa”, relembrou a norte-americana. Conforme o Metrópoles, ao examinar os órgãos genitais do parceiro, ela notou que um pedaço de tecido havia sido “arrancado”.

‘É impossível isso ter acontecido da forma narrada’

Para entender o caso e desmistificar possíveis falácias sobre o método contraceptivo, o Jornal Midiamax consultou a médica ginecologista Ana Helena Mattos, que trouxe uma explicação sobre ocorrido.

Com 30 anos de experiência na área, a médica esclareceu que o relato contém diversos equívocos, o que pode contribuir para a divulgação de informações falsas sobre o DIU. “É impossível isso ter acontecido da forma narrada”, afirma.

Antes de tudo, a especialista ressalta que é preciso entender como o DIU age no corpo das pacientes. A médica explica que existem dois tipos de dispositivos intrauterinos, o de cobre e o hormonal.

“O DIU é um método contraceptivo de longa duração. A versão hormonal, além da contracepção, regula o fluxo menstrual sem cair na circulação sanguínea. Já os que possuem metais, como cobre ou prata, evitam a gravidez, mas não contêm hormônios”.

Segundo a médica, a eficácia do DIU é compatível com a laqueadura, com menos de 1% de taxa de falha. Essa taxa é menor que a de outros métodos como a camisinha (13%) e a pílula anticoncepcional (7%).

“O DIU é um método mais seguro estatisticamente do que camisinha e pílula anticoncepcional, por isso, constitui um método excelente para uso como contracepção”.

Informações falsas alimentam falácias sobre o DIU

Em uma das reportagens publicadas por um jornal de grande visibilidade nacional, o DIU é descrito como um método abortivo, com a justificativa de que “ao liberar cobre ou hormônios, o DIU dificulta a fertilização do óvulo pelo espermatozoide”. Contudo, a ginecologista destaca que essa é uma das maiores falácias sobre o método.

“Dizer que o dispositivo interrompe a gravidez é um equívoco. Trata-se de um dispositivo colocado no útero que impede a fecundação e, portanto, previne a gravidez. Não é um método abortivo”, explica.

‘Deslocamentos são raros’

Sobre o caso relatado pela influenciadora, a médica esclarece que o deslocamento do DIU é algo raro. Além disso, tanto o modelo hormonal quanto o de cobre são compostos de materiais não cortantes.

“Existe uma pequena porcentagem de DIUs que podem deslocar, mas o dispositivo é feito de um material flexível, não de ferro, aço ou outros materiais cortantes. Ele é composto de plástico, com um fio fino de cobre ou prata e extremidades arredondadas”, explica Ana.

A ginecologista acrescenta que, quando o DIU se desloca, a paciente geralmente sente cólicas, pois o corpo tenta expulsá-lo. Nesses casos, a recomendação é procurar um médico.

“Durante a relação sexual, pode ocorrer do fio ou uma extremidade do DIU ficar exposta e o parceiro sentir no pênis. Isso pode causar uma pequena lesão, como um esfolado, mas trata-se de uma situação bastante rara”, afirmou.

Conforme a médica, a propagação de informações parciais ou equivocadas é preocupante, pois pode levar a mal-entendidos e equívocos.

“Essa paciente fez uma ultrassonografia para confirmar a posição do DIU? Ela tem ido regularmente ao ginecologista para monitorar a posição do dispositivo, sua saúde sexual e prevenir ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis)? Trata-se de um relato sensacionalista, contado de forma equivocada”, destaca.

DIU está disponível na rede pública

O DIU de cobre é o mais procurado pelos pacientes em Campo Grande por se tratar de um método eficaz e de longa duração. Conforme a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), todas as mulheres, desde a adolescência até a menopausa, com vida sexual ativa, podem realizar o implante de DIU. Contudo, a colocação só ocorre mediante a avaliação clínica e realização do planejamento familiar.

Gerente-técnica do Programa de Saúde da Mulher da Sesau, Karine Jarcem, explica que o Planejamento Familiar está disponível nas 74 unidades de saúde de Campo Grande.

“O DIU tem um prazo de validade de dez anos e hoje é o meu maior estoque na Rede, por isso consigo cobrir a demanda de pacientes. Em Campo Grande, 23 unidades ofertam o método e nossa proposta é ampliar ainda mais esse acesso”, explicou em entrevista ao Midiamax no ano passado.

Já o planejamento familiar consiste em uma palestra onde os pacientes recebem informações sobre os métodos disponíveis pelo SUS, como camisinha, pílula, hormônios injetáveis, DIU de cobre e Mirena. Além da Laqueadura e Vasectomia para quem opta por métodos definitivos.

Métodos temporários

Além do DIU, o SUS disponibiliza diversos métodos contraceptivos temporários. A escolha do método varia conforme a preferência e a condição de saúde de cada paciente:

• Anticoncepcional injetável mensal;
• Anticoncepcional injetável trimestral;
• Minipílula;
• Pílula combinada;
• Diafragma;
• Pílula anticoncepcional de emergência (ou pílula do dia seguinte);
• Preservativo feminino;
• Preservativo masculino;
• DIU.

Por meio do endereço https://campograndems é possível localizar a unidade de saúde mais próxima da sua casa.

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