Em maio, deu a louca na Record TV. A emissora de Edir Macedo anunciou repentinamente, do dia para a noite, duas reprises de uma só vez para sua grade vespertina.
“Os Dez Mandamentos” era o grande destaque e ganhou até chamada, sendo anunciada para o dia 17 do mesmo mês, abrindo um novo horário de novelas no período da tarde. Entretanto, três dias após o anúncio, a Record TV voltou atrás e decidiu que a trama bíblica só voltaria em junho, após o fim de “Belaventura”, e que “Prova de Amor” seria o folhetim a inaugurar a “nova” faixa.
Antes disso, “Prova de Amor” era a escolhida para substituir “Belaventura” este mês. Com a reviravolta, antecipação de uma e adiamento da outra, “Os Dez Mandamentos” deveria estrear nesta terça-feira (01), já que a novela medieval terminou na tarde de ontem (31), mas a Record TV desistiu da reprise, sem maiores esclarecimentos ou explicações, depois de ter, inclusive, veiculado uma chamada na televisão.
Bolsonaro seria o motivo?
Pouca gente se lembrou que, apesar de anunciada pela Record, “Os Dez Mandamentos” já está em exibição diária pelo canal do Governo TV Brasil. Nenhum veículo da imprensa associou a reprise da emissora com a compra recente de Bolsonaro pela trama.
Aliada ao Governo, a Record TV vendeu “Os Dez Mandamentos” para a TV Brasil por R$ 3,2 milhões, custo publicado no Diário Oficial da União para a aquisição do licenciamento da novela bíblica, que estreou no dia 5 de abril no canal também da TV aberta.
Fazendo enorme sucesso e impulsionando a audiência da emissora estatal, a trama deixou a Record com os olhos brilhando, e os resultados para a TV Brasil podem ter contribuído para a decisão de escalar a volta do folhetim.
Rasteira e investimento milionário jogado no lixo
Mas depois de vendê-lo por mais de 3 milhões de reais ao presidente, exibir uma reprise logo depois que Bolsonaro desembolsou uma quantia milionária para colocá-la em seu canal soaria como uma afronta, uma rasteira à maior autoridade do país e parceira da emissora.
Demorou menos de um mês para a Record anunciar que também exibiria “Os Dez Mandamentos”. A novela começou em 5 de abril no canal do presidente e foi anunciada por sua emissora original em 3 de maio. Quase nenhum espaço de tempo entre as negociações.

Esse fato deve ter pesado na decisão da Record TV de cancelar e sequer comentar o cancelamento da reapresentação. Favoreceu ao canal o fato da imprensa ter se esquecido rapidamente da recente venda da obra para Bolsonaro.
A TV Brasil tem comemorado o desempenho de “Os Dez Mandamentos”. Na semana passada, o folhetim levou a emissora ao quinto lugar no ranking das audiências. Se a Record tivesse sustentado sua reprise, prejudicaria e muito o canal dp Governo, já que a novela seria exibida em dois canais da TV aberta ao mesmo tempo. Não no mesmo horário, mas em períodos simultâneos.

Com maior visibilidade, não sobraria chance para a TV Brasil se destacar e tirar algum proveito de sua aquisição nada barata. É possível que o cancelamento na Record TV venha justamente daí: do medo de ficar mal com Bolsonaro e jogar no lixo seu investimento milionário com a novela.
