A qualidade não está em discussão, mas sim a densidade. Escolher um folhetim essencialmente melancólico, cheio de injustiças e angústias da vida não parece uma boa decisão diante da crise de saúde que assola o mundo.

Eleita pela popularidade com o público de e pelo elogio da crítica, “A Vida da Gente” é uma quase hospitalar, de muito sofrimento, principalmente na primeira parte, que termina por volta do capítulo 70.

Nesta quarta-feira (17), a trama passa por uma virada quando a protagonista sofre um grave acidente e fica em coma quase 40 capítulos. Cheia de esperanças por um recomeço, a vida de Ana (Fernanda Vasconcellos) é interrompida e todos a sua volta passam a sofrer.

Realista ao extremo, “A Vida da Gente” não convida o telespectador a sonhar, ela apresenta uma realidade dura e crua dos fatos, sem florir ou abrir uma brecha para a fantasia.

Em um momento tão dramático e cruel para a humanidade, propor ao telespectador um folhetim angustiante, que mata sonhos e ceifa esperanças (pelo menos na fase inicial) é quase desumano.

É o público que escolhe o que vai assistir e, definitivamente, o telespectador não se sentiu atraído pelos dramas da novela das seis nos primeiros 13 capítulos, os mais alegres e menos densos. Que dirá a partir de agora, quando a tragédia toma conta da trama.

Não há questionamentos quanto à qualidade do roteiro e seu desenvolvimento. A proposta da autora Lícia Manzo é de fato ser realista, e talvez tudo que o público não queira nesse momento é sentar na frente da para assistir a essa realidade cruel.

A preferência pela fantasia como um escape dos dramas diários da vida aparece nos números de “Haja Coração”. Cômica, alegre e bizarra, a novela das sete oferece tudo que o telespectador busca para se desligar da realidade. Isso se reflete em uma audiência alta e satisfatória, enquanto “A Vida da Gente” patina no Ibope.